Folha de S. Paulo
Ex-presidente exerceu liderança direta, tomou
decisões e deu voz de comando para execução de pontos críticos da conspiração
O indiciamento de Jair
Bolsonaro, ex-ministros e generais atinge em cheio o alto
comando da trama golpista. As investigações reuniram provas de uma ação
orquestrada, articulada dentro do
Palácio da Alvorada, com a participação direta do então presidente.
Mais do que isso: sobram elementos para enquadrar o capitão como chefe da
conspiração.
As provas colhidas pela Polícia Federal apontam que Bolsonaro exercia o papel de líder da tentativa de golpe. Ele foi responsável por dar forma final ao decreto que deveria melar as eleições e lançar o país num estado de exceção. O então presidente convocou comandantes militares para discutir uma intervenção armada e se reuniu pessoalmente com o general que coordenava um plano terrorista.
Bolsonaro deu voz de comando para a execução
de pontos críticos daquele esquema. Ordenou a confecção do relatório das Forças
Armadas que deveria disseminar falsas desconfianças sobre as urnas, pressionou
o PL a
apresentar uma ação para tentar anular a eleição e fez declarações calculadas
para inflamar protestos que serviriam como estopim para uma operação militar.
O ex-presidente ainda aparece como ponto
central de ações concretas que tinham a finalidade de desencadear o golpe. O
general Mario Fernandes, que elaborou um plano para matar Lula e Alexandre de
Moraes, esteve com Bolsonaro e, depois, enviou uma mensagem
celebrando o fato de o capitão ter concordado com o "nosso
assessoramento".
A PF também aponta que o núcleo golpista
atuou de maneira aplicada para incentivar manifestações em frente aos quartéis,
com o objetivo declarado de justificar uma insurreição. Bolsonaro teve
participação fundamental na preparação dessa bomba. Ele pode ter voado para os
EUA, mas deixou por aqui o artefato que explodiria no
dia 8 de janeiro.
As investigações enterram as fábulas usadas
por Bolsonaro e seus comparsas para pintar a tentativa de golpe como uma mera
meditação jurídica do candidato derrotado ou uma aventura dominical de
senhorinhas frustradas. Houve um esforço real para deflagrar um levante armado,
transformar uma eleição em pó, sequestrar, matar e instalar um regime que tinha
toda a cara de uma ditadura.
Exatamente!
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