Folha de S. Paulo
Sem paz não haverá prosperidade nem
democracia
Debelar o crime organizado constitui hoje o
principal desafio da democracia brasileira. Muitos dirão que temos desafios
mais importantes. O fato, porém, é que dificilmente conseguiremos êxito em
outras frentes sem que a criminalidade organizada seja contida.
A expansão da criminalidade organizada vem
submetendo parcelas cada vez maiores da população brasileira à brutalidade e à
exploração econômica. Estima-se que 23
milhões de brasileiros vivam hoje em áreas
dominadas por milícias e facções.
Nessas áreas não há lei nem direitos. A regra são a violência e
o arbítrio.
É um erro acreditar que o crime organizado se interesse apenas por atividades ilegais altamente lucrativas, como o narcotráfico, o garimpo ilegal, a grilagem, o desmatamento criminoso, o tráfico de seres humanos ou a prostituição. O crime tem expandido suas ações para a distribuição de combustíveis —e mesmo a produção de álcool—, o mercado imobiliário, de transporte coletivo e de apostas e a lavagem de dinheiro, para ficar apenas nos exemplos mais evidentes.
Milícias e facções têm se dedicado a
controlar o acesso da população aos serviços públicos, ao mercado local, à
liberdade básica de ir e vir e até mesmo o acesso à religião. O chamado
"narcopentecostalismo" é hoje um fenômeno que vem ganhando força em
muitas comunidades. São, portanto, milhões de brasileiros reféns de um estado
cotidiano de exceção.
Particularmente preocupante é a expansão do
crime organizado pela amazônia. Como aponta Marta Machado, secretária Nacional
de Políticas sobre Drogas, há hoje uma forte conexão entre narcotráfico e
degradação ambiental. Pistas clandestinas, rotas de escoamento, lavagem de
dinheiro e prostituição fazem parte das mesmas redes. O enfrentamento da
questão climática, no Brasil, está hoje umbilicalmente ligado ao combate ao
crime organizado.
Múltiplos são os fatores que levaram a essa
expansão do crime, que vão da ausência ou presença arbitrária do Estado à
inexistência de oportunidades econômicas. Há, porém, uma dimensão
institucional, que decorre de escolhas erradas no campo da segurança pública e
da política criminal.
O primeiro desses erros tem sido apostar numa
política de encarceramento indiscriminado e em massa. O Estado tem se tornado,
assim, o principal parceiro do crime organizado. Nas prisões, as facções
cresceram e se fortaleceram.
Um segundo erro tem sido negligenciar a
profissionalização, a integração, as boas condições de trabalho, o investimento
em inteligência e o controle das polícias, reduzindo sua eficiência e, em
algumas circunstâncias, favorecendo a milicianização das forças de segurança.
Um terceiro erro foi flexibilizar o acesso a
armas e munições, que têm migrado para as mãos de criminosos, aumentando o
poder de fogo contra a população e mesmo contra a polícia.
O mais preocupante, neste momento, tem sido o
avanço do crime organizado sobre a política partidária, o Legislativo,
governos, polícias e mesmo a Justiça. É fundamental que medidas urgentes sejam
tomadas antes que esse processo de captura do Estado se torne irreversível.
A PEC apresentada pelo Governo Federal aos
governadores nesta semana pode representar um primeiro passo na criação de uma
política de Estado de segurança pública. Conservadores e progressistas têm que
se unir contra o crime.
Falando em crime organizado:
ResponderExcluir" Apesar de o Brasil ter enfrentado uma temporada de incêndios florestais em proporção recorde nos últimos meses, crimes ambientais raramente resultaram em prisões. Segundo levantamento da GloboNews com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Ministério da Justiça, o país teve até agosto 183,3 mil processos, no entanto, somente 433 foram parar na prisão.
Os números consideram as incidências de casos de crime ambiental no sistema prisional brasileiro. Isso significa que uma pessoa pode responder por mais de um processo, ou seja, o número de prisões pode ser até menor do que um a cada 400 casos. "
No G1 de hoje.
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