O Globo
No final do filme “Ainda estou aqui”, que
estreou nos cinemas na quinta-feira, o público é informado sobre o desenrolar
do caso Rubens Paiva. A Comissão da Verdade desmontou a farsa da ditadura para
encobrir o assassinato, mas não conseguiu localizar os restos mortais do
ex-deputado. Os militares que participaram do crime foram identificados e
denunciados, mas ninguém foi a julgamento.
A história ilustra as lacunas da nossa transição incompleta para a democracia. A pretexto de curar feridas do passado, o Brasil ignorou o exemplo de países vizinhos e ofereceu proteção e impunidade aos torturadores. Os herdeiros dos porões voltaram ao poder pelo voto, tentaram outro golpe e agora pedem uma nova anistia.
Rubens Paiva é um dos primeiros nomes na
lista de mais de 200 vítimas de desaparecimento forçado no regime militar.
Vivia no Rio com a família quando foi capturado por agentes da repressão, em
janeiro de 1971. Sua mulher, Eunice, e uma das filhas, Eliana, também chegaram
a ser presas ilegalmente. Ao contrário delas, o ex-deputado nunca voltou para
casa.
O filme de Walter Salles narra a saga de
Eunice, interpretada por Fernanda Torres, para criar os cinco filhos ao mesmo
tempo em que buscava o paradeiro do marido. Ela percorreu gabinetes, pressionou
autoridades, ouviu promessas de que Paiva estava vivo e seria libertado. Aos
poucos, juntou os cacos e se convenceu de que ele havia sido morto na tortura.
Em 1996, depois de 25 anos de luta, conseguiu que o Estado emitisse a certidão
de óbito do marido. Foi uma vitória simbólica, que muitas famílias de vítimas ainda
esperam.
“Estou feliz com a repercussão do filme.
Espero que ele ajude a sensibilizar as pessoas para elucidar casos que
continuam em aberto”, diz a procuradora Eugênia Gonzaga, presidente da Comissão
Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Extinto no governo de Jair
Bolsonaro, o grupo foi recriado em julho por decreto do presidente Lula. Na
próxima quinta, deve aprovar um novo plano de trabalho.
Entre as prioridades, estão a retificação de
assentos de óbito, a busca por restos mortais e a retomada dos trabalhos para
identificar ossadas localizadas na vala de Perus, em São Paulo. A comissão
também deve reabrir casos arquivados pela gestão passada, como os do educador
Anísio Teixeira e do embaixador José Jobim.
Em 2014, o Ministério Público Federal
denunciou cinco militares reformados pela morte e ocultação do cadáver de
Rubens Paiva. Meses depois, o processo foi suspenso pelo ministro Teori
Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. Ele considerou que os réus estavam
protegidos pela Lei da Anistia. A Procuradoria-Geral da República contestou a
decisão, mas o mérito do caso nunca foi julgado.
A ação ficou seis anos parada no gabinete de
Alexandre de Moraes, que sucedeu Teori. No último dia 24, ele pediu novo
parecer à PGR, que ainda não se manifestou. O tempo corre a favor da
impunidade. Desde que a denúncia foi apresentada, ao menos três dos cinco
acusados morreram sem prestar contas à Justiça.
No livro “Ainda estou aqui”, que deu origem
ao filme, Marcelo Rubens Paiva relata que a mãe escolheu enfrentar a tragédia
de cabeça erguida: “Nunca se deixou cair no pieguismo, não perdeu o controle
diante das câmeras”. O escritor conta que chegou a ser estimulado a se vingar
dos algozes do pai, mas nunca levou a ideia a sério. “Lutar pela democratização
seria uma vingança mais efetiva, e esperar que a Justiça numa nova democracia
fizesse a sua parte. O que espero até hoje”, anota.
Queria muito assistir o filme,mas na minha cidade não tem cinema,tinha apenas uma sala e fechou há mais de 40 anos.
ResponderExcluirEstou lendo o livro . Talvez não emocione tanto quanto o filme, mas vale muito a leitura.
ExcluirJá, já deve ter em streaming.
Excluir😎
Lamento, Ademar. Vivemos num país que abre shoppings e fecha livrarias. As duas alternativas acima podem ser viáveis e, se o filme for indicado, logo, logo a Globo exibe numa sessão especial - certamente não será Record nem SBT...
ExcluirNão consigo esquecer Jair Bolsonaro defendendo a tortura e os torturadores, e exaltando o coronel TORTURADOR Brilhante Ustra.
ResponderExcluirO Lula quando enaltece o Chaves e o maduro da Venezuela , o O líder chinês , o Putim e o Iatola iraniano, está enaltecendo Assassinos cruéis , Genocídias , Torturadores das oposições
ResponderExcluirSó que isso vocês, que não enxergam um palmo na frente do nariz , fazem questão de não enxergar
Além do mais esse nosso presidente foi arrancado da cadeia pelo STF , cumprindo pena de mais de 20 anos de reclusão, por corrupção e lavagem de dinheiro
Detalhe o PT nomeou sete dos 11 membros da alta corte