domingo, 10 de novembro de 2024

Um mundo mais sombrio e incerto - Míriam Leitão

O Globo

Donald Trump eleva o nível de incerteza na economia, o que torna mais urgente o nosso ajuste fiscal que, no entanto, tem sido corroído internamente

A semana passada elevou a exigência sobre a política econômica do Brasil. E também subiu o grau dos desafios políticos e diplomáticos. Tudo ficou mais difícil. A inflação, pela primeira vez, estourou o teto da meta, tornando mais urgente o pacote de ajuste de gastos cujo alcance vem sendo corroído internamente no governo. A eleição americana terá impacto negativo na economia, o que nos atinge. Donald Trump é o pior também na economia por ter um programa inflacionário, expansionista fiscal e protecionista. O Fed vai entrar em conflito com Trump que apontou suas baterias contra a cidadela monetária mais influente do planeta, e isso elevará a incerteza econômica e mexerá nos fluxos de capital. O estrago na agenda ambiental e climática tem repercussão global, mas atinge em cheio o projeto do Brasil.

Não é questão de preferência política. É análise. É evidente que uma pessoa como Trump é oposta aos meus valores. Mas quero trazer para os leitores as razões pelas quais tudo piora para o Brasil a partir dessa decisão — soberana — do eleitorado americano. Há quem avalie que ele terá mais conflito comercial com a China, então haverá mais espaço no mercado chinês para os produtos brasileiros, ou que ele vai investir mais em petróleo, que é grande em nossa balança comercial. Discordo dessas avaliações, porque ninguém ganha com incerteza econômica, principalmente um país como o Brasil. Em relação ao petróleo, o mais sensato era o mundo fazer o oposto, caminhar para a descarbonização.

Há uma avaliação no governo brasileiro de que a política antiambiental de Trump pode ter resistência do próprio setor privado. É que adensaram-se os negócios e investimentos na economia americana em transição ecológica e energética. O plano anti-inflacionário de Joe Biden é, na verdade, uma grande aposta em investimentos verdes. No primeiro mandato, o ataque de Trump à regulação ambiental foi em parte contido pelos estados. Agora seria pelas empresas. Mas o fato é que na segunda-feira começa a COP29 no Azerbaijão já sob a sombra do retrocesso. O mesmo fantasma ronda Belém.

Num mundo que ficou mais complexo, o Brasil patina na preparação do ajuste fiscal. As medidas formuladas pelas equipes dos ministérios da Fazenda e Planejamento estão sob aquele mesmo ataque que já destruiu outros planos no passado. O país precisa de mais flexibilidade orçamentária, menos engessamento, menos despesas que aumentam no mesmo ritmo da receita, menos programas ineficientes e sem focalização. É com esse projeto que se trabalhou, procurando uma abordagem nova.

Mas a partir do momento que as medidas começaram a ser apresentadas às diversas áreas o que se viu foi a repetição da defesa setorial, como se a obrigação de ajustar as contas não fosse do governo inteiro, mas apenas da área econômica.

A eleição de Trump tornará mais exigente a conjuntura internacional. Se ele conseguir implementar parte do que prometeu, seja na deportação de trabalhadores sem registro, seja na elevação das tarifas, o país terá um aumento da inflação de serviços e do custo de produção em todas as áreas. A dificuldade para ele é que foi eleito explorando a sensação de desconforto econômico causada pela “carestia”, mas o índice de inflação tem caído. Se voltar a subir, Trump terá piorado o que prometeu resolver. Ele entrará em confronto com o Fed, essa crise já está contratada por tudo o que Trump fez no mandato passado, e por tudo o que disse na campanha. E também porque se a inflação subir, o banco central norte-americano terá que parar a redução dos juros ou até subir as taxas. Jerome Powell respondeu com um direto “não” à pergunta sobre se pretendia renunciar ao seu mandato se Trump pedisse. Seu mandato vai até maio de 2026. Serão tempos turbulentos na política monetária americana.

O excepcionalismo americano existe também na economia, pelo fato de eles serem emissores da moeda de reserva. Isso faz com que, mesmo com problemas na economia, a alta de juros fortalecerá o dólar e aumentará a aversão a risco, o que desvia o fluxo de capitais de países emergentes. A inflação brasileira, em 12 meses, estourou a meta com o dado de outubro e deve permanecer pressionada. Há uma crise de confiança na política fiscal brasileira. A melhor reação contra essa adversidade será ter um plano de corte de gastos que seja crível. Isso para manter a economia sólida nos próximos dois anos até o fim do mandato.

 

2 comentários:

  1. Miriam você é hilária já virou piada nacional, Esse teu mundo Woke está caindo, para com isso Negacionista é o eixo do mal que Lula está se aliando China Rússia e Irã países autoritários ditatoriais que persegue e mata seus opositores
    Amigão do maduro da Venezuela do Daniel Ortega da Nicarágua isso é que você você nunca fala porque é paga pra ser puxa-saco do Lula do PT e do governo mas todo mundo já te conhece , acorda para vida , para com isso tá feio pra você jornalista , eu sei que você é mais inteligente do que isso

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  2. A colunista entende do riscado.

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