segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Kamala Harris e Trump, protecionistas - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

O que separa o republicano da democrata é a intensidade e não a essência

Em 2008, o democrata Barack Obama conquistou a presidência dos Estados Unidos tendo como adversário um candidato claramente pró-livre comércio: o republicano John McCain. Obama é que era considerado o protecionista.

Em 2016, chegou Donald Trump e inverteu tudo. Uma de suas primeiras decisões foi jogar no lixo um tratado de livre comércio fechado por Obama com onze países da Ásia e do Pacífico. Atualmente, considera-se que o republicano representa o ideal do protecionismo e do isolacionismo, enquanto os democratas, nas figuras do presidente Joe Biden e da sua vice e candidata a sucessora Kamala Harris, seriam mais abertos para o mundo.

O primeiro mandato de Trump, entre 2017 e 2020, de fato foi marcado pela criação de barreiras às importações, especialmente daquelas vindas da China. Ele aumentou as tarifas sobre produtos chineses de 3% para 20%, em média. As novas taxas de importação criadas por Trump somaram o equivalente 80 bilhões de dólares. A gestão do democrata Biden não reverteu esse cenário. Ao contrário, ele não apenas manteve a maioria das tarifas criadas por Trump como criou novas barreiras ao comércio externo. O total de empresas chinesas que enfrentam restrições nos Estados Unidos atualmente chega a 1.300.

A diferença entre o protecionismo de republicanos e democratas está nas motivações e nos métodos. Trump vê a guerra comercial como uma forma de proteger empresários e trabalhadores americanos da concorrência externa. Sua arma preferida são as tarifas de importação. Na campanha deste ano, prometeu elevá-las para 10% para produtos em geral e para 60% no caso daqueles vindos da China. Já Biden recorre mais às barreiras não tarifárias como método, ainda que tenha também elevado as tarifas sobre produtos como carros elétricos e painéis solares chineses. Sua motivação está ligada à disputa de longo prazo por poder com Pequim via domínio tecnológico.

De Kamala Harris pode-se esperar que siga a mesma estratégia adotada por Biden, ou seja, uma escalada gradual nas barreiras alfandegárias e tarifárias às importações, enquanto mantém negociações aqui e ali que dão uma pequena abertura no comércio com outros países. O resultado geral, ainda assim, é mais protecionismo.

Pelo teor das propostas, é provável que um segundo mandato de Trump faria dos Estados Unidos um país mais fechado comercialmente do que um primeiro mandato de Harris. O que os separa é a intensidade, não a essência. Com qualquer um dos dois, o país vai se tornar mais protecionista.

 

Um comentário:

  1. No antepenúltimo parágrafo tem uma frase estranha,eu acho que o ''não'' ficou fora do lugar,rs.

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