O Estado de S. Paulo
Não há escolhas fáceis para o atual governo de Lula 3; haja fôlego para se correr tanto assim
A tramitação da PEC que prevê o fim da escala 6 x 1 é apenas o mais recente exemplo de como o governo Lula 3 corre atrás dos fatos, dentro e fora do País. No caso da redução da jornada de trabalho é patente a tentação no Planalto de surfar o impacto nas redes sociais com a promessa de fácil ganho eleitoral mais adiante. Mas corre atrás do fato muito sério da estagnação da produtividade no Brasil em relação às economias mais avançadas. Coisa chata de tratar que dá pouca visualização nas redes.
Há dois outros fatos de enorme relevância
arrastando o governo para uma óbvia situação perigosa. O primeiro é a
constatação de que despesas continuam subindo acima das receitas. Fato que
decisões do atual governo agravaram e aprofundaram a armadilha fiscal. As
energias políticas se concentram na luta pelas migalhas de despesas
discricionárias no Orçamento.
O espaço de manobra vai sendo consumido em
“puxadinhos” na tentativa – até aqui frustrada – de compensar via cortes de
gastos pontuais a desconfiança dos agentes econômicos na capacidade do governo
de equilibrar as contas. O que inclui comprar uma briga séria com os
comandantes militares, que acreditavam que estava “combinado” que não se
mexeria no sistema de previdência deles.
O segundo fato relevante foi perversamente
revelado nessa minicrise para apontar quem é o mais malvado causador de
déficits dos sistemas de previdência.
Ficou mais uma vez exposta a necessidade de
dolorosa reforma da Previdência, cuja situação piorou com a política lulista de
valorização do salário mínimo e o fechamento (exaustivamente apontado) da
janela demográfica.
Observando esse grande quadro não é difícil
perceber a complexidade da relação entre esses vários elementos: baixa
produtividade, sistema de pensões e aposentadorias insustentáveis, demografia
piorando e intratável disputa política pela alocação de recursos via orçamento
público. Tudo muito sério, mas causa pouca espuma em redes sociais.
Para completar veio agora o tsunami do
resultado da eleição presidencial americana, obrigando o governo brasileiro a
correr atrás dos acontecimentos (no que não está sozinho, aliás).
A vitória de Trump promete tornar mais
desafiador o cenário para economias emergentes em geral e a do Brasil em
especial: juros altos, dólar caro, inflação e acirramento de protecionismo e
guerras comerciais.
Do lado político, Trump esvaziou dois palcos
com os quais o governo Lula 3 contava em termos de projeção internacional: o do
G-20 e o da COP-30. Tornou a geopolítica ainda menos previsível, e mais
delicada para o Brasil a busca de equilíbrio entre China e Estados Unidos. Haja
fôlego para se correr tanto assim.
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