Folha de S. Paulo
Naturalidade das discussões sobre anistia era
o delírio coletivo de um país que inscreveu o fanatismo na cultura política
O atentado na
praça dos Três Poderes foi o quarto ataque político radical no
país em dois anos. Desde dezembro de 2022, bolsonaristas depredaram Brasília no
dia da diplomação de Lula, tentaram explodir um caminhão no aeroporto da
capital e protagonizaram a invasão golpista de 8 de janeiro. Para os padrões
brasileiros, não é pouca coisa.
Os detalhes do ataque de quarta-feira (13) sugerem que o responsável pelas explosões era um homem desequilibrado, encharcado por um conspiracionismo violento, uma doutrina de radicalização e o mais puro fanatismo antipolítico. Um distúrbio grave pode ter sido o gatilho para a execução do plano, mas o conspiracionismo, a radicalização e o fanatismo estão aí.
A marcha extremista se baseia na ideia de que
é preciso derrubar um complô institucional. Deixou de fazer parte do submundo
da vida nacional há tempos para se tornar uma corrente alimentada à luz do dia,
cortesia de plataformas digitais que valorizam conteúdo incendiário, de
políticos instalados no centro do poder e de militares que deram guarida a
esses devaneios.
Nem todos os brasileiros banhados nesse caldo
chegam até a radicalização violenta. Milhões reforçam sua adesão a uma
filosofia dura de descrença institucional, milhares vão aos quartéis para
lançar os dados de uma revolução armada e centenas tentam provocar uma ruptura
com as próprias mãos. Um "lobo solitário" pode fazer estragos maiores
ou menores.
Inscrita no mainstream, essa cultura oferece
conforto aos que acreditam numa ameaça existencial, representatividade àqueles
que têm sede de soluções radicais e poder para os que se aproveitam de suas
bandeiras. Punir quem estimula e pratica crimes com o amparo desse ideário é a
única maneira de estabelecer limites.
A naturalidade com que gente importante
encarou a campanha por uma anistia
para o 8 de janeiro agora parece um delírio coletivo. O país
terá que tratar radicais como radicais, na medida de seus atos, do sujeito que
planejou explodir um aeroporto à multidão que tentou estourar uma intervenção
militar, passando pelo presidente que ficou um mandato inteiro executando um
plano de golpe de Estado.
Verdade.
ResponderExcluirForam cinco os ataques políticos radicais no país nos últimos anos: faltou incluir a armação da facada (canivetada? agulhada? mentirada) de Juiz de Fora
ResponderExcluirMuito bom! O "presidente que ficou um mandato inteiro executando um plano de golpe de Estado" é o chefe da quadrilha, mas ainda aguarda julgamento pelos seus maiores crimes! A Justiça é lenta, lerda, por aqui...
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