O Estado de S. Paulo
No Brasil, convidamos o capital estrangeiro,
fundamental para o desenvolvimento do País, para jogar um jogo cujas regras
podem mudar a qualquer momento
O Brasil ficou em segundo lugar na lista dos países que mais receberam investimentos estrangeiros diretos (IEDs) no primeiro semestre de 2024, perdendo apenas para os Estados Unidos. Os dados são de um novo relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A notícia é excelente, pois esse é o tipo de dinheiro que vem para ficar. O que se chama de investimento estrangeiro direto é a injeção de recursos financeiros em empresas ou projetos com o propósito de construir relações econômicas estáveis e de longo prazo. Atentem para esta palavra: estáveis.
Os números da OCDE não são exatamente uma
surpresa. O Brasil coleciona vários indicadores positivos, vem reconquistando a
confiança no cenário internacional e tem grandes oportunidades para
investidores em áreas como saneamento, infraestrutura e energia. Além disso, é
considerado um dos países mais bem posicionados no mundo para receber
investimentos voltados à transição energética. Tudo parece perfeito, mas
convivemos com a eterna frustração de receber menos do que merecemos. Diversos
estudos mostram que existem fortes amarras que impedem o desenvolvimento pleno
do País. Uma das mais apertadas é, sem dúvida, a insegurança jurídica. Decisões
pouco racionais e conceitos jurídicos equivocados perturbam o ambiente de
negócios e elevam o risco de investir no Brasil. Se essa questão não for
enfrentada e corrigida, precisaremos nos contentar com uma fatia menor do bolo
do desenvolvimento, tão importante para o exercício pleno de nossa soberania.
Há vários casos recentes que ilustram bem
essa dinâmica perversa. Alguns são emblemáticos. Um deles envolve a venda da
Eldorado Celulose, da holding J&F para a multinacional de papel e celulose
Paper Excellence. Apesar de o negócio ter sido fechado em 2017 por cifras
bilionárias, a compradora até hoje não recebeu o ativo. A J&F resolveu não
cumprir o contrato de compra e venda, mesmo depois de ter perdido uma
arbitragem por unanimidade. Para não ter de entregar a companhia que vendeu,
recorre a variados artifícios jurídicos, protelando o desfecho do litígio, que
já dura sete anos, por meio de recursos e diversas ações paralelas, que
enfraquecem o instituto da arbitragem no País – fundamental em todas as
economias desenvolvidas.
A J&F tem utilizado subterfúgios, como a
alegação de que a venda da Eldorado fere a legislação que restringe a venda de
terras para estrangeiros – ainda que o negócio envolva a compra de ações da
operação industrial da Eldorado Celulose, e não das terras onde a fábrica está
instalada, no município de Três Lagoas (MS), e de propriedades rurais
arrendadas. Numa sinalização negativa para o capital externo, a Justiça aceitou
o argumento e suspendeu o tribunal arbitral do caso instaurado na Câmara de Comércio
Internacional (CCI), uma das mais respeitadas do mercado.
Em outro setor-chave, mais um sinal vermelho:
a disputa entre Ternium e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em torno da
Usiminas. Em 2011, a Ternium adquiriu as participações societárias da
Votorantim e da Camargo Corrêa no bloco de controle da siderúrgica mineira. A
CSN, que detinha 16% das ações e planejava uma oferta hostil, passou a exigir o
direito de tag along (mecanismo que prevê a extensão, aos minoritários, de
parte do prêmio pago ao controlador). A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e
o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) decidiram que o tag along
não se aplicava ao caso, pois a operação não envolvia mudança de controle. A
CSN recorreu, então, à Justiça, mas perdeu em todas as instâncias – inclusive
no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Porém, durante os embargos de
declaração, houve uma reviravolta e a decisão foi de que a Ternium deveria
pagar uma multa à CSN.
Todos esses episódios têm sérias
consequências. A Ternium, controlada pelo grupo ítalo-argentino Techint, já
declarou que pretende reduzir seus investimentos no Brasil, onde atua há quase
80 anos, caso a última decisão controversa do STJ prevaleça. Já a ação que
questiona a compra das ações da Eldorado colocou em modo de espera a decisão de
alocar recursos em projetos que dependem do uso de terras, como energia
renovável e mineração. A evocação da antiga Lei de Terras incitou
questionamentos sobre negócios já consolidados de multinacionais como Bunge,
Cargill e Shell por meio de ações populares em vários tribunais brasileiros.
Estudo recente da Consultoria LCA mostra que, entre 2010 e 2023, ocorreram 241 transações em setores de uso mais intensivo da terra. Na prática, são centenas de empresas ameaçadas por uma legislação que dá margem a várias interpretações e que hoje lança os investidores estrangeiros num arriscado contexto de incertezas e insegurança jurídica. Estamos transmitindo a mensagem errada para os investidores estrangeiros, agentes fundamentais para o crescimento e desenvolvimento do País. Convidamos esse capital para jogar um jogo cujas regras podem mudar a qualquer momento. É necessário retomar a valorização desses recursos, oferecendo um ambiente de negócios justo e com regras claras, estáveis e previsíveis. Eis o desafio.
Estamos vivendo uma fuga sem precedentes do capital estrangeiro do Brasil o retrato é a queda vertiginosa da bolsa de valores
ResponderExcluirE o Brasil indo pro buraco levando todos os brasileiros , Quem fez e quem não fez o L está fu fu
Os pilantras do governo nem aí , só querendo mais
O mentiroso anônimo acima não leu a primeira frase do texto...
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