Folha de S. Paulo
O candidato a vice na chapa de Bolsonaro nem
sempre foi considerado um traidor da farda
Filho feio não tem pai. As Forças
Armadas hoje procuram afastar os laços com Braga Netto,
considerando-o traidor da farda e, ao lado de Bolsonaro, arquiteto do golpe de
2022. Nem sempre foi assim.
Em 2018, quando a popularidade da caserna atingia o auge, os políticos tradicionais eram demonizados e Bolsonaro já ocupava o segundo lugar nas pesquisas eleitorais para presidente, Braga Netto foi escolhido para chefiar a intervenção federal no Rio. A operação foi um desastre digno do governo Temer, não mudou o quadro de insegurança, deixou um rastro de casos de corrupção e os milicianos aproveitaram para matar Marielle. Mas o caminho para a entrada dos generais no poder estava aberto.
Quatro estrelas no ombro, Braga Netto era um
deles. Construiu a imagem de discreto, o perfil técnico que iria moderar os
arroubos do capitão. Dizia-se nos bastidores que detestava política. Como
ministro da Casa Civil, decidiu sobre a compra ou não de vacinas, abafou a
crise de oxigênio em Manaus, aprovou a importação e a fabricação de cloroquina.
Em 2020, durante a pandemia, chegou a receber quase R$ 1 milhão de salário.
Deve ter sido aí que passou a gostar de política.
Candidato a vice-presidente derrotado na
chapa de Bolsonaro, partiu para o terror, combinando em sua própria casa a
eliminação de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. É difícil imaginar que Braga
Netto tenha pensado em tudo sozinho. Outras cabeças estão livres. Por enquanto.
Braga Netto usou à vontade a estrutura do PL
para montar um QG do golpe e ainda deixou documentos impressos como prova. Ao
conspirar contra a democracia na sede da sigla, fica evidente que o filho feio
não pertence apenas ao Exército. Valdemar Costa Neto assumiu a criança com
orgulho. O partido só desistiu de lançar a candidatura do general a prefeito do
Rio quando ele se tornou inelegível. Alexandre Ramagem, não à toa também
indiciado pela Polícia Federal na trama golpista, era o plano B.
Mauro Cid disse que Braga Netto recebeu
dinheiro do "pessoal do agronegócio", repassando-o em sacolas de
vinho aos kids pretos. Nunca se viu um rebento com tantos progenitores.
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