terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Filho golpista não tem pai - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O candidato a vice na chapa de Bolsonaro nem sempre foi considerado um traidor da farda

Filho feio não tem pai. As Forças Armadas hoje procuram afastar os laços com Braga Netto, considerando-o traidor da farda e, ao lado de Bolsonaro, arquiteto do golpe de 2022. Nem sempre foi assim.

Em 2018, quando a popularidade da caserna atingia o auge, os políticos tradicionais eram demonizados e Bolsonaro já ocupava o segundo lugar nas pesquisas eleitorais para presidente, Braga Netto foi escolhido para chefiar a intervenção federal no Rio. A operação foi um desastre digno do governo Temer, não mudou o quadro de insegurança, deixou um rastro de casos de corrupção e os milicianos aproveitaram para matar Marielle. Mas o caminho para a entrada dos generais no poder estava aberto.

Quatro estrelas no ombro, Braga Netto era um deles. Construiu a imagem de discreto, o perfil técnico que iria moderar os arroubos do capitão. Dizia-se nos bastidores que detestava política. Como ministro da Casa Civil, decidiu sobre a compra ou não de vacinas, abafou a crise de oxigênio em Manaus, aprovou a importação e a fabricação de cloroquina. Em 2020, durante a pandemia, chegou a receber quase R$ 1 milhão de salário. Deve ter sido aí que passou a gostar de política.

Candidato a vice-presidente derrotado na chapa de Bolsonaro, partiu para o terror, combinando em sua própria casa a eliminação de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. É difícil imaginar que Braga Netto tenha pensado em tudo sozinho. Outras cabeças estão livres. Por enquanto.

Braga Netto usou à vontade a estrutura do PL para montar um QG do golpe e ainda deixou documentos impressos como prova. Ao conspirar contra a democracia na sede da sigla, fica evidente que o filho feio não pertence apenas ao Exército. Valdemar Costa Neto assumiu a criança com orgulho. O partido só desistiu de lançar a candidatura do general a prefeito do Rio quando ele se tornou inelegível. Alexandre Ramagem, não à toa também indiciado pela Polícia Federal na trama golpista, era o plano B.

Mauro Cid disse que Braga Netto recebeu dinheiro do "pessoal do agronegócio", repassando-o em sacolas de vinho aos kids pretos. Nunca se viu um rebento com tantos progenitores.

 

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