O Globo
Ministério da Saúde tomou para si o encargo
de propagar picaretagens etimológicas, a título de luta antirracista
Já deveria estar no calendário de eventos da
Embratur: em fevereiro (ou março) tem carnaval;
em abril, a Alvorada de São Jorge, em Quintino; em junho, o Festival Folclórico
de Parintins e o São-João de Campina Grande; em outubro, a Oktoberfest e, em
novembro, o Festival de Falsas Etimologias.
Normalmente bancado com verbas públicas, o
Fefaetiapá® (Festival de Falsas Etimologias que Assola o País) celebra a
disseminação e consolidação das FNBs (Fake News do Bem), um tipo de
desinformação inclusiva, empática, que goza de imunidade. Não está na mira
do STF,
não precisa ser removida das redes sociais e recebe o selo de garantia de
ministérios públicos, universidades federais, tribunais de Justiça.
Neste ano, foi o Ministério da Saúde. Talvez por não precisar se preocupar com gerenciamento de vacinas, epidemia de dengue, doenças dizimando ianomâmis, falta de medicamentos contra o câncer de mama ou aumento dos casos de aids, o MS tomou para si o encargo de propagar picaretagens etimológicas, a título de luta antirracista. É que deve ser muito mais fácil proteger o cidadão de termos como “inhaca” do que contra o bacilo de Koch (65,2% dos casos de tuberculose no Brasil foram registrados na população negra, mas isso não deve ter nada a ver com desigualdade, racismo estrutural etc.).
Por que acreditar em Caldas Aulete, Aurélio,
Houaiss, Michaelis, Priberam e Antenor Nascentes (que atestam que inhaca vem do
tupi yákwa e significa odoroso, sem relação com preconceito ou ilhas
moçambicanas) se o delírio decolonialista de reescrever a História (e a língua)
é mais sedutor?
Aliás, se quisessem focar em termos
efetivamente originários do escravismo, poderiam tentar cancelar o uso de
“carimbo”, “chimarrão” e “estou ferrado”. Mas isso demandaria pesquisa e uma
briga feia com burocratas, gaúchos e contribuintes em geral. Não vale a pena.
Na edição 2025 do Fefaetiapá®, outros
ministérios cuja verba foi cortada (como o da Educação, que perdeu R$ 1,6 bi) e
que não têm problemas para resolver (os alunos do ensino básico sabem tabuada,
a evasão escolar é ínfima, as universidades têm vasta produção acadêmica)
poderão, quem sabe, lançar mais cartilhas.
Em prol da renovação, sugiro que deixem de
lado criados-mudos, empregadas domésticas e dar com o pau (que já deram o que
tinham que dar) e invistam em novas lorotas. Por exemplo:
“Saudações rubro-negras”: racista por ser a
forma como os senhores de engenho do Amapá se dirigiam aos
afrodescendentes que retornavam, ensanguentados, depois de passar o dia
cortando cana;
“Deu pau no HD”: racista porque os agadês
seriam valentes habitantes do litoral de Uganda, frequentemente
vítimas de espancamento antes de ser embarcados à força para as colônias das
potências neoliberais;
“Senha inválida. Tente novamente”: Racista
porque... bem, é só botar a imaginação para funcionar. Se faltar criatividade,
faça um workshop com quem inventou que havia racismo em “feito nas coxas”,
“buraco negro” e “esclarecer”.
(O Fefaetiapá® é uma homenagem a Stanislaw
Ponte Preta, autor do genial “Samba do crioulo doido” — que de racista nunca
teve nada. Era, ao contrário, uma crítica à imposição de temas históricos para
os sambas de enredo. Um manifesto inteligente e libertário, coisa que nenhuma
dessas cartilhas consegue ser.)
Perfeito !
ResponderExcluirLamentável! O Globo continua desperdiçando espaço com este sujeito...
ResponderExcluirDeve ser a vigésima... Ou trigésima... Ou quadragésima coluna que o autor repete, mudando os termos e exemplos, seu antigo e carcomido lenga-lenga contra as interpretações de várias palavras. Cada vez mais exageradamente e de forma já cansativa, pela extrema repetitividade.
ResponderExcluirO colunista realmente não tem o que dizer ou discutir, apenas se repete, tentando mostrar alguma criatividade que já não mais existe.
ResponderExcluirAs bobagens da esquerda não merecem pauta,eu vejo apenas como bobagem mesmo,rs.
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