Folha de S. Paulo
Melhora dos índices econômicos ainda é vista
por muitas pessoas como abstração
Os brasileiros mais pobres chegam à metade do
governo Lula com
sentimentos mistos. A melhora dos índices econômicos ainda é vista por muitas
pessoas como uma abstração que não reflete uma melhora sentida na pele.
Dados da pesquisa PoderData, divulgada no último sábado (21), apontam que apenas 37% dos brasileiros consideram o governo Lula melhor do que o governo Bolsonaro. Entre os mais pobres, os números não são melhores. Apenas 35% daqueles que possuem renda familiar de até 2 salários mínimos consideram o governo Lula melhor. Entre as pessoas que possuem renda familiar entre 2 e 5 salários mínimos, o índice sobe para 45% e cai para 34% na faixa acima de 5 salários mínimos.
De fato, os últimos anos foram especialmente
difíceis. As crises foram muitas e intensas. Para piorar, o desmonte do Estado
promovido pelo governo Bolsonaro retirou a redução das desigualdades sociais do
centro da agenda. A erradicação da fome foi exemplar nesse sentido.
A extinção do Conselho Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional em 2019 foi um momento crítico. Segundo o
relatório "Um Retrato das Desigualdades Brasileiras: 10 anos de Desafios e
Perspectivas", publicado pela Oxfam, a mudança representou um
desmonte de iniciativas fundamentais relacionadas à segurança alimentar. Assim, o
Brasil, que havia saído do Mapa da Fome em 2014, voltou em 2019 e permaneceu
até 2022.
Em 2023, primeiro ano do governo Lula, o
cenário começou a ser revertido. A insegurança alimentar severa sofreu uma
redução de 85%. Isso significou que, em termos absolutos, 14,7 milhões de
pessoas deixaram de passar fome no país, de acordo com a edição de 2024 do
"Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar
Mundial".
Outros indicadores também melhoraram. De
acordo com o "Relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades de 2024",
publicado pela Ação Brasileira de Combate às Desigualdades e coordenado pelo
Núcleo de Desenvolvimento do Cebrap, houve avanços em 44% dos 42 indicadores
analisados.
O relatório destaca, por exemplo, a redução
de 40% na proporção de pessoas em extrema pobreza, com um impacto ainda maior
entre as mulheres negras (45,2%), em comparação com os números de 2023. Outros
destaques positivos foram a queda de 20% no desemprego e o aumento de 8,3% no
ganho real no rendimento médio de todas as fontes, o qual foi maior entre
mulheres, 9,6% para elas, contra 7,7% para os homens.
Em outras frentes, também houve avanços
expressivos. Na saúde, o número de mães com até 19 anos de idade caiu 14%. Na
educação, a proporção de mulheres negras de 18 a 24 anos que cursam o ensino
superior chegou a 19,2%, um crescimento de 12,3% em relação ao ano anterior. O
desmatamento em áreas indígenas e unidades de conservação caiu 13,3% de 2022
para 2023, queda que foi mais expressiva ainda no Norte do país: 46,4%.
Contudo, apesar dos avanços, o governo ainda
não conseguiu colher resultados. Como aponta reportagem
desta Folha, de fato, não há uma marca clara do governo. Não há
dúvida de que a comunicação e a coordenação interna do governo precisam
melhorar muito. Do contrário, pequenas fissuras nas bases eleitorais podem se
tornar rachaduras mais permanentes em 2026.
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