Correio Braziliense
O dólar chegou a R$ 6,2955, às 10h11, mesmo
após o leilão de US$ 3 bilhões promovido pelo BC. Novo leilão de US$ 5 bilhões
fez a moeda americana cair
Depois de uma semana tensa, em que o dólar
bateu todos os recordes, a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC)
com novas regras para o abono salarial e que prorroga a desvinculação de
receitas da União, pela Câmara, e dois leilões extraordinários de dólares no
mercado à vista, num total de US$ 8 bilhões, promovidos pelo Banco Central,
jogaram a cotação da moeda americana para baixo, domando o mercado.
O BC fez seis intervenções no mercado de câmbio em uma semana. Na abertura desta quinta-feira, o dólar chegou a alcançar o patamar de R$ 6,30. No fim da tarde, graças às decisões do Congresso e à firme intervenção do BC, o dólar à vista fechou a sessão com queda de 2,29%, a R$ 6,1243 na venda. Já o Ibovespa encerrou o pregão com alta 0,34%, a 121.187,91 mil pontos.
Na quarta-feira, o BC já havia vendido US$ 3
bilhões, mas o impasse na votação do ajuste fiscal pela Câmara e uma trapalhada
do próprio Ministério da Fazenda, que anunciou um leilão de recompra de
títulos, levaram o mercado a dobrar a aposta contra o real. Nesse dia, o
Tesouro Nacional não vendeu títulos da dívida e recomprou apenas 10% do volume
proposto em papéis já emitidos no leilão extraordinário de títulos prefixados
com juros semestrais (Notas do Tesouro Nacional - Série F - NTN-F).
A proposta de recompra de NTN-F de 4 milhões
de papéis, distribuídos nos mesmos vencimentos, mandou sinais trocados para o
mercado. Enquanto o BC queimava US$ 3 bilhões para segurar o dólar, o Tesouro
anunciava a intenção de injetar mais dinheiro no mercado, com a recompra dos
títulos. Apenas 10% da oferta foi aceita, no valor de R$ 340,8 milhões, 100 mil
papéis para cada prazo, a taxas de 15,47% (jan/29), 15,170% (jan/31), 14,84%
(jan/33), 14,71% (jan35). Resultado: o mercado ignorou as intervenções do BC,
que enxugou gelo, e a especulação levou a melhor.
Na terça-feira, o BC já havia feito dois
leilões, aceitando o total de quase US$ 3,3 bilhões. Na segunda-feira, vendera
US$ 1,623 bilhão e, na última sexta-feira, US$ 845 milhões. Os dois leilões
desta quinta-feira foram a maior venda de dólares em um único dia da série
histórica do BC, iniciada em 1999, quando o câmbio flutuante foi adotado no
país. Nesta quinta-feira, na abertura, a moeda dos EUA chegou a atingir a marca
de R$ 6,2955, às 10h11, mesmo após o leilão de US$ 3 bilhões promovido pelo BC.
Entretanto, com o novo leilão de US$ 5 bilhões, no começo da tarde, o dólar
começou a cair.
Abono e Fundeb
A aprovação da PEC do pacote de corte de
gastos obrigatórios do governo pela Câmara serviu para reduzir as incertezas em
relação ao ajuste fiscal, ainda que tenha sofrido alterações, por um placar de
348 votos a favor e 146 contra. No primeiro turno, foram 354 votos a favor, 154
contra e duas abstenções. O pacote precisa ser aprovado pelo Senado, que
começou a apreciá-lo na noite de desta quinta-feira.
Foram rejeitados dois destaques, relacionados
às mudanças no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
(Fundeb) e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). A PEC altera o abono
salarial, que passará a ser reajustado pela inflação e não pelo aumento real do
salário mínimo, e prorroga a Desvinculação das Receitas da União (DRU).
Nas negociações, pressionado pelo Judiciário,
o governo aceitou a flexibilização do dispositivo que estabelece o teto dos
salários dos servidores públicos em R$ 44 mil. Para evitar a derrota da PEC, o
governo concordou com que o relator do texto na Câmara, Moses Rodrigues (União
Brasil-CE), enfraquecesse as verbas que podem ficar fora do teto de
supersalários de R$ 44 mil. No lugar da lei complementar sobre verbas
autorizadas a ficar fora do teto, o dispositivo será regulamentado por lei
ordinária, que exige maioria simples.
Apesar do avanço, o pacote aprovado é
considerado, pelos analistas econômicos, insuficiente para garantir o
equilíbrio fiscal. O acesso ao abono salarial, uma espécie de 14º salário pago
a trabalhadores de baixa renda, exigirá que o trabalhador tenha recebido dois
salários mínimos do ano-base (R$ 2.640).
Atualmente, o abono é pago anualmente, no
valor de até um salário mínimo, a trabalhadores que receberam até dois salários
mínimos no ano-base do abono e trabalharam com carteira assinada por ao menos
30 dias no ano-base. A mudança representará uma economia de R$ 100 milhões em
2025; que subirá para R$ 600 milhões, em 2026; e R$ 2 bilhões, em 2027.
Uma nova categoria para contabilizar a contribuição da União ao Fundeb também foi criada. A mudança no fundo teria o impacto R$ 4,8 bilhões, em 2025, porém, devido às alterações na proposta original, a economia será menor.
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