Folha de S. Paulo
Juros e dólar podem estacionar agora em nível
alto, mas é preciso haver novidade fiscal
O governo
federal ficou rendido depois do revertério causado pelo anúncio do pacote
fiscal. Gente do governo ficou surpresa e sem ação diante da péssima
repercussão do plano —foi a reação inclusive daqueles que sabiam do estrago que
causaria a notícia da isenção do Imposto de Renda.
Os economistas do governo não teriam como
inventar medidas adicionais, no curtíssimo prazo, mesmo que tivessem
autorização do presidente da República para tanto.
Ficaram atônitos, torcendo para que a degradação financeira venha a ser menor em janeiro. Quer dizer, que dólar e juros fiquem ainda em níveis horríveis de altos, mas estáveis graças ao chá de camomila aguado do pacote que vai ser aprovado no Congresso e ao fim do dezembro de saídas excepcionais de capital. Torcida.
A reação oficial foi de negação meio amarga
mesmo entre pessoas mais conscientes do problema (gasto e juros altos, economia volátil).
Nas poucas reações públicas ao pânico financeiro, voltavam a mencionar
"erros do mercado", "especuladores".Também voltavam a fazer
confusão entre o que são economistas, gestores e donos do dinheiro grosso.
O dinheiro vai para lá ou para cá à procura
de retorno maior, risco menor e liquidez (facilidade de ser investido nisso ou
naquilo, com custo baixo), dada uma certa proteção contra desapropriação. O
conselho e as previsões de economistas (como os do
Boletim Focus)
podem ser em parte levados em conta nas decisões do dinheiro grosso. É no
máximo isso.
Para resumir, importa pouco o que se pensa de
toda essa gente, especialmente se não se tem à disposição medidas, recursos ou
forças que possam se contrapor ao poder do dinheiro. Um governo terá mais poder
se sua dívida é relativamente pequena e contida (e/ou seus juros são baixos),
se o país cresce bem, sem inflação,
de modo regular.
Em última instância, ao remoer amarguras sobre
"o mercado" ou sobre seus porta-vozes, você parece desejar
que seus credores ponham dinheiro onde você quer (em títulos do governo, em
reais), à taxa que você quer. Hum.
Não quer dizer que governos não possa
tributar um montão, de modo socialmente justo, que não possam inventar
políticas de desenvolvimento, de ter política econômica alternativa etc. Quer
dizer apenas o que está dito.
É até possível lidar com a situação fiscal
por outros meios: com inflação e/ou fechamento da economia. Fica ao gosto do
freguês, embora tais políticas costumem resultar em crescimento baixo ou
pobreza.
Vale lembrar, enfim, que, lá por novembro,
esperava-se que uma das consequências positivas do plano de contenção de gastos
a ser anunciado fosse a baixa do preço do dólar. Isto é, que passasse da casa
dos R$ 5,80 para algo pelo menos perto de uns R$ 5,60. Seria um sintoma de
febre menor, claro, mas também um lenitivo, um calmante para pressões
inflacionárias.
No otimismo do primeiro trimestre do ano, a
gente se iludia até com a possibilidade de dólar a R$ 4,80. Isto é, era
otimista com a perspectivas de inflação, juros e política nos EUA; imaginava
que haveria remendos no arcabouço fiscal, bastantes pelo menos para sustentar o
teto móvel de gastos de Lula 3
até pelo menos 2026.
Agora resta apenas consertar um estrago ainda
maior. Luiz Inácio Lula da Silva teria de vir a público para apoiar uma versão
aumentada do pacote fiscal. Para piorar,
Donald Trump vem aí.
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