sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Tarcísio admite que PCC melhora índices - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

A questão hoje é saber o grau e os resultados da crescente penetração das facções nas instituições da República

Entre dissimulações e reconhecimento de evidências incontornáveis, no furacão da crise da segurança pública em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas tratou com surpreendente desenvoltura um tema delicado: a presença do Primeiro Comando da Capital no estado e seus reflexos nas estatísticas relativas a mortes violentas.

"O crime organizado, no fim, está por trás de grande parte da violência no Brasil. Isso explica, às vezes, até a própria estatística aqui em São Paulo, que é uma estatística favorável, mas é favorável em função até da predominância ou da hegemonia de uma facção", afirmou o mandatário durante evento realizado no Instituto Brasileiro de Ensino, na semana passada.

A tradição entre governantes paulistas sempre foi a de minimizar, quando não apenas negar, o porte da facção e suas consequências na vida social e institucional —agora com desdobramentos internacionais e movimentações bilionárias em escala nunca antes vista. Em 2012, Antônio Ferreira Pinto, secretário da Segurança de Geraldo Alckmin, declarou que o PCC não chegaria a "30 ou 40 indivíduos"...

O grupo, no discurso oficial, era tratado como uma espécie de matéria escura, que se mantém invisível, mas se sabe, como na cosmologia, que, sem a sua presença, o sistema não poderia funcionar como funciona. Parte importante da mídia, inclusive, recusava-se a nomear a organização.

Sempre houve muitas dificuldades políticas para reconhecer o papel desempenhado pelo PCC, entre elas a opção por vender os programas que vieram, de fato, a aperfeiçoar o desempenho da polícia e a ajudar a reduzir a taxa de homicídios ao longo de anos. Um aspecto que a oposição, naturalmente, tendia a não contemplar, atribuindo só à facção monopolista a queda das mortes violentas no estado.

Foram realmente feitos investimentos na polícia, mas a ausência de disputas sangrentas pelo controle do tráfico de drogas, a exemplo do que se verifica no Rio, não pode ser deixada de lado numa análise sobre as taxas de homicídio.

Tarcísio fez uma observação empírica, que ajuda a comprovar o que disse:

"Se a gente pegar o mapa de São Paulo, vai ver que onde morre mais gente é justamente no Vale do Paraíba. E aí tem uma ação, uma tentativa de entrada no território de São Paulo por organizações criminosas do Rio de Janeiro e a contenção do Primeiro Comando da Capital."

Segundo o diretor do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, não há detalhamento atual sobre que parcela da queda dos homicídios poderia ser atribuída à hegemonia da facção em São Paulo. Ele publicou, em 2018, com colegas, um estudo acadêmico no Journal of Quantitative Criminology intitulado "Pax Monopolista". Os dados são de 2005 a 2009, já longínquos para a realidade de nossos dias, mas a conclusão permanece sugestiva: a presença do PCC estava associada a uma redução de 11% na criminalidade violenta nas favelas onde havia penetrado.

Hoje não é mais possível deixar de admitir a incontestável presença do PCC e seus reflexos em estatísticas. A matéria escura agora está na verdadeira dimensão da penetração do grupo e congêneres nas instituições da República, na vida política e na polícia. Os presídios, como se sabe, há muito estão dominados.

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