O Globo
Um pessimismo glacial domina as análises do mercado financeiro sobre a economia, que tem alguns problemas e bons números
A economia este ano desafiou todos os
prognósticos e cresceu mais do que o mais otimista havia previsto. Fechar o ano
em 3,5%, com a agricultura no negativo e com o Banco Central subindo os juros a
partir de agosto foi impressionante. O crédito pessoal e corporativo cresceu,
apesar dos juros. E como será o próximo ano? Está mais difícil calcular porque
o país começará o ano no meio de um choque violento de juros. Mesmo assim, há
previsões de crescimento entre 1,5% a 2,2%. A agricultura terá um resultado positivo
no ano que vem, já a indústria certamente voltará ao terreno negativo e o
desemprego vai subir, mas não se espera uma escalada.
Um pessimismo glacial domina grande parte do mercado financeiro, mas com pouca sustentação nos fatos. É difícil encontrar quem faça uma análise objetiva da conjuntura. Normalmente, o que se ouve são repetições de clichês. Uma das frases comuns é a de que o governo está repetindo erros do governo Dilma, que levaram ao aumento do déficit público, da inflação e à queda do PIB. É sério isso? De um interlocutor mais sereno do mercado financeiro ouvi que não faz qualquer sentido tal comparação.
—Temos problemas? Sim, temos. Mas significa
que o Brasil está caminhando para repetir o que houve no governo Dilma? Não,
isso é exagero. A Petrobras está com o preço congelado? Não está. A Petrobras
está rodando muito bem, com lucro, com ação subindo. E a Eletrobras está sendo
usada? Não, a Eletrobras foi privatizada. Não tem intervenção no mercado de
etanol. O crédito subsidiado está crescendo? Também não está. Há problemas
fiscais, mas não são da mesma ordem.
Não houve postergação de despesas, as
conhecidas pedaladas. Pelo contrário, houve o pagamento dos precatórios que o
governo Bolsonaro pedalou para 2026. Esse pagamento, no começo de 2024, explica
em parte o crescimento maior do consumo, pois foi um estímulo à economia. Mas
fazer o que? Não pagar dívida judicial transitada em julgado?
— O consumo no primeiro trimestre, como
efeito do precatório, veio muito forte, surpreendeu todo mundo. Mas a economia
do segundo e terceiro trimestres também foi muito bem. Então, apesar dos juros
altos, o crescimento de crédito esse ano tem sido muito superior ao estimado
pela Febraban. Foi um ano de crédito muito forte, com mercado de trabalho forte
— me disse essa fonte.
O crédito corporativo subiu em parte porque
no ano passado houve dois eventos muito ruins, o escândalo das Lojas Americanas
e a recuperação judicial da Light, que abriram muito o spread, elevando os
juros cobrados nos empréstimos para as empresas. Em 2024, a taxa de risco
diminuiu e o crédito corporativo ficou mais barato. No primeiro semestre, o
país ainda vivia o tempo do corte de juros, várias empresas conseguiram emitir
dívida com custo mais baixo. Houve recorde de emissão de debêntures
incentivadas. O crédito pessoa física se expandiu porque ele é muito efeito de
renda e emprego e o mercado de trabalho ficou aquecido, com salário real
crescendo.
O déficit público será menor do que o
previsto pelo mercado. Segundo minhas fontes, haverá, no fim do ano, um
empoçamento de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões. E foram bloqueados outros R$ 15
bi. No ano que vem, não vão se repetir alguns fatores de arrecadação maior,
como a tributação sobre estoques dos fundos exclusivos e offshore. Por isso, o
mercado está prevendo um déficit de 0,7% do PIB.
Nesse momento, o pacote de ajuste está no
Congresso. Ele tem, como já escrevi aqui, medidas corajosas como a mudança da
política de salário mínimo, que tem impacto importante e a alteração do abono.
A equipe econômica queria incluir uma mudança no seguro- desemprego que
desestimulasse a rotatividade. Mas não conseguiu. O país tem um problema
estranho com o seguro desemprego. É o único país do mundo que quando o mercado
de trabalho está muito bom, o seguro-desemprego ao invés de cair, aumenta. Há
alguma coisa errada. Entre 2016 e 2021, o Brasil teve taxa de desemprego acima
de 10% ao ano, e o seguro-desemprego caiu. Este ano, o Brasil está no menor
desemprego em 12 anos, e o seguro-desemprego aumentou. A equipe tentou
encontrar uma fórmula de corrigir essa distorção, mas foi derrotada
internamente.
Fazer ajuste fiscal no Brasil é enfrentar
fogo amigo, ceticismo do mercado, tentativa de desidratação e jabutis no
Congresso. Com tudo isso, a economia tem crescido.
A colunista entende do riscado.
ResponderExcluirA colunista está coberta de razão!
ResponderExcluirEla caminha para ser Nassif? MAM
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