terça-feira, 5 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É preciso desvincular BPC e aposentadoria do salário mínimo

O Globo

Plano de controle de gastos do governo deve ir além de ajustes pontuais para promover mudanças estruturais

Com a cotação do dólar em alta recorde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adiou uma viagem à Europa para enfim apresentar seu pacote para controle de gastos. Será melhor se a proposta for além de apenas ajustes pontuais, incapazes de resgatar a credibilidade do arcabouço fiscal. Para mostrar que leva a sério o compromisso de reduzir a trajetória preocupante da dívida pública, o governo precisa tomar decisões duradouras de caráter estrutural. A mais evidente é desvincular a correção das aposentadorias e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) do salário mínimo.

Por que apoiadores de Trump também devem ter cautela se ele voltar ao poder - Paul Krugman

The New York Times / Folha de S. Paulo

Não sei quem vencerá a eleição presidencial. Ninguém sabe. Mas há, obviamente, uma chance substancial de que Donald Trump retorne ao poder. Estou preocupado com o nosso país e com o que minha própria vida seria sob um segundo mandato de Trump. E você também deveria estar.

O primeiro mandato de Trump, no qual nossa democracia permaneceu relativamente intacta, é um mau modelo para o que acontecerá se ele conseguir um segundo. As barreiras que o contiveram da última vez desapareceram. Se ele recuperar o poder, esta pode muito bem ser a última eleição mais ou menos livre e justa da América por um longo tempo.

E então? Alguns sugeriram que podemos estar caminhando para uma "autocracia suave" como a de Viktor Orban na Hungria, na qual o partido governante mantém o poder manipulando eleições, controlando os tribunais e silenciando a mídia, em vez de através de repressão violenta.

A eleição mais importante - Merval Pereira

O Globo

Se Trump vencer, o mundo entrará numa espiral de violência muito grande, especialmente neste momento em que duas guerras que têm potencial de se transformar em conflitos globais dependem da posição dos Estados Unidos

Ao declarar publicamente que preferia a vitória da democrata Kamala Harris na eleição presidencial de hoje nos Estados Unidos, o presidente Lula deixou novamente que sua posição pessoal superasse os interesses nacionais. “Países não têm amigos, apenas interesses”, diz o adágio diplomático citado com frequência. Assim como não existem amigos na agenda internacional. Lula certamente pensou na relação entre Trump e a família Bolsonaro.

Mas a propalada amizade entre Trump e Bolsonaro, base para a defesa de uma política externa atrelada aos Estados Unidos, foi desmistificada pelos próprios americanos, ao apoiar que Argentina e Romênia iniciassem antes do Brasil o processo de entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2019, fazendo com que o nosso atrasasse. Só foi formalizado em 2022, já no governo de Joe Biden.

A democracia e o Vale do Silício – Pedro Doria

O Globo

A sociedade tem direito a voz a respeito de seu futuro? Esta é uma das principais questões nas cédulas americanas, hoje. Se as empresas do Vale podem fazer o que quiserem. Ou se não podem

À medida que os americanos depositarem seus votos nas urnas, durante o dia de hoje, de certo modo o futuro da indústria da tecnologia será decidido. Muitos dos casos antitruste movidos contra as grandes empresas da região seguirão com mais ou menos agressividade dependendo de quem será o próximo presidente dos Estados Unidos. E não é só isso. O Vale do Silício rachou ideologicamente pela primeira vez na História.

Nenhum estado é tão explicitamente americano quanto a Califórnia. Quando o México declarou independência, aquele era um canto tão longínquo que a elite branca se recusou a ocupá-lo. Foi o tempo dos dons, fazendeiros de gado de chifres longos, equivalentes a nossos coronéis do Nordeste ou caudilhos do Sul. Não durou muito. Os americanos viram na Baía de San Francisco um portal dos Estados Unidos para o comércio com a China através do Pacífico. Desde cedo, a Califórnia foi multicultural. San Francisco já nasceu uma cidade em que se falava, em qualquer esquina, espanhol, inglês e cantonês, em que sempre se comeram burritos e dim sum. Jamais deixou de ser assim, um caldeirão onde as culturas se misturam.

O que calcula o mercado financeiro - Míriam Leitão

O Globo

Economistas de bancos e consultorias esperam um corte de pelo menos R$ 35 bilhões nas novas medidas a serem anunciadas pelo governo

O que seria um bom resultado para as medidas de ajuste a serem anunciadas? Um número que ouvi em um grande banco foi de R$ 35 bilhões de corte, desde que não incluísse o que foi cortado anteriormente no orçamento do ano que vem, ou seja, os R$ 25 bilhões já anunciados. Mas há economistas que esperam R$ 50 bilhões. O que se deseja é que a trajetória da dívida, em algum momento, se inverta. No dia de ontem, de expectativa do anúncio das medidas de ajuste, a bolsa subiu, o dólar e os juros futuros caíram, apesar da alta da Selic que acontecerá na quarta-feira. Mas, em relação aos indicadores financeiros, tudo pode mudar. Ou seja, a queda de ontem é parte da volatilidade.

Uma medida aguardada é que o acesso ao Abono Salarial seja pela renda familiar e não pela renda individual. Isso aumentaria o foco do programa, que sempre foi criticado pelos economistas como pouco focado. Outra medida aventada é o aumento da parcela do Fundeb incluída no cálculo do piso da educação, que hoje é de 30% e poderia ir para 50% ou 60%. Isso não é corte em si, mas uma flexibilidade maior do orçamento.

Bancada de Musk busca comando da Câmara - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Bancada de Musk busca uma reeleição com musculatura e pode impactar a atuação do Legislativo e o Supremo brasileiros no embate com o golpismo e pela regulação das redes

Em 17 de abril, o deputado republicano por Ohio, Jim Jordan, publicou um relatório de 541 páginas com 90 despachos do Supremo Tribunal Federal determinando ao X a retirada de postagens e perfis da plataforma. O texto, que tem a assinatura de Jordan, empurra as fronteiras americanas ao sul e acusa Alexandre de Moraes. Por censurar a oposição e atacar a liberdade de expressão estaria sujeito ao impeachment.

O deputado divulgou este relatório na condição de presidente da Comissão de Assuntos Judiciários da Câmara dos Deputados dos EUA, o equivalente à Comissão de Constituição e Justiça no Brasil. Nesta terça-feira, Jordan não busca apenas a reeleição ou mais uma comissão poderosa. Fez campanha além de seu distrito, com doações para colegas, em busca de apoio para se tornar o líder de seu partido na Câmara. Com isso, se os republicanos fizerem maioria na Casa, se tornaria o segundo na linha sucessória, atrás apenas do vice.

Desafios por trás da demografia - Luiz Schymura

Valor Econômico

Hoje é o dia da eleição presidencial estadunidense. Como tem sido amplamente noticiado, a disputa entre a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump está bastante acirrada. Difícil cravar um prognóstico. Como se sabe, o resultado das urnas poderá ocasionar mudanças expressivas na condução da política econômica da maior potência do planeta. Embora não se saiba ao certo como a economia brasileira será afetada em cada um dos dois cenários, a simples incerteza já é motivo suficiente para gerar forte apreensão dos analistas econômicos.

Diante de um evento internacional com consequências tão imprevisíveis, o que nos resta é fazer o nosso dever de casa com afinco. Nessa toada, há um número grande de políticas públicas que devem ser constantemente reavaliadas e outras que devem ser gestadas. Na busca pelo caminho a ser perseguido, algumas estatísticas devem ser estudadas com atenção redobrada. Esse é o caso das Projeções da População do Brasil e Unidades da Federação (Revisão 2024), divulgada em 22 de agosto pelo IBGE, nas quais são apontadas mudanças significativas na evolução da demografia brasileira. Como se verá adiante, esse novo mapa traz surpresas que deveriam suscitar ajustes nos rumos das políticas públicas. Na verdade, as surpresas aqui entendidas são fruto do confronto entre as projeções realizadas em 2018 (Revisão 2018) e a Revisão 2024. Afinal, as políticas públicas aprovadas após 2018 tomavam como base a evolução da demografia brasileira apontada na Revisão 2018. Com a divulgação da Revisão 2024, e a consequente atualização das projeções, ajustes de rota se mostram necessários.

Produtividade, crescimento e distribuição de renda - João Saboia

Valor Econômico

Investimentos e educação são fundamentais para o crescimento da produtividade e é por aí que passa a solução para a expansão da economia com melhoria da distribuição de renda no futuro

Voltando ao Brasil em 1975, após meu período de doutorado na Universidade da Califórnia, em Berkeley, pude acompanhar o debate que ocorria por aqui sobre as causas da piora da distribuição de renda no país.

De um lado estava o economista Carlos Langoni, que teve acesso privilegiado aos dados individuais do Censo de 1970, e defendia a tese de que a piora se devia principalmente a um problema de oferta e demanda por mão de obra qualificada no país, que estava crescendo a altas taxas e precisava desse pessoal mais qualificado. Isso teria induzido a um aumento de seus salários com consequente piora na distribuição de renda.

Do outro lado se posicionaram vários economistas como Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo, Paul Singer, Rodolfo Hoffmann, Edmar Bacha, José Serra e outros que culpavam o modelo econômico de “aumentar o bolo para depois distribuir”, conforme sugerido por Delfim Neto.

Um dos livros mais importantes, publicado pela Zahar Editora em 1975, discutindo a questão da piora da distribuição de renda no período, foi “A Controvérsia sobre Distribuição de Renda e Desenvolvimento”, organizado pelo saudoso Ricardo Tolipan, ex-professor do Instituto de Economia, e Arthur Tinelli. Um dos capítulos mais interessantes do livro é “Distribuição de Renda e Desenvolvimento Econômico do Brasil”, escrito por Pedro Malan e John Wells, em que os autores praticamente destroem os argumentos de Langoni sobre as causas da piora da distribuição de renda no Brasil naquele período, atribuindo tal piora ao modelo econômico implantado pelo governo militar.

As promessas de Trump - Luiz Gonzaga Belluzzo

Valor Econômico

Embornal de promessas inclui adoção de fortes medidas protecionistas e ameaças de imposição de sanções aos países que ousarem escapar do dólar

Na campanha eleitoral, Donald Trump sacou de seu embornal de promessas a adoção de fortes medidas protecionistas. O embornal abrigou também ameaças de imposição de sanções aos países que ousarem escapar do dólar. Vou arriscar modestas considerações a respeito das peripécias da “moeda universal” ao longo da história.

A história da economia mundial, desde meados dos anos 40, não pode ser contada sem a compreensão das peripécias do dólar em seu papel de moeda-reserva universal. No imediato pós-guerra, sob a égide de Bretton Woods, o poder do dólar sustentou três processos simultâneos:

Boom econômico dos EUA é uma miragem - Ruchir Sharma

Valor Econômico

Suas características desiguais e frágeis ajudam a explicar por que tantos americanos votarão com ressentimento

Os Estados Unidos vão às urnas enquanto a economia parece mostrar uma força incomum. A um crescimento médio de quase 3% por nove trimestres consecutivos, o país vem atraindo enormes fluxos de dinheiro estrangeiro, que ajudaram a elevar sua participação no mercado acionário mundial para bem acima de 60%, um recorde. Ainda assim, os eleitores continuam pessimistas a respeito de suas perspectivas econômicas e financeiras.

Por quê? Para a maioria dos americanos, o crescimento dos Estados Unidos é uma miragem, puxado pelo aumento da riqueza e dos gastos discricionários dos consumidores mais ricos e distorcido pelos crescentes lucros das grandes empresas. Os tempos parecem ser bons, mas esse crescimento é desigual, frágil e altamente dependente dos gastos e do endividamento do governo, que em geral é o credor de última instância.

Embora o mundo admire o consumidor “inafundável” dos Estados Unidos, um número cada vez maior de pessoas tem ficado excluído do mercado imobiliário e acumulado dívidas no cartão de crédito. Os 40% mais pobres em renda agora representam 20% de todos os gastos, enquanto os 20% mais ricos respondem por 40%. É a maior diferença já registrada nos EUA e é provável que se amplie ainda mais, segundo a consultoria Oxford Economics. Agora, a maioria dos americanos precisa gastar uma fatia tão grande de seu dinheiro nos itens essenciais, como os alimentos, que pouco sobra para extras como viagens ou jantares fora.

Mas não é censura - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Flávio Dino mandou destruir livros. Mandou destruir livros mandando avisar que não praticava censura. Não seria censura; apenas ato estatal para “coibir abusos ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensamento”. Não seria censura; apenas censura sobre o que o juiz considera uso indevido – “uso extremado”, segundo a constituição xandônica – da liberdade de expressão.

Fez lembrar Cármen Lúcia, no TSE, que – também operadora do direito xandônico – votou pela censura a um filme advertindo que os efeitos da decisão deveriam cessar imediatamente caso a censura autorizada produzisse censura.

Dino mandou destruir os livros, com uma ressalva: as obras poderiam circular novamente se removidos os trechos preconceituosos. Já fazem isso com os clássicos. Falta fazer com a Bíblia Sagrada.

A frágil jactância da força – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

As promessas de Bolsonaro, dizendo que a direita está em suas mãos

Regrinha básica da vida e suas circunstâncias: quem é forte e está seguro disso não alardeia a posse da força. Faz-se potente na prática e assim demonstra a vitalidade do poder exercido. Vale para tudo e melhor ainda quando na companhia de maior ou menor grau de moderação.

Na política acabamos de ver dois exemplos opostos: o de um deputado que reza por essa cartilha e o de um ex-presidente que ignora a serventia da lição.

Em fim de mandato na presidência da Câmara, Arthur Lira (PP) ao microfone faz piada com a queda na temperatura do próprio café enquanto no bastidor constrói aliança ampla de apoios para eleger o sucessor. Gostemos ou não dos métodos, trata-se do exercício real de autoridade.

PEC da Segurança aprovação difícil - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Até Tarcísio concorda com o petista: crime organizado age nas instituições do país inteiro

Cláudio Castro deixou a reunião em torno da PEC da Segurança Pública reclamando. Ele e outros governadores bolsonaristas, alguns dos quais nem compareceram ao Palácio do Planalto, não aceitam a proposta de a PF colaborar nas investigações sobre organizações criminosas e milícias e a que dá poderes ostensivos à PRF. Castro teme a perda de autonomia e que o pacto federativo crie "uma bagunça maior".

Bagunça? Não é novidade para ninguém que Cláudio Castro está mais perdido que trabalhador em tiroteio na avenida Brasil. Não sabe o que quer nem o que fazer. Foi ele quem pediu ajuda ao governo federal, depois que a PM bateu em retirada num confronto com traficantes evangélicos. De tanto permitir que secretarias, delegacias e batalhões fossem loteados por políticos, o governador não tem mais controle sobre as polícias. Com dois anos de mandato pela frente, o seu cafezinho já é servido frio.

Kamala ou o silêncio? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Não é prudente, nem da tradição diplomática, que presidentes assumam publicamente apoio a um candidato em outro país, mas as eleições nos Estados Unidos são tão decisivas e estão tão indecisas que o presidente Lula não tinha alternativa. Sua defesa da democrata Kamala Harris e sua crítica aberta a Donald Trump fazem sentido, pois o que está em jogo é a democracia, e não apenas a norte-americana.

Tecnicamente, digamos assim, a manifestação de Lula é um erro diplomático um tanto óbvio, já que Trump tem tanta chance de vencer quanto Kamala.

E se ele vencer? Como ficarão as relações presidenciais e comerciais, os investimentos e acordos de cooperação?

Quem é melhor para o Brasil: Trump ou Kamala? - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Ambos são protecionistas e entendem que é preciso conter a expansão econômica da China

Lula não deveria ter expressado sua torcida na eleição americana. Seja quem for o próximo presidente, é de nosso interesse ter uma boa relação. Ter chamado Trump de contrário à democracia, fascista e até mesmo nazista em nada nos ajudará se ele for eleito.

Dito isso, é fato que, no que diz respeito à democracia liberal, Kamala é melhor que Trump. O mundo vive um retrocesso democrático, que também se faz sentir no Brasil. A eleição de Trump será um duro golpe a todo o esforço de proteger as regras do processo democrático e as salvaguardas institucionais contra movimentos populistas que buscam derrubá-las. Ele não só criará um momentum favorável para o populismo de direita como também poderá criar embaraços para o STF, contra quem Elon Musk deve acalentar desejos de vingança.

Outra pauta em que Kamala é melhor para nós é o meio ambiente. Para Trump, restrições ambientais são um estorvo inútil. Ele deve desregulamentar a economia americana para crescer mais rápido no curto prazo e não participará de nenhuma iniciativa global contra a mudança climática.

Colégio eleitoral multiplica incertezas - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Sistema americano visava equilibrar instituições majoritárias e contramajoritárias, mas envelheceu mal

Kamala ou Trump? Ainda que os EUA fossem uma democracia normal, em que vence o pleito presidencial o candidato que obtém o maior número de votos nacionalmente, já seria difícil cravar um palpite. A maioria das pesquisas feitas nos últimos dias dá empate técnico entre os dois postulantes.

Nos EUA, entretanto, a eleição presidencial é definida pelo colégio eleitoral, num sistema que multiplica as incertezas. Ele faz isso reduzindo drasticamente o número de eleitores "que importam". Estados com clara maioria democrata ou republicana "se cancelam", restringindo a disputa aos chamados estados-pêndulo, em que a eleição pode ir tanto para um lado como para o outro.

Kamala e Trump diante do "sonho americano" – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Inteligência artificial, biotecnologia, robótica, internet das coisas e blockchain estão transformando profundamente a economia, a sociedade e até mesmo o conceito de humanidade

O mundo acompanha com grande expectativa as eleições presidenciais nos Estados Unidos, nas quais a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump chegam às urnas, nesta terça-feira, praticamente empatados nas médias nacionais. Há diferenças políticas abissais entre ambos. Harris, se vencer, será a primeira mulher a governar os Estados Unidos; Trump pode vir a ser o primeiro ex-presidente derrotado numa eleição a voltar ao poder. São eleições realmente atípicas.

O presidente Joe Biden desistiu de concorrer à reeleição para não perder para Trump, que havia derrotado quando pleiteava o segundo mandato. Com sua renúncia, Kamala foi aclamada candidata pelo Partido Democrata e recuperou o terreno perdido em poucas semanas. Sua pequena vantagem, porém, nesses últimos dias de campanha, está diminuindo. Para alguns analistas, Trump voltou a ser favorito na disputa. Só nos resta aguardar os resultados do pleito, que combina eleições diretas nos estados e um colégio eleitoral de delegados, que representa a federação e elege o presidente. Na maioria dos estados, quem ganha as eleições elege todos os delegados, não há proporcionalidade.

O que a economia americana tem a perder com uma vitória de Trump? - Alexandre Mathias*

Correio Braziliense

O que se espera é uma política comercial mais dura, menos regulamentações e um relaxamento sobre mudanças climáticas

É impossível dizer quem será o vitorioso nas eleições americanas. O que se sabe é que os mercados acompanharam o movimento das casas de apostas que apontam um favoritismo do ex-presidente Donald Trump. O resultado disso é que, desde o fim de outubro, o dólar tem se fortalecido, enquanto as taxas de juros atingiram o ponto mais alto em três meses. 

Contudo, é importante lembrar que, historicamente, o mercado de ações dos Estados Unidos apresenta um bom desempenho após as eleições. Nos últimos 80 anos, somente em três ocasiões, a bolsa não registrou ganhos entre o período eleitoral e o fim do ano. A explicação está no fato de que o mercado costuma seguir a economia e os fundamentos das empresas, sem se apegar aos ruídos inerentes às campanhas eleitorais.

Muita coisa está em jogo nesta eleição, e com efeitos sobre o mundo todo. Inflação, imigração, aborto e política externa estão entre as questões centrais. Mas a composição do Congresso americano será fundamental para determinar a extensão com que as propostas poderão ser implementadas. 

Os Quatro da Candelária e o “mistério de Nápoles” - Vagner Gomes de Souza*

“(...) Ocorre ainda hoje que homens relativamente jovens (com pouco mais de 40 anos), de ótima saúde, no pleno vigor das forças físicas e intelectuais, depois de vinte e cinco anos de serviço público, não se dediquem mais a nenhuma atividade produtiva, mas vegetem com aposentadorias mais ou menos elevadas, ao passo que um operário só pode desfrutar de uma aposentadoria depois de 65 anos e um camponês não tem limite de idade para o trabalho (por isso, o italiano médio se surpreende quando ouve dizer que um americano multimilionário continua ativo até o último dia  de sua vida consciente). Se numa família um padre se torna cônego, imediatamente o ‘trabalho manual’ se torna ‘uma vergonha’ para toda a parentela; no máximo,  é possível dedicar-se ao comércio”

Antonio Gramsci - Caderno 22: “Americanismo e fordismo” pp. 245-246.

O seriado “Os Quatro da Candelária” é uma oportunidade para elaborar um balanço político sobre as últimas três décadas da política carioca. Em quatro episódios, nós testemunhamos as idas e vindas de seus personagens moradores de rua num país a beira da hiperinflação. Um país na “antessala” do Plano Real (1994). As considerações de Antonio Gramsci em “Americanismo e Fordismo”, provavelmente escritas em 1934, sugerem uma teoria política sobre as sociedades “infladas” pelos mais diversos níveis de “clientelismo” pela via da superestrutura estatal.