Embora represente três a quatro por cento do
PIB, uma das principais vítimas dessa ingovernabilidade é o setor mineral, com suas
reservas primárias e industrias de transformação em consolidação. Parece
nem existir para o atual Governo. Justifica-se com a informação de que ele é
disciplinado pelo chamado Plano Nacional de Mineração 2030, que o
reconheceria como de interesse nacional e, como tal, procura
agregar valor e promover o uso racional dos bens minerais do País. O PNM-2030 seria
“o primeiro Plano de longo prazo a contemplar a industrialização e a
transformação mineral" no Brasil. Mas, no setor, há um
desânimo generalizado, que leva ao fechamento de empresas e a transferência de outras
para o capital estrangeiro.
Instituído em 2011, para vigorar por 20 anos,
o PNM – 2030 é considerado uma ferramenta estratégica para nortear as políticas
que possam contribuir para que o setor mineral seja um alicerce para o
desenvolvimento nacional sustentável, à espera da COP-30. Sua formulação
é de autoria de um grupo de trabalho da área mineral, financiado pelo Banco
Mundial, que projetou perspectivas setoriais para a mineração e a transformação
mineral no Brasil, ao longo de vinte anos.
Participaram da sua elaboração cerca de 400
técnicos e políticos representando o Ministério das Minas e Energia, de órgãos
especializados (DNPM, CPRM), empresários e políticos. Foram traçados
cenários, diretrizes, metas, programas sofisticados para o setor mineral
no Brasil, e que seriam atualizados periodicamente. Contudo, não
são muitos que se lembram disso no meio dessa parafernália de debates políticos
inócuos. O Ministério é entregue a partidos em troca de apoio no Congresso, e
fica por aí.
A área mineral no Brasil tem vivido
sucessivas crises por imperícia nas negociações externas e nos diálogos
internos. Todo mundo quer ganhar no grito. É o caso da exploração do petróleo
na foz do Amazonas. Alimentou-se um discurso de que o Brasil seria
líder mundial na produção da "energia verde”, embora engatinhe nessa
área tecnologicamente. Propagou-se insistentemente que as reservas brasileiras
do Pré -Sal eram as maiores do mundo. O Brasil chegou pedir para ingressar na OPEP.
Desdenhou-se do carvão polonês que alimentavam as exportações de aço do Brasil,
e agora, meio tarde, conclui-se pela sua importância. Aceitou-se trocar a não
exploração das reservas de potássio (k) do Brasil (composição do NPK: corretor
dos solos) por acreditar nas promessas de que a Rússia forneceria fertilizantes
mais baratos. Os alemães entraram nessa fria, ao abdicar de suas usinas
nucleares, confiando que os russos forneceriam o gás natural.
Além da matéria prima mineral ser tratada
como elemento estratégico para fabricação até de foguetes espaciais
nos Estados Unidos, na Rússia, Alemanha, no Japão e na China, o Brasil
abre mão de suas reservas sob a forma de produto primário à espera de saldos na
balança comercial para cobrir o déficit público, sem considerar os riscos da
concentração da relação de troca de alguns produtos em um só país, acreditando
em promessas de governantes de plantão. Por falta de conhecimento mesmo,
os governos brasileiros são muito duros com as empresas nacionais. Trocamos
nossos empresários por promessas ideológicas vindas do exterior. A Braskem,
maior produtora de resinas termoplásticas das Américas, vem sendo criminalizada
fortemente por um acidente - grave evidentemente - em Alagoas, na exploração do
sal-gema para a indústria química. Trata-se uma empresa com 36 plantas
industriais distribuídas pelo Brasil, Estados Unidos e Alemanha, e produz
anualmente mais de 16 milhões de toneladas de resinas termoplásticas e outros produtos.
Maior produtora de biopolímeros do mundo, tem capacidade para fabricar 200 mil
toneladas de polietileno derivado de etanol de cana-de-açúcar. Em 2014, a
Braskem já havia sido reconhecida como uma das 50 empresas mais inovadoras do
mundo, segundo a revista norte-americana Fast Company.
Veio o lítio aplicado no tratamento de
transtornos bipolares e outros distúrbios psíquicos que o Brasil explora com
moderação, embora seja detentor da quinta maior reserva do planeta. Entre os
sócios da Companhia Brasileira do Lítio estão a canadense Sigma Lithium e,
estrategicamente, a chinesa BYD, uma montadora que usa o mineral para
produzir as tais baterias dos carros elétricos, agora instalada na Bahia.
Chegou a vez do nióbio. Não é um mineral
raro, mas é estratégico, como aplicações na indústria aeroespacial, pela
resistência à corrosão e pela fusão a partir de 1.900 graus; usado em
gasodutos e oleodutos, na construção civil (adicionar o nióbio no aço), para
supercondutores, ligas de nióbio e titânio destinadas a aparelhos de
ressonância magnética, e até acelerador de partículas no campo da Física. Existem
mais de 70 reservas em todo o mundo, mas quase 90 da produção concentra-se no
Brasil. Lá está a BYD, empresa chinesa cujo nome significa
"Build Your Dreams" ou "Construa seus sonhos". É ela quem
está comprando a Mineradora Taboca, da empresa Minsur, de capital peruano,
embora operando com reservas brasileiras, por US$ 340 milhões, A manchete do
jornal é a de que “A chinesa BYD adquire direitos de exploração de
lítio no Brasil". A Taboca explora a mina de estanho a céu aberto de
Pitinga, localizada em plena Amazônia, que "opera em área com resíduo de
urânio". É considerada uma das maiores jazidas de estanho não
desenvolvidas do mundo. Esta teria sido uma das razões de Ji
Jinping, presidente da China, ter vindo para a reunião de G-20, visitado a
presidente do Peru, Dina Baloarte, e passado um dia com Lula, no Alvorada.
Não seria o caso do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), uma autarquia federal que atua na defesa da concorrência e na repressão de abusos do poder econômico, se manifestar ou já se manifestou, e ninguém sabe? O Cade é vinculado ao Ministério da Justiça.
* Jornalista e professor
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.