terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Lula reza no altar do Alcolumbre - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Para agradar ao senador-chefe, presidente não hesita em desqualificar o Ibama

Entre respeitar o Ibama e agradar ao presidente do Senado, Luiz Inácio da Silva (PT) não tem dúvida: sacrifica a reputação do instituto no altar de Davi Alcolumbre (União-AP). Isso enquanto cresce a rejeição aos atos do governo ante as agruras da vida.

Fazia um bom tempo que o chefe da nação não falava sobre a exploração de petróleo na foz do Amazonas —até que houve a troca de comando no Congresso.

De lá para cá, em pouco menos de 20 dias, o assunto assumiu destaque recorrente nas manifestações de Lula. Não que ele tenha para isso mudado de posição. Sempre foi favorável à prospecção da Petrobras na margem equatorial; e aqui deixo para os experts a questão ambiental para abordar o aspecto político da coisa.

Considerando que o Ibama está na última fase do exame ao pedido de licenciamento, Lula não precisaria aludir à "lenga-lenga" para afetar vitória no grito sobre os técnicos, a fim de subir na escala de contrapartidas no cardápio do senador-chefe.

O presidente da República acena com a produção de muita riqueza para a região Norte, com projeções de encher os olhos na expectativa de se rechearem os bolsos. Nessa perspectiva, conta, talvez, com o esquecimento sobre o destino na dinheirama da onda do pré-sal. O Rio de Janeiro, por exemplo, beneficiário dos royalties, segue quebrado chorando por renegociação generosa da dívida do estado.

Voltemos a Alcolumbre, a quem Lula prometeu publicamente liberar a licença do Ibama já no primeiro dia útil do senador no novo posto, segunda-feira, 3 de fevereiro. Foi a reivindicação inaugural, prontamente atendida antes das tratativas sobre a agenda geral do Congresso. Digamos que tenha havido um casamento perfeito de interesses. O presidente queria cativar a simpatia do senador e, para isso, usou um trunfo sem precisar ferir suas convicções.

No entanto, Lula contrariou as próprias palavras segundo as quais o pedido da petroleira seria analisado sem interferência do Palácio. Não é o que se vê agora no constrangimento aos técnicos por razões políticas.

 

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