Folha de S. Paulo
Para agradar ao senador-chefe, presidente não
hesita em desqualificar o Ibama
Entre respeitar o Ibama e
agradar ao presidente do Senado, Luiz
Inácio da Silva (PT) não tem dúvida: sacrifica a reputação do instituto no
altar de Davi
Alcolumbre (União-AP). Isso enquanto cresce a rejeição aos atos do
governo ante as agruras da vida.
Fazia um bom tempo que o chefe da nação não falava sobre a exploração de petróleo na foz do Amazonas —até que houve a troca de comando no Congresso.
De lá para cá, em pouco menos de 20 dias, o
assunto assumiu destaque recorrente nas manifestações de Lula. Não que ele
tenha para isso mudado de posição. Sempre foi favorável à prospecção da Petrobras na
margem equatorial; e aqui deixo para os experts a questão ambiental para
abordar o aspecto político da coisa.
Considerando que o Ibama está na última fase
do exame ao pedido de licenciamento, Lula não precisaria aludir
à "lenga-lenga" para afetar vitória no grito sobre os
técnicos, a fim de subir na escala de contrapartidas no cardápio do
senador-chefe.
O presidente da República acena com a
produção de muita riqueza para a região Norte, com projeções de encher os olhos
na expectativa de se rechearem os bolsos. Nessa perspectiva, conta, talvez, com
o esquecimento sobre o destino na dinheirama da onda do pré-sal. O Rio de
Janeiro, por exemplo, beneficiário dos royalties, segue quebrado chorando por
renegociação generosa da dívida do estado.
Voltemos a Alcolumbre, a quem Lula prometeu
publicamente liberar a licença do Ibama já no primeiro dia útil do senador no
novo posto, segunda-feira, 3 de fevereiro. Foi a reivindicação inaugural,
prontamente atendida antes das tratativas sobre a agenda geral do Congresso.
Digamos que tenha havido um casamento perfeito de interesses. O presidente
queria cativar a simpatia do senador e, para isso, usou um trunfo sem precisar
ferir suas convicções.
No entanto, Lula contrariou as próprias
palavras segundo as quais o pedido da petroleira seria analisado sem
interferência do Palácio. Não é o que se vê agora no constrangimento aos
técnicos por razões políticas.
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