O Estado de S. Paulo
Com a confirmação de que São Sidônio não faz
milagre, o governo arregaçou as mangas para dar boas notícias e recuperar a
popularidade do presidente Lula. Exemplo: medidas para conter os preços
abusivos dos alimentos, decreto para evitar 6% de aumento nas contas de luz,
liberação do FGTS de quem tinha optado pelo saque-aniversário e a ampliação do
empréstimo consignado para o setor privado, enquanto dá prioridade à aprovação
da isenção do IR até R$ 5.000 no Congresso.
Sendo ou não realmente necessárias, são medidas populistas, ou populares, e coincidem com um recuo de Fernando Haddad no palco, a entrada em cena de Gleisi Hoffmann, Lula se preservando e o vice e ministro Geraldo Alckmin assumindo a liderança nos dois principais temas do momento: além da inflação dos alimentos, as negociações com os EUA sobre a taxação de aço e alumínio.
A direção das medidas e o sobe e desce de
atores indicam uma guinada no governo à esquerda, mas compensando com mais
visibilidade para Alckmin, que tem interlocução mais fluida com setores
privados e um Centrão sempre guloso, num momento fundamental para a pauta do
governo no Congresso.
Gleisi ao Planalto não é só uma dança de
cadeiras, é a sinalização estridente de que o discurso da ala mais à esquerda
do PT venceu a parada depois da queda abrupta de Lula nas pesquisas, inclusive
no Nordeste e principalmente no Sudeste. Acendeu o sinal vermelho e, nessas
horas, quem radicaliza mais, quem fala mais alto, ganha a parada. A ordem é
sair do muro, assumir de vez o “dilmismo”, mergulhar no populismo e depois se
vê o que fazer. Se não é assim, pelo menos parece.
Para contrabalançar – porque, afinal, Lula
tem uma inteligência política muitíssimo superior à de Dilma –, Alckmin ganha
mais espaço, abre o leque da sua interlocução externa, Simone Tebet pode ser
chamada a aparecer mais, o líder do governo na Câmara tende a ser Isnaldo
Bulhões, do MDB, uma isca para o indócil Centrão se sentir em casa no Planalto.
A prioridade de Lula e do governo é
recuperar, primeiro, os votos tradicionais do PT, que ameaçam escorrer pelos
dedos e ameaçam os 30% de piso eleitoral que Lula sempre manteve, apesar das
chuvas, trovoadas, mensalões e petrolões. Mas essa estratégia tem um grande
risco: perder os milhões de votos do centro em 2022, para evitar o “mal maior”,
que não precisa ser citado. Foram eles que, afinal, deram vitória a Lula – e
por margem bastante apertada.
Nesse ambiente de cobertor curto, Lula optou
pela esquerdização do governo e percebeu que o plano de sair por aí viajando,
dando entrevista para rádios locais, falando besteiras, não daria para o gasto.
Comunicação é importante, mas é preciso fazer
política e boa gestão. É isso que mais falta ao governo.
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