O Estado de S. Paulo
Vera Rosa colaboraram Sofia Aguiar, Gabriel Hirabahasi e Lavínia Kaucz
Nova titular da articulação política usa
cerimônia de posse para tentar dissipar mal-estar com ministro da Fazenda, alvo
de suas críticas; Padilha faz discurso contra bolsonaristas
Em cerimônia de posse, a nova titular da
articulação política tentou aparar arestas com ministro da Fazenda. Em 2023, a
cúpula do PT classificou ajuste das contas públicas apresentado por ele de
“austericídio fiscal”.
A nova articuladora política do Palácio do Planalto, Gleisi Hoffmann, fez questão de aproveitar a cerimônia de posse na Secretaria de Relações Institucionais, ontem, para fazer um afago ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticado por ela desde o início do governo. Haddad foi o primeiro ministro citado por Gleisi, na tentativa de mostrar que, ao deixar a presidência do PT e ocupar essa cadeira, não será adversária da política econômica conduzida pelo colega.
Em dezembro de 2023, a cúpula do PT
classificou o ajuste das contas públicas apresentado por Haddad de
“austericídio fiscal”. “Tenho plena consciência do meu papel, que é da
articulação política”, disse Gleisi, olhando para o ministro da Fazenda,
sentado na primeira fileira do Salão Nobre do Planalto.
“Estarei aqui, ministro Haddad, para ajudar
na consolidação das pautas econômicas deste governo, as pautas que você conduz
e que estão colocando novamente o Brasil na rota do crescimento, com emprego e
renda”.
O ministro da Fazenda foi citado duas vezes
no pronunciamento de Gleisi, em um claro sinal de que deseja uma aproximação
com ele, após ter exposto, em várias ocasiões, suas divergências com a política
econômica. Ao mencionar o projeto de lei que prevê isenção do Imposto de Renda
para quem ganha até R$ 5 mil – a ser enviado na próxima semana ao Congresso –,
Gleisi fez novo aceno ao titular da Fazenda.
“Esta medida vai ajudar milhões de
brasileiros, com absoluta neutralidade fiscal, como já antecipou o ministro
Fernando Haddad”, destacou ela.
ÁGUA NA FERVURA. Gleisi substituiu Alexandre
Padilha, que na mesma cerimônia tomou posse no Ministério da Saúde no lugar de
Nísia Trindade. A solenidade lotou o Salão Nobre com uma plateia que reuniu
políticos do Centrão ao PT, os presidentes da Câmara, Hugo Motta
(RepublicanosPB); do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), além de
ministros, governadores e do ex-presidente José Sarney.
Se a temperatura passava de 30 graus ali, no
discurso de Gleisi a intenção era a de jogar água na fervura política. Dona de
um estilo marcado pelo enfrentamento e estocadas no Centrão, a nova ministra
pregou união, disse que chegava para somar, resolver problemas e construir
soluções. Chegou a chamar Hugo Motta de “meu presidente”.
Leques vermelhos com a inscrição “Gleisi
Hoffmann – “O que ela quer da gente é Coragem” – foram distribuídos na
cerimônia. Nas rodas de conversa antes e depois da solenidade
havia rumores sobre a demora de Lula em
concluir a reforma ministerial. “Que ninguém se iluda: não chegamos aqui, com a
aliança que construímos, para dar errado! Já superamos desafios muito mais
difíceis e vencemos”, destacou Gleisi.
A nova ministra assume o cargo no momento
mais delicado do governo, que enfrenta queda acentuada de popularidade, com a
missão de articular alianças de apoio a Lula para seu projeto de reeleição, em
2026. O problema é que partidos como o PP do ex-presidente da Câmara Arthur
Lira, que não compareceu às posses de ontem, ameaçam até mesmo deixar a base
aliada.
RESISTÊNCIAS. A escolha de Gleisi para
Secretaria de Relações Institucionais enfrentou resistências tanto da oposição
como de integrantes da base do governo. Para parlamentares, a postura aguerrida
da deputada pode ser um empecilho para o governo ampliar sua base e conquistar
votos no Congresso.
Na opinião de deputados do Centrão, a pasta
das Relações Institucionais deveria ser ocupada por um nome com mais trânsito
entre as diferentes forças políticas.
Porém, para interlocutores do Palácio do
Planalto, Gleisi deverá amenizar seu perfil, uma vez que estará submetida agora
ao chefe do Executivo
INIMIGO. Desafeto de Lira quando
comandava a articulação política do governo, Padilha disse em seu discurso que
nunca teve inimigos, mas, sim, adversários. “Terei sim um inimigo diante do
qual não recuarei: os negacionistas”, disse o novo ministro da Saúde ao afirmar
que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro têm “as mãos sujas de sangue”
desde sua atuação contra a vacina de covid-19.
O discurso de Padilha marca um novo momento
do Ministério da Saúde, que, a partir de agora, terá uma visão mais política.
Em sua despedida, Nísia Trindade – que não é filiada a nenhum partido –
agradeceu a Lula e disse que saía como “a ministra do SUS”.
Mesmo assim, Nísia fez um desabafo. De saída
do cargo, ela não escondeu a mágoa com o que chamou de “campanha sistemática e
misógina” de “desvalorização” do seu trabalho no período em que comandou a
Saúde ( mais informações nesta página). “Não é possível e não devemos aceitar
como natural um comportamento político dessa natureza”, afirmou. Foi aplaudida
de pé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.