Luíza Marzullo / O Globo
Filiação de Lyra ao PSD coloca partidos da
base de Lula no governo de todos os estados do Nordeste
Com a presença de três ministros do
presidente Lula,
a governadora
de Pernambuco, Raquel Lyra, oficializou na noite de ontem sua migração
do PSDB para
o PSD.
Com essa movimentação, todos os estados do Nordeste passam a ser administrados
por partidos aliados ao Palácio do Planalto. A ex-tucana realiza a troca
partidária de olho em sua campanha à reeleição no ano que vem, quando deve
enfrentar o prefeito do Recife, João Campos (PSB),
próximo de Lula, que foi alfinetado na solenidade.
— Não estamos aqui esquentando cadeira para
quem quer voltar ao poder — afirmou, em referência aos 16 anos que o PSB esteve
à frente do estado. — Estamos fazendo um projeto.
A filiação de Raquel Lyra a um partido da base do governo federal coloca o Palácio do Planalto em posição delicada caso decida apoiar Campos nas eleições do ano que vem.
Na solenidade, a governadora agradeceu ao
PSDB, partido pelo qual disputou três eleições, e destacou a persistência
de Gilberto
Kassab, presidente nacional do PSD, durante as negociações que se
arrastavam desde outubro do ano passado. Kassab esteve ao lado da governadora
durante o discurso de filiação.
— Já me sinto em casa e chego para ajudar na
construção de um Nordeste novo e um país novo (...) No PSDB aprendi muito, mas
chegou a hora de fechar um ciclo e iniciar um novo — disse a governadora, em um
evento marcado por um clima de festa, com locutor, jingle e discursos em prol
de sua reeleição.
Ministros prestigiam
O evento de filiação ocorreu no Recife e
contou com a presença dos três ministros de Lula que fazem parte do PSD: Alexandre
Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e André de
Paula (Aquicultura e Pesca). As senadoras Eliziane Gama (MA) e Zenaide Maia
(PB) também prestigiaram a pernambucana.
Em seu discurso, Kassab afirmou que Lyra é
uma das mulheres mais proeminentes da política atual e manifestou confiança de
que ela será reeleita em 2026. O dirigente chegou a projetar a governadora como
possível candidata à Presidência da República em 2030.
— Não tenho dúvidas de que, com a reeleição de Raquel, o Brasil começará a sonhar com ela na Presidência — afirmou Kassab, que também anunciou a nomeação da governadora como presidente estadual do partido, substituindo André de Paula.
Primeiro a discursar, André de Paula disse
estar emocionado com a filiação de Lyra, a quem classificou como uma das
maiores lideranças nacionais:
— Hoje, estou entregando a presidência
estadual a Raquel Lyra, que nos liderará. Raquel, você sabe que eu tinha uma
vontade enorme de estar ao seu lado. A casa é sua, e nós vamos ganhar a próxima
eleição.
Alexandre Silveira, por sua vez, prometeu
auxílio à governadora na Esplanada, em nome dos três titulares presentes:
— Nós, três ministros, vamos trabalhar para
defender os interesses de Pernambuco com Raquel. Nós estaremos de mãos dadas
para mostrar a importância de você continuar defendendo os interesses como
governadora (...) nossos gabinetes vão se estender por todos de Brasília.
PT dividido no estado
Nas últimas semanas, a governadora tem
intensificado articulações em Brasília, especialmente com o ministro da Casa
Civil, Rui Costa (PT). Em Pernambuco, o PT está dividido. Enquanto a ala
estadual apoia Lyra, o diretório municipal mantém aliança com João Campos.
Políticos críticos ao governo Lula também
participaram do evento de filiação ontem, como o prefeito de São Luís, Eduardo
Braide.
A saída de Raquel Lyra do PSDB reflete a
fragilidade do partido. No PSD, a governadora terá mais acesso a recursos
partidários, considerados estratégicos para sua candidatura à reeleição em
2026. Outro fator relevante é o tempo de propaganda na TV. Com 42 deputados
federais, o PSD oferecerá a Lyra um horário eleitoral gratuito
significativamente maior.
Apesar da aproximação com o governo federal,
Kassab negou que essa tenha sido a motivação da mudança partidária.
— Ela não veio para o PSD por estar próxima
ou distante de Lula. Ela veio ao PSD porque é um partido em crescimento,
compatível com a presença de uma governadora. Um governador ou uma governadora
precisa de um partido forte, e o Brasil caminha para ter poucos e grandes
partidos — disse Kassab, que integra a gestão do governador de São Paulo,
Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerado herdeiro político do
ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.