terça-feira, 11 de março de 2025

Raquel se filia ao PSD em evento com lulistas

Luíza Marzullo / O Globo

Filiação de Lyra ao PSD coloca partidos da base de Lula no governo de todos os estados do Nordeste

Com a presença de três ministros do presidente Lula, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, oficializou na noite de ontem sua migração do PSDB para o PSD. Com essa movimentação, todos os estados do Nordeste passam a ser administrados por partidos aliados ao Palácio do Planalto. A ex-tucana realiza a troca partidária de olho em sua campanha à reeleição no ano que vem, quando deve enfrentar o prefeito do Recife, João Campos (PSB), próximo de Lula, que foi alfinetado na solenidade.

— Não estamos aqui esquentando cadeira para quem quer voltar ao poder — afirmou, em referência aos 16 anos que o PSB esteve à frente do estado. — Estamos fazendo um projeto.

A filiação de Raquel Lyra a um partido da base do governo federal coloca o Palácio do Planalto em posição delicada caso decida apoiar Campos nas eleições do ano que vem.

Na solenidade, a governadora agradeceu ao PSDB, partido pelo qual disputou três eleições, e destacou a persistência de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, durante as negociações que se arrastavam desde outubro do ano passado. Kassab esteve ao lado da governadora durante o discurso de filiação.

— Já me sinto em casa e chego para ajudar na construção de um Nordeste novo e um país novo (...) No PSDB aprendi muito, mas chegou a hora de fechar um ciclo e iniciar um novo — disse a governadora, em um evento marcado por um clima de festa, com locutor, jingle e discursos em prol de sua reeleição.

Ministros prestigiam

O evento de filiação ocorreu no Recife e contou com a presença dos três ministros de Lula que fazem parte do PSD: Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e André de Paula (Aquicultura e Pesca). As senadoras Eliziane Gama (MA) e Zenaide Maia (PB) também prestigiaram a pernambucana.

Em seu discurso, Kassab afirmou que Lyra é uma das mulheres mais proeminentes da política atual e manifestou confiança de que ela será reeleita em 2026. O dirigente chegou a projetar a governadora como possível candidata à Presidência da República em 2030.

— Não tenho dúvidas de que, com a reeleição de Raquel, o Brasil começará a sonhar com ela na Presidência — afirmou Kassab, que também anunciou a nomeação da governadora como presidente estadual do partido, substituindo André de Paula.

Primeiro a discursar, André de Paula disse estar emocionado com a filiação de Lyra, a quem classificou como uma das maiores lideranças nacionais:

— Hoje, estou entregando a presidência estadual a Raquel Lyra, que nos liderará. Raquel, você sabe que eu tinha uma vontade enorme de estar ao seu lado. A casa é sua, e nós vamos ganhar a próxima eleição.

Alexandre Silveira, por sua vez, prometeu auxílio à governadora na Esplanada, em nome dos três titulares presentes:

— Nós, três ministros, vamos trabalhar para defender os interesses de Pernambuco com Raquel. Nós estaremos de mãos dadas para mostrar a importância de você continuar defendendo os interesses como governadora (...) nossos gabinetes vão se estender por todos de Brasília.

PT dividido no estado

Nas últimas semanas, a governadora tem intensificado articulações em Brasília, especialmente com o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). Em Pernambuco, o PT está dividido. Enquanto a ala estadual apoia Lyra, o diretório municipal mantém aliança com João Campos.

Políticos críticos ao governo Lula também participaram do evento de filiação ontem, como o prefeito de São Luís, Eduardo Braide.

A saída de Raquel Lyra do PSDB reflete a fragilidade do partido. No PSD, a governadora terá mais acesso a recursos partidários, considerados estratégicos para sua candidatura à reeleição em 2026. Outro fator relevante é o tempo de propaganda na TV. Com 42 deputados federais, o PSD oferecerá a Lyra um horário eleitoral gratuito significativamente maior.

Apesar da aproximação com o governo federal, Kassab negou que essa tenha sido a motivação da mudança partidária.

— Ela não veio para o PSD por estar próxima ou distante de Lula. Ela veio ao PSD porque é um partido em crescimento, compatível com a presença de uma governadora. Um governador ou uma governadora precisa de um partido forte, e o Brasil caminha para ter poucos e grandes partidos — disse Kassab, que integra a gestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerado herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro.

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