O Estado de S. Paulo
Lula despachou Dilma para bem longe, mas ela nunca esteve tão próxima
Ao ameaçar o agronegócio com “medidas
drásticas”, caso os preços dos alimentos não caiam, o presidente Lula não
apenas deu uma de Donald Trump como desautorizou o seu vice, Geraldo Alckmin, e
o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que se esfalfaram para dar garantias
para a sociedade, produtores, distribuidores, atacadistas e redes de
supermercados de que não haveria “soluções heterodoxas”. Todo o esforço foi
jogado no lixo.
Neste momento tenso no Brasil e no mundo, Lula subiu no palanque justamente num evento do MST e no dia do anúncio de um PIB animador para, mais uma vez, matar a boa notícia do PIB e conquistar reações amargas por toda parte, reforçando a percepção de que insiste em repetir os erros de Dilma Rousseff e descamba perigosamente para uma esquerda sem rumo.
Acenar com “medidas drásticas” é desmentir
Alckmin e Fávaro, que vinham negando categoricamente taxação, que remete ao
desastre do Pix e às loucuras de Trump; controle de preços, que traz de volta o
fantasma dos “fiscais de Sarney”; e cotas de importação, que os produtores não
querem nem ouvir falar. E onde fica Fernando Haddad, que tem muito a ver com o
crescimento de 3,4% em 2024?
Lula tem razão ao reclamar dos preços de
café, ovo, milho..., como qualquer um faz, mas dizer que “não quer brigar com ninguém”
é coisa de quem está exatamente buscando briga. E logo com o agronegócio, que
já tem um pé atrás com ele e o PT, sofreu bastante com fatores externos,
cheias, secas e disparada do dólar em 2024 e, depois de ser a “pièce de
résistance” nas duas recessões de Dilma e na pandemia, recuou 3,2% no PIB de
2024. Desta vez, o bom desempenho da economia foi graças à indústria e a
serviços.
Para reforçar a imagem de esquerda do Lula 3,
Lula não se satisfaz em potencializar as recentes medidas populares, como a
própria proposta para alimentos, impedir o aumento de 6% na conta de luz,
liberar o FGTS de quem tinha optado pelo saque-aniversário e a isenção do IR
para renda até R$ 5 mil. E lá vai ele bater de frente com o agro, o mercado, a
“turma de cima”. Não ganha nada, só perde.
Nesta segunda-feira, Gleisi Hoffmann volta ao
Planalto, agora na Articulação Política, e Alexandre Padilha, ao Ministério da
Saúde. Ela foi chefe da Casa Civil e ele ocupou o mesmo cargo no governo Dilma,
de onde conduziu o Mais Médicos, que a categoria rejeitou e retaliou apoiando
maciçamente Jair Bolsonaro em 2022 – depois de todas as suas ações macabras na
pandemia. Lula despachou Dilma para o banco dos Brics para mantê-la bem longe,
mas Dilma nunca esteve tão próxima quanto agora.
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