O Globo
O forte PIB nos dois primeiros anos é digno
de comemoração, mas algumas ideias do próprio governo acabam ofuscando esse
resultado
O balanço dos dois primeiros anos do governo
Lula na economia é, sem dúvida, positivo. O crescimento de 3,4% em 2024 superou
o do ano anterior, além de ser o dobro do que foi projetado pelo mercado no
começo do ano. Foi melhor porque não dependeu de um setor só, foi puxado pelo
consumo das famílias e pelo investimento. O PIB per capita cresceu 3%. Isso
depois de alta de 3,2% em 2023. Tantos resultados positivos na economia não
estancam a artilharia amiga e inimiga — há diferença?— contra o ministro Fernando
Haddad. Nos dois anos, o PIB acumulou alta de quase 7%.
Os serviços cresceram 3,7%, a indústria de transformação cresceu 3,8%, o consumo das famílias 4,8%, o investimento 7,3%. Muitos números bons sustentaram o PIB, apesar da queda forte da agropecuária de 3,2%. O resultado é de se comemorar. Porém, o PIB perdeu fôlego no último trimestre. Quase parou, na verdade. A alta dos últimos três meses ficou em 0,2%, quando o consumo das famílias caiu 1%, o que talvez explique o mau humor nas pesquisas. O que houve no fim do ano foi uma crise de confiança na política fiscal, em parte criada pela polifonia dentro do governo. O câmbio subiu, empurrou a inflação e fez o Banco Central iniciar um forte choque de juros. Com o aperto monetário, o país crescerá menos este ano.
Mas vai crescer. Há várias projeções, que vão
de 1,5% a quase 2%, mesmo com os juros estarem subindo muito e rápido. Na
próxima reunião do Copom, haverá nova alta de um ponto percentual. Em seguida,
devem vir mais duas novas altas de meio ponto a cada reunião. Os indicadores
deste começo de 2025 mostram que a economia está mais fraca, mas receberá
novamente a ajuda da agropecuária. A safra de grãos pode ser recorde. Isso
ajuda no PIB e no preço dos alimentos. A situação é bem diferente de 2023,
quando tudo jogou a favor e houve deflação de alimentos. Mas, sem dúvida, a
agropecuária vai estar na parte boa da história do PIB de 2025.
A decisão de zerar tarifas de importação de
alguns produtos terá um efeito residual. Diminui um pouco a alta de preços, mas
o relevante é mesmo a safra. Não terá o efeito todo desejado pelo governo, mas
a redução da taxação está na direção certa. Pegando só um exemplo: por que
mesmo cobrar 19% de imposto de importação de café se o Brasil é o maior
produtor, o maior exportador e o país que mais tem café? Neste caso, a queda do
imposto não vai ajudar porque há falta de café no mundo. O Brasil também é grande
produtor e exportador de carne e açúcar. O tributo que mais pesa no preço dos
alimentos é o ICMS, mas essas tarifas zeradas podem ajudar em alguns casos.
O governo produz uma quantidade considerável
de notícias ruins que aumentam a incerteza e acabam se refletindo também nos
preços. O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, quer que o governo
use recursos públicos para pagar parte do que é pendurado na conta de luz. É
exatamente com medidas populistas assim que se faz uma crise fiscal. A conta de
luz tem muitos subsídios embutidos, é verdade. Todo este custo é pago pelo
consumidor, o que precisa ser enfrentado.
A forma certa é diminuir ou eliminar
subsídios e não mandar mais uma conta para o Tesouro deficitário. O Congresso
acabou de criar novos penduricalhos para dependurar na conta através dos
jabutis que embutiu no projeto das eólicas no mar. O presidente Lula vetou, mas
os lobbies estão se organizando para derrubar os vetos. O ministro Silveira
deveria dedicar seus esforços para evitar a derrota do governo para que a conta
não aumente ainda mais.
O presidente Lula ameaçou na sexta-feira com
medidas mais drásticas para reduzir preço de alimentos, caso as anunciadas na
quinta-feira não funcionassem. Isso só cria ruído. Deveria evitar fazer ameaças
que só aumentam o medo de uma política intervencionista. Atenção, ministro
Sidônio: essas ideias de Lula e do ministro Silveira tiraram espaço da boa
notícia do PIB.
É de se notar que o ministro Fernando Haddad
evitou falar sobre essas ideias criativas. O governo está criando uma
armadilha. Está isolando o ministro que entregou quase 7% de crescimento em
dois anos, numa política econômica que levou a taxa de desemprego ao seu nível
mais baixo, aumentou a renda e ainda aprovou o arcabouço fiscal e a Reforma
Tributária.
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