O Globo
É difícil ver a nomeação de Gleisi como avanço para um governo mais amplo, de coalizão nacional
Escolher Gleisi Hoffmann como ministra da
Secretaria de Relações Institucionais, a esta altura do campeonato, é decisão
de posicionamento do presidente Lula. Escolher Edinho Silva para assumir a
presidência do PT em lugar de Gleisi indica o oposto. Por isso as diversas
facções internas do petismo estão em guerra. Embora garanta que foi escolhida
porque pode negociar com os demais partidos, ela não é conhecida pela
habilidade de negociadora.
Ao contrário, é uma negociadora dura, inflexível, que pode ser considerada boa para o PT, mas não para um governo de amplo espectro político. É difícil ver a nomeação de Gleisi como avanço para um governo mais amplo, de coalizão nacional. Se o grupo de Gleisi não aceita a indicação de Edinho para a presidência do PT, ele sim, considerado um negociador moderado, por que ela seria avaliada como negociadora capaz de unir em torno de Lula facções partidárias distintas, ampliando a base política do governo?
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve
estar preocupado, pois foi alvo de críticas de Gleisi quando mais precisava de
apoio político. Provavelmente ela não falará mais em público contra ele, mas
não pode ter mudado de opinião só porque foi nomeada ministra. Dentro do
governo, trabalhará contra suas ideias econômicas. Não precisa ser nada de
pessoal, mas é uma pedra no sapato do ministro que pode vir a ser um substituto
de Lula na campanha presidencial de 2026. Talvez por isso mesmo.
É uma situação delicada para o governo
mantê-la como principal negociadora, tendo as posições que tem. Interessante
que Alexandre Padilha, sendo, ele também, um negociador flexível, não teve vida
boa com o Centrão, especialmente quando o presidente da Câmara era Arthur Lira.
Foi para a Saúde, de onde viera, sem demonstrar habilidade para superar os
obstáculos que a maioria oposicionista colocou no caminho do governo. Saberá
Gleisi enfrentar um Congresso hostil sem aumentar o grau de fricção com a
oposição?
Há indicações de que o PT só conseguiu apoio
parlamentar nos dois primeiros governos Lula comprando literalmente esse apoio.
Hoje, as emendas, que já foram moeda de troca eficiente, são impositivas, e o
Congresso não precisa mais de governo nenhum para pôr a mão nos R$ 50 bilhões
que lhe são de direito devido a manobras legislativas que escantearam o
Executivo da intermediação.
A briga dentro do PT ainda está grande.
Edinho, escolhido de Lula para presidir o partido, sofre pressão interna do
grupo de Gleisi contra ele. A escolha de Lula pela ala mais dura e agressiva do
PT para a negociação política indica algo. Não dá para entender de outra
maneira, que não seja como fritura de Haddad para mudança na economia. Está
demonstrado que o governo partirá para uma política desenvolvimentista, na
tentativa de que o crescimento do PIB amorteça a inflação. Mas todos temem que
aconteça o contrário.
A briga interna do PT foi revelada pelo
vazamento de conversas entre as diversas facções na casa de Gleisi, para
supostamente acertar os ponteiros. Soube-se depois, para desgosto de Edinho,
que a reunião marcou a dissidência da maior facção petista, a Construindo um
Novo Brasil. Edinho considerou que ele e Lula foram levados a uma armadilha
pelos adversários da sua indicação, mas Lula não tentou apaziguar os ânimos. Só
ouviu. Aguarda-se o que acontecerá, pois historicamente as decisões de Lula
dentro do PT nunca foram questionadas.
O enigma do momento é entender se a escolha
de Gleisi por Lula significa a guinada à esquerda que muitos temem, ou se ele
imporá o nome de Edinho, bloqueando a ala mais radical que não quer o
ex-prefeito dirigindo a legenda. A posse de Gleisi ontem teve discursos
moderados e a indicação por parte dela de apoio às prioridades do ministro da
Fazenda. Daí à realidade do cotidiano, no entanto, vai uma diferença que
determinará o lado para onde os ventos lulistas soprarão.
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