Folha de S. Paulo
Governo Trump põe em postos-chave pessoas que
rejeitam método para reconhecer o que é e o que não é fato
Fãs que somos do Iluminismo,
gostamos de imaginar a História como um processo pelo qual a razão e a ciência
avançam paulatina, mas irresistivelmente. Ao fazê-lo, vão banindo os
preconceitos e as superstições que colonizam as mentes das pessoas, num jogo
que culminará na emancipação da humanidade.
Isso, é claro, nunca passou de "wishful thinking". O homem não é nem nunca será um ser perfeitamente racional, e a própria razão tem seus limites. Não obstante, nos últimos dois séculos, obtivemos grandes conquistas civilizatórias baseadas em avanços científicos e filosóficos. Reduzimos drasticamente a mortalidade infantil e reconhecemos a existência de direitos humanos universais, para dar apenas dois exemplos.
E isso não ocorreu porque a maioria das
pessoas se converteu ao Iluminismo. Já comentei aqui o
ótimo livro de Jonathan Rauch ("The Constitution of Knowledge") em
que ele mostra que, demograficamente, não chegamos nem mesmo a um consenso
sobre quais são os fatos que precisamos considerar.
Dois terços dos americanos acreditam que
anjos e demônios atuam no mundo; 75% creem em fenômenos paranormais; e 20%
pensam que o Sol gira em torno da Terra. Num tributo à paranoia, um terço julga
que o governo age em conluio com a indústria farmacêutica para esconder
"curas naturais" que existem para o câncer.
Conhecimento e democracia avançavam apesar de
ideias como essas estarem bem enraizadas nas mentes das pessoas. Mas não é tão
grave. Não precisamos que haja unanimidade em torno de quais são os fatos que
devem ser levados em conta, mas apenas que uma elite de políticos, cientistas e
outros detentores de postos-chave estejam de acordo sobre o método para
estabelecê-los.
O que preocupa neste segundo mandato de Donald Trump é
que chegaram a esses postos-chave pessoas que rejeitam o método para reconhecer
fatos. O novo
secretário de Saúde, por exemplo, faz parte dos 33% que creem no complô
para esconder as curas naturais, além de ser contra vacinas.
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