Folha de S. Paulo
Até o Itamaraty já exibe dependência do
Congresso para fazer frente a despesas internacionais
Em "Timoneiro", composição de
1996, Paulinho da Viola canta a constatação do navegante:
"Não sou em quem me navega, quem me navega é o mar". Um refrão
adequado para servir de trilha sonora à atual situação institucional em que o
Executivo não governa, quem o governa é o Legislativo.
Falamos, claro, mais uma vez das emendas parlamentares, hoje no controle de
quase um quarto das despesas discricionárias (não obrigatórias) do Orçamento da União. Atribui-se a elas, em grande parte, a
razão do deslocamento do eixo de poder do Planalto para o Congresso.
Acabamos de ver um exemplo disso na escandalosa chantagem que fez o Orçamento de 2025 ser votado só no mês passado, depois de assegurada a liberação de recursos suspensos por ausência de transparência nos métodos.
Fato conhecido. Sabemos que a dinheirama ora
na casa dos R$ 52 bilhões é distribuída de modo fragmentado de
acordo com as conveniências eleitorais de suas altezas legislativas, nem sempre
atendendo as necessidades das localidades mais necessitadas.
Notório também é o uso das emendas como uma espécie de financiamento público
paralelo de campanhas, o que permite reeleições em larga escala.
O que não sabíamos, mas ficamos sabendo em reportagem deste sábado (19/4) na Folha, é que
até o Itamaraty e
o Ministério
do Planejamento têm recorrido aos congressistas para com dinheiro de
emendas fazer frente a despesas no exterior em consulados e pagamentos de taxas
a organismos multilaterais como a Organização das Nações Unidas, o Tribunal
Penal Internacional e a Organização Internacional do Café.
Não é ilegal, mas causa espanto e dá a medida da dependência do Executivo em
relação ao Legislativo. Administrativa e politicamente falando.
Por essa e outras é que metade dos ministros pensa em se candidatar nas eleições de 2026. Ante a correlação de forças atual, é mais
negócio mandar e desmandar como deputado ou senador que obedecer a ordens do
presidente atrás de uma mesa em gabinete na Esplanada dos Ministérios.
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