terça-feira, 22 de abril de 2025

Um papa simpático numa igreja decadente - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Francisco tentou criar ambiente mais acolhedor em uma era em que a influência do Vaticano é declinante mesmo entre católicos

Exceto para católicos ultratradicionalistas, é difícil não simpatizar com a figura de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, morto nesta segunda-feira (21/4). Ainda que sem mudar nada de substancial na doutrina da Igreja Católica, Francisco se esforçou para criar um ambiente mais acolhedor para mulheres, homossexuais, divorciados e vários outros grupos historicamente menosprezados. Foi também uma voz a apontar para os problemas gerados pela desigualdade social e pela deterioração do meio ambiente.

Só o tempo dirá se as discretas mudanças introduzidas por Francisco irão prosperar. Em seus 12 anos de pontificado, ele nomeou cardeais em número suficiente para em tese assegurar um sucessor não muito distante de suas posições. Mas conclaves às vezes surpreendem. Basta lembrar que o antecessor de Bergoglio, eleito com seu apoio, foi Joseph Ratzinger, o papa Bento 16, também conhecido pelo sugestivo apelido "Rottweiler de Deus", que liderava uma ala bem mais conservadora da igreja.

É claro que é legal ter um sujeito bacana sentado no trono de Pedro, mas, escrevendo do ponto de vista de um ateu democrata, que acredita de verdade em liberdade religiosa e não está preocupado com a sobrevivência ou o "market share" do catolicismo, eu diria que tanto faz. Já se foram os tempos em que o papa e a igreja eram uma força repressora à qual não se podia escapar.

Se, no passado, hereges podiam ser assados em praça pública e a excomunhão significava uma sentença de morte em vida, hoje, pelo menos nas metrópoles ocidentais, ninguém mais precisa se preocupar em não cair nas más graças de autoridades eclesiásticas. Nunca foi tão fácil trocar de religião ou abandonar completamente a fé.

Mesmo em termos de influência, a Igreja Católica é uma força declinante. Em matéria de sexo e comportamento, católicos brasileiros se sentem livres para tomar as determinações do Vaticano como sugestões perfeitamente ignoráveis. Mais de 90% são a favor do uso de camisinha, para dar só um exemplo.

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