Com seu estilo sui generis, Trump acionou a metralhadora giratória de tarifas para os produtos importados pelos americanos. Embora o foco seja a China, sobrou para Canadá, México, União Europeia, outros países asiáticos, e, também, em menor grau, para o Brasil e a América Latina. As bolsas de valores despencaram, houve grande volatilidade cambial e a previsibilidade – característica essencial para a economia de mercado – foi implodida.
O objetivo de Trump e seu governo é
supostamente combater o mega déficit comercial americano, reindustrializar o
país, recuperar a liderança global para os EUA, impor ao mundo o “America
First”. Tudo indica que será um enorme tipo no pé e o resultado será uma
profunda estagflação, a combinação nefasta das duas “doenças econômicas” que
manifestam disfunções no funcionamento do sistema: inflação e recessão. Fato é,
que a guerra comercial está instalada.
O protecionismo
é a própria antítese da evolução da economia capitalista e de toda a teoria que
a embasou. Adam Smith, Ricardo, Hayek e Milton Friedman, que sempre inspiraram
o Partido Republicano dos EUA, devem estar se revirando em seus túmulos.
O capitalismo
nasceu no útero da crise do feudalismo – uma economia fragmentada, pouco
integrada, de frágil dinâmica, baixo nível de comércio internacional e de poder
político descentralizado. Primeiro tivemos sua etapa comercial e colonialista.
A acumulação e a reprodução de riquezas se davam na extração e comercialização
de mercadorias. O primeiro passo para a globalização da economia foi dado,
embora sobrevivessem muitas barreiras.
Com a Revolução
Industrial inglesa, o eixo se deslocou para a produção. Era necessário remover
os obstáculos à livre circulação das mercadorias. Eram milhões de ofertantes em
busca de consumidores livres de amarras. Em sequência, transitou-se para o
capitalismo monopolista e o fortalecimento da esfera financeira. Isso
correspondia a um movimento de centralização e concentração de capitais necessária
a expansão da grande indústria. A Inglaterra liderava o ciclo.
Até que o
conflito de interesses das potências imperialistas levou a eclosão de duas
grandes guerras mundiais entremeadas pela maior depressão da história do
sistema capitalista. O comércio internacional foi profundamente abalado. A
liderança foi assumida pelos EUA. A emergência da URSS instalou a Guerra Fria,
mudando a configuração mundial. Com a dissolução da URSS na década de 1990 e a
queda do Muro de Berlim, a democracia liberal e a economia de mercado imperariam
absolutas e definitivas. O século XXI nasceu, dentro desse ambiente, como a
afirmação de um novo mundo e de uma nova etapa capitalista: integração das
cadeias produtivas globais, internet, robótica, biotecnologia, Big Techs,
globalização, “fim” do protecionismo, a China optando pela economia de mercado
etc.
O liberalismo
econômico, que sempre ancorou o desenvolvimento capitalista, imaginava que o
livre jogo de oferta e procura; a livre circulação de mercadorias, capitais e
trabalhadores; enfim, a ação da mão invisível de Adam Smith, levariam ao
equilíbrio geral e ao desenvolvimento permanente sustentado. Não foi bem assim.
Crises se sucederam ininterruptamente no final do século XIX, em 1929, na
suspensão da conversibilidade do dólar e nos choques do petróleo e dos juros
nos idos de 1970 e 1980, na crise global desencadeada pela bolha imobiliária
americana e pela quebra de seus bancos em 2008. Mas o futuroso glorioso do
capitalismo globalizado era simples questão de tempo.
Agora chega Trump, chuta o balde e decreta o fim do multilateralismo e da integração global, a volta dos Estados Nacionais autárquicos e do protecionismo. São muitos interesses feridos. São muitas alianças rompidas. Até onde esta onda irá não está claro. Muito menos quais são os objetivos, a estratégia e os resultados esperados. Por enquanto, quando as bravatas de Trump viraram ações concretas, reina a perplexidade mundo afora.
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