O Estado de S. Paulo
O tarifaço foi um catalisador para uma
corrida no mundo por ‘ativos de refúgio’
Na era Trump, o mundo financeiro está vivendo
um fenômeno que já não se via com tanta intensidade desde 2008: a busca
frenética por proteção. Com a escalada do tarifaço, os investidores têm
abandonado o mercado de capitais dos EUA e migrado para o que o mercado chama
de “ativos de refúgio”.
Investidores institucionais e bancos centrais estão abandonando títulos dos EUA e migrando para metais preciosos e dívidas soberanas de países mais estáveis. A demanda por ouro disparou e, em abril, o metal atingiu a máxima histórica de US$ 3.290 por onça. A prata seguiu o mesmo caminho. Enquanto isso, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram para mais de 4,5%. Em paralelo, os títulos da Alemanha e do Japão foram os mais procurados, com seus rendimentos caindo – um clássico sinal de busca por segurança.
No entanto, é importante dizer que a
valorização do ouro e da prata não começou com o tarifaço. Desde 2019, esses
ativos vêm subindo, refletindo uma tendência global de proteção frente a juros
baixos, endividamento recorde e perda de confiança no sistema monetário
ocidental. O tarifaço, contudo, funcionou como catalisador, agiu como o estopim
visível de uma corrida que já estava em marcha silenciosa.
Um fato: os bancos centrais estão
diversificando além do dólar, e isso está mostrando uma mudança importante no
cenário geopolítico. Segundo o World Gold Council, os bancos centrais
adquiriram coletivamente 1.045 toneladas de ouro em 2024, totalizando
aproximadamente US$ 96 bilhões com base nos preços médios do ano. O que isso
diz sobre a confiança global na economia americana?
Análises de organizações como JPMorgan,
Goldman Sachs e o mercado preditivo Kalshi admitem que as probabilidades de uma
recessão nos EUA em 2025 estejam entre 45% e 61%. Mas o que mais preocupa é a
sombra de um risco sistêmico que é a eventual quebra de confiança no mercado de
títulos públicos americanos, base do sistema financeiro global. E o que isso
tudo significa para o investidor comum? Para o cidadão médio, a tentação de
comprar metais preciosos cresce. Mas isso nem sempre faz sentido.
Ouro e prata são bons para preservar valor,
mas não resolvem crises humanitárias, não compram comida em momentos de caos.
Estar preparado para instabilidades mais acentuadas significa diversificação
patrimonial, reservas de emergência e investimentos em resiliência prática.
Quando a escala do termômetro da desconfiança sobe, as pessoas não fazem
discursos – elas agem. Como quem vê o tempo virar, não espera o noticiário
confirmar a tempestade e corre para fechar as janelas.
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