sábado, 19 de abril de 2025

Ouro, prata e pânico: a era Trump - Fabio Gallo

O Estado de S. Paulo

O tarifaço foi um catalisador para uma corrida no mundo por ‘ativos de refúgio’

Na era Trump, o mundo financeiro está vivendo um fenômeno que já não se via com tanta intensidade desde 2008: a busca frenética por proteção. Com a escalada do tarifaço, os investidores têm abandonado o mercado de capitais dos EUA e migrado para o que o mercado chama de “ativos de refúgio”.

Investidores institucionais e bancos centrais estão abandonando títulos dos EUA e migrando para metais preciosos e dívidas soberanas de países mais estáveis. A demanda por ouro disparou e, em abril, o metal atingiu a máxima histórica de US$ 3.290 por onça. A prata seguiu o mesmo caminho. Enquanto isso, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram para mais de 4,5%. Em paralelo, os títulos da Alemanha e do Japão foram os mais procurados, com seus rendimentos caindo – um clássico sinal de busca por segurança.

No entanto, é importante dizer que a valorização do ouro e da prata não começou com o tarifaço. Desde 2019, esses ativos vêm subindo, refletindo uma tendência global de proteção frente a juros baixos, endividamento recorde e perda de confiança no sistema monetário ocidental. O tarifaço, contudo, funcionou como catalisador, agiu como o estopim visível de uma corrida que já estava em marcha silenciosa.

Um fato: os bancos centrais estão diversificando além do dólar, e isso está mostrando uma mudança importante no cenário geopolítico. Segundo o World Gold Council, os bancos centrais adquiriram coletivamente 1.045 toneladas de ouro em 2024, totalizando aproximadamente US$ 96 bilhões com base nos preços médios do ano. O que isso diz sobre a confiança global na economia americana?

Análises de organizações como JPMorgan, Goldman Sachs e o mercado preditivo Kalshi admitem que as probabilidades de uma recessão nos EUA em 2025 estejam entre 45% e 61%. Mas o que mais preocupa é a sombra de um risco sistêmico que é a eventual quebra de confiança no mercado de títulos públicos americanos, base do sistema financeiro global. E o que isso tudo significa para o investidor comum? Para o cidadão médio, a tentação de comprar metais preciosos cresce. Mas isso nem sempre faz sentido.

Ouro e prata são bons para preservar valor, mas não resolvem crises humanitárias, não compram comida em momentos de caos. Estar preparado para instabilidades mais acentuadas significa diversificação patrimonial, reservas de emergência e investimentos em resiliência prática. Quando a escala do termômetro da desconfiança sobe, as pessoas não fazem discursos – elas agem. Como quem vê o tempo virar, não espera o noticiário confirmar a tempestade e corre para fechar as janelas.

 

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