O Estado de S. Paulo
Reagir a Trump com rottweiler ou vira-lata? No fundo, o Brasil está num mato sem cachorro
Bolsas, investidores e o setor produtivo
estão com a respiração suspensa, no aguardo do tarifaço que Donald Trump
anunciou para esta quarta-feira, 2/4, citando diretamente o Brasil, sem
sinalizar quais setores, muito menos produtos. O efeito colateral da ameaça é,
como em tudo, na polarização política brasileira: a oposição tenta tirar uma
casquinha para culpar o governo e o presidente Lula pelas loucuras de Trump,
que é autoritário, inconsequente e sem limites.
Na versão de setores privados e parlamentares, o Brasil está pagando o preço do apoio de Lula a Kamala Harris contraTrump nas eleições norte-americanas com o fechamento de canais e de diálogo entre os dois governos. O Itamaraty responde: o tarifaço contra aço e alumínio não foi contra o Brasil, mas contra o mundo, e ter ou não canais não mudou nada.
Trump ameaçou, impôs tarifas e até
humilhou líderes de aliados dos EUA, como Canadá, Reino Unido, Colômbia,
Argentina e Ucrânia, e já desvia as baterias para o “amigão” Vladimir Putin. De
que adiantam alianças, apoios, beijação de anéis e (alegadas) portas abertas na
Casa Branca, Departamento de Estado, USTR, órgãos de comércio, agricultura,
segurança? As decisões na maior potência mundial são tomadas por uma única
pessoa, que não abriu exceções para nada e ninguém.
Num ponto, todos no Brasil concordam: o
tumulto é generalizado e não há muito o que fazer até quarta-feira. A
expectativa é de que o tarifaço atinja etanol e madeira, mas está tudo muito
nebuloso sobre quais setores e produtos, qual a abrangência e qual o tamanho da
encrenca. Outro consenso é que reclamação na OMC, como fazem China e Canadá, é
um gesto político necessário, mas sem efeito. Assim, resta ampliar as
negociações e, em último caso, “reciprocidade”.
O chefe do Departamento de Estado Marco
Rubio teria o primeiro contato com o chanceler Mauro Vieira nesta
segunda-feira, mas houve “problemas de agenda”. O vice e ministro Geraldo
Alckmin conversa com o Departamento de Comércio dos EUA. O embaixador Maurício
Lyrio liderou uma delegação a Washington. As perspectivas, porém, não são
claras. A fábrica de semiacabados, em construção no Alabama, vai suprir o
mercado americano? Ou vão abrir cotas para o Brasil?
Sobra a “reciprocidade”, mas um
especialista pondera: “O Brasil não tem cacife para retaliar os EUA. Retaliar o
quê? Para quê? Para atrair uma pancada ainda mais pesada de Trump?” O Itamaraty
considera “viralatismo”, mas a realidade é que o Brasil, como o mundo, está num
mato sem cachorro, seja vira-lata, poodle ou rottweiler. Como enfrentar a
loucura de Trump?
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