Valor Econômico
Anúncio se harmoniza com o BC de duas formas, pontuou o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron
Normalmente delegada aos técnicos, e
entrevista coletiva para divulgar o Relatório de Avaliação de Receitas e
Despesas, mais conhecido como “bimestral”, contou desta vez com as presenças
dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet. Foi
para dar peso político ao que seria anunciado.
E o que foi anunciado foi uma contenção
“significativa”, como qualificou Tebet, de R$ 31,3 bilhões nas despesas este
ano.
É mais do que o dobro do esperado por
analistas do mercado, que apostavam em um ajuste mais gradual. Depois do embate
entre as alas política e econômica do governo no fim do ano passado, que
resultou em cortes de despesa menos ambiciosos do que o necessário, essa
parecia uma estratégia mais provável.
Mas havia, dentro do governo, quem advogasse um choque de credibilidade na política fiscal que, inclusive, surpreendesse o mercado. O propósito seria melhorar as expectativas, fortalecer a indicação de cumprimento da meta fiscal e, assim, ajudar o BC na tarefa de combater a inflação - derivada, em parte, da desconfiança em relação aos rumos da política fiscal.
Sem ser questionado a respeito, Haddad contou
que, na reunião em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu sobre o
bimestral, houve consenso. “Todo mundo compreendeu essa necessidade.” É desejo
comum da equipe de governo que o cenário macroeconômico melhore, explicou.
Há um recado no tamanho da contenção,
reforçou o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Gustavo
Guimarães, para responder sobre eventual choque entre a redução nas despesas e
a busca pela melhoria da popularidade de Lula. A decisão que estava sendo
anunciada, disse, tem relação com a inflação e a política monetária. Uma
política fiscal em ordem ajuda na avaliação do governo por esse lado,
argumentou.
A necessidade de conter despesas em R$ 31,3
bilhões decorre, em grande parte, de uma “limpa” feita pela área econômica nas
previsões de arrecadação extraordinária. Foram cortados perto de R$ 90 bilhões
em receitas cujo ingresso no caixa não é certo.
Com isso, a projeção do resultado primário
das contas públicas piorou e foi necessário contingenciar R$ 20,7 bilhões. Os
outros R$ 10,6 bilhões foram alvo de bloqueio, porque as despesas, lideradas
por Previdência e Benefícios de Prestação Continuada, iriam estourar o limite
permitido no arcabouço fiscal.
Ainda assim, a contenção de despesas mira
déficit de R$ 31 bilhões, que é o limite inferior da margem de tolerância da
meta fiscal. O que não quer dizer que não se busque, do ponto de vista
gerencial, resultado melhor. Haddad insistiu que, no dia a dia, a equipe tenta
chegar ao centro da meta.
A contenção será deste tamanho apesar das
receitas adicionais de R$ 20,5 bilhões que o governo espera obter com o aumento
do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em algumas operações específicas.
Essas mudanças arrecadarão R$ 41 bilhões em 2026. Outras medidas estão em
avaliação por Lula, disse Haddad.
A medida se harmoniza com o BC de duas
formas, pontuou o secretário do Tesouro, Rogério Ceron. Primeiro, porque
reforça a expectativa de cumprimento das metas fiscais. Segundo, porque
encarece operações de crédito das empresas, o que colabora com a acomodação na
dinâmica de novas concessões, outro ponto de preocupação do BC. Com isso,
disse, contribui-se para um ambiente favorável para a redução dos juros.
Haddad repetiu que o ajuste fiscal não é
tarefa de uma só pessoa ou de um só Poder. “Dependemos da compreensão de mais
atores para atingir a meta.”
Ele lembrou que este é um ano não eleitoral,
portanto propício para aprovação de medidas no Legislativo. Em seguida,
informou que a conta de gastos tributários está em alta e que o Congresso seria
o “mais interessado” em conhecer esses números.
O bimestral mostrou que o arcabouço não está
morto, mas depende de muita coisa para se manter em pé. Mostra também que a
equipe econômica não deixou de lutar por ele. É um bom sinal, mas outubro de
2026 está longe.
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