sexta-feira, 30 de maio de 2025

Haddad na fogueira - Bernardo Mello Franco

O Globo

Parlamentares cobram cortes do governo, mas não abrem mão de R$ 50 bi em emendas

Em visita a um assentamento no interior do Paraná, Fernando Haddad se queixou ontem das críticas e do “sofrimento” da vida de ministro em Brasília. O amargor tende a aumentar nos próximos dias, a julgar pelo clima na capital.

Desde que assumiu o cargo, o titular da Fazenda é alvo de fogo amigo no Planalto e no PT. Agora a artilharia também parte do Congresso, que exige a revogação da alta do IOF.

Na quarta-feira, o ministro tentou dobrar os presidentes do Senado e da Câmara com um cenário apocalíptico: sem o aumento de imposto, faltaria dinheiro para fechar as contas, e a máquina pública entraria em colapso.

O discurso não comoveu os parlamentares, e ontem o deputado Hugo Motta emparedou Haddad com um ultimato público: se ele não apresentar um “plano alternativo” em dez dias, o decreto presidencial será derrubado.

Ao encostar a faca no pescoço do ministro, Motta disse que o Congresso tem “espírito público” e não quer “botar fogo no país”. Talvez se contente em carbonizar o titular da Fazenda, que já está chamuscado desde o fim de 2023.

Haddad se desgastou ao combinar um anúncio de cortes com a promessa de isenção do Imposto de Renda. A ideia não partiu do ministro, mas ele pagou o preço político pela alta do dólar, que acelerou a inflação e derrubou a aprovação do governo.

Agora o petista não tem a quem culpar pelo novo infortúnio. A elevação do IOF foi tão mal planejada que ele se viu obrigado a amputar o pacote na mesma noite, desistindo do aumento da alíquota para investimentos no exterior.

O ministro tem poucas chances de não sair derrotado na disputa com o Congresso. Ontem o presidente da Câmara declarou que o país “está cansado de aumento de impostos”. É um discurso fácil e popular, embora não condiga com a prática dos parlamentares.

O Orçamento de 2025 reservou R$ 50 bilhões para as emendas de deputados e senadores. Isso equivale a mais de duas vezes e meia os R$ 19 bilhões que o governo deseja arrecadar neste ano com a alta do IOF.

Ao ser questionado sobre a gastança parlamentar, Hugo Motta deixou claro que o Congresso continuará a cobrar cortes do governo, mas não pretende recuar em seu avanço sobre os cofres públicos. “Criminalizar as emendas é criminalizar a política”, justificou, sem corar.

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