O Globo
Parlamentares cobram cortes do governo, mas
não abrem mão de R$ 50 bi em emendas
Em visita a um assentamento no interior do
Paraná, Fernando
Haddad se queixou ontem das críticas e do “sofrimento” da vida de
ministro em Brasília. O amargor tende a aumentar nos próximos dias, a julgar
pelo clima na capital.
Desde que assumiu o cargo, o titular da
Fazenda é alvo de fogo amigo no Planalto e no PT. Agora a artilharia também
parte do Congresso, que exige a revogação da alta do IOF.
Na quarta-feira, o ministro tentou dobrar os presidentes do Senado e da Câmara com um cenário apocalíptico: sem o aumento de imposto, faltaria dinheiro para fechar as contas, e a máquina pública entraria em colapso.
O discurso não comoveu os parlamentares, e
ontem o deputado Hugo Motta emparedou
Haddad com um ultimato público: se ele não apresentar um “plano alternativo” em
dez dias, o decreto presidencial será derrubado.
Ao encostar a faca no pescoço do ministro,
Motta disse que o Congresso tem “espírito público” e não quer “botar fogo no
país”. Talvez se contente em carbonizar o titular da Fazenda, que já está
chamuscado desde o fim de 2023.
Haddad se desgastou ao combinar um anúncio de
cortes com a promessa de isenção do Imposto de Renda. A ideia não partiu do
ministro, mas ele pagou o preço político pela alta do dólar, que acelerou a
inflação e derrubou a aprovação do governo.
Agora o petista não tem a quem culpar pelo
novo infortúnio. A elevação do IOF foi tão mal planejada que ele se viu
obrigado a amputar o pacote na mesma noite, desistindo do aumento da alíquota
para investimentos no exterior.
O ministro tem poucas chances de não sair
derrotado na disputa com o Congresso. Ontem o presidente da Câmara declarou que
o país “está cansado de aumento de impostos”. É um discurso fácil e popular,
embora não condiga com a prática dos parlamentares.
O Orçamento de 2025 reservou R$ 50 bilhões
para as emendas de deputados e senadores. Isso equivale a mais de duas vezes e
meia os R$ 19 bilhões que o governo deseja arrecadar neste ano com a alta do
IOF.
Ao ser questionado sobre a gastança
parlamentar, Hugo Motta deixou claro que o Congresso continuará a cobrar cortes
do governo, mas não pretende recuar em seu avanço sobre os cofres públicos.
“Criminalizar as emendas é criminalizar a política”, justificou, sem corar.
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