domingo, 25 de maio de 2025

O fenômeno Tony Rueda - Bernardo Mello Franco

O Globo

Antonio Rueda é um fenômeno. Sem nunca ter disputado uma eleição, entrou para o clube das figuras mais poderosas da política nacional. O advogado pernambucano despontou como faz-tudo de Luciano Bivar. Após um rompimento que virou caso de polícia, tomou o lugar do chefe no comando do União Brasil.

Resultado da fusão dos antigos DEM e PSL, a legenda não tem ideias, só interesses. Ao mesmo tempo que controla três ministérios do governo Lula, flerta com o bolsonarismo e ensaia lançar um candidato de oposição em 2026.

Na quarta-feira, Rueda deu uma longa entrevista ao GLOBO. A conversa ajuda a entender a natureza de seu partido e a debilidade do que se convencionou chamar de base do governo.

Apesar dos cargos que controla na máquina federal, o mandachuva do União fez discurso de opositor. Disse que o governo “não consegue fazer entregas” e “se enfraquece dia a dia”. “Logo no começo do mandato, o governo surfou politicamente na onda do 8 de Janeiro. Hoje essa página é passado”, sentenciou.

Convidado a projetar a disputa de 2026, Rueda descreveu o campo da esquerda como um time de um só jogador: Lula. Do outro lado, disse ver ao menos seis candidatos a balançar as redes. “É como o Ancelotti escolhendo seu time”, disse, comparando os presidenciáveis da direita a craques da seleção. Ele indicou preferência pelo governador Tarcísio de Freitas, que estaria “pronto” para subir a rampa.

O chefão do União Brasil se desmanchou em elogios a Jair Bolsonaro. Sem citar o processo por tentativa de golpe que pode levá-lo para a cadeia, descreveu o capitão como a “maior força política da direita”. Ele descartou a possibilidade de uma chapa de centro-direita sem apoio do ex-presidente. “Quem negar a força política do Bolsonaro está cometendo suicídio político”, disse. Ao comentar seu último encontro com o capitão, fez questão de ostentar intimidade. “Foi uma visita de cortesia, um encontro de camaradas”, definiu.

A despeito da pouca experiência política, o advogado mostrou que já domina a arte da dissimulação. Convidado a analisar a gestão de Lula, reclamou que o governo estaria “fechado no PT”. “Os ministérios mais próximos são do PT. É uma escolha do Lula”, protestou. Em seguida, ao ser questionado sobre as pretensões do União, ele mudou o tom e recitou uma frase de estadista: “Não quero debater cargos, quero conversar sobre mudanças no país”.

Rueda quer ser deputado, mas ainda não sabe por qual estado. Ameaça escolher o Rio de Janeiro, pelo qual diz ter “uma afeição”. Seu maior cabo eleitoral é o prefeito de Belford Roxo, Márcio Canella, fotografado na última campanha com um líder miliciano. Antes de oficializar a candidatura, o advogado repaginou o próprio nome. Passou a se apresentar como “Tony Rueda” nas redes sociais.

O presidente do União não é um fenômeno apenas na política. Em quatro anos, montou uma frota de carros de luxo. Comprou uma McLaren, dois Porsches, duas Mercedes e um Land Rover, segundo reportagem do portal UOL.

A um ouvinte desavisado, as palavras de Rueda podem soar como um sinal de rompimento iminente com o Planalto. Na entrevista aos repórteres Gabriel Sabóia e Lauriberto Pompeu, ele deixou claro que não pensa nisso. Só pretende largar o osso — ou melhor, os cargos — às vésperas da eleição de 2026: “Quem tem que decidir isso é o governo, nós fomos convidados. Enquanto quiserem a nossa contribuição, vamos contribuir”.

 

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