quarta-feira, 28 de maio de 2025

Plantio da esquerda para as safras de 2026 e 2030 - Fernando Exman

Valor Econômico

João Campos assume essa semana presidência do PSB

Pode-se dizer, com razão, que a campanha eleitoral de 2026 foi indevidamente antecipada. Em parte, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser responsabilizado: ao levantar dúvida sobre a candidatura à reeleição, abriu a temporada de especulações e fomentou uma concorrência interna entre os ministros que disputam as senhas da fila sucessória. Na oposição, as discussões também ganharam corpo quando o ex-presidente Jair Bolsonaro foi declarado inelegível pela Justiça Eleitoral. O jogo está aberto. Nos próximos dias, contudo, dois movimentos na esquerda podem ter desdobramentos em um horizonte ainda mais amplo, ou seja, o pleito de 2030.

O mais evidente ocorrerá entre sexta-feira e domingo, durante o congresso nacional do PSB, quando o prefeito do Recife, João Campos, será aclamado presidente do partido. A partir desse momento, ele ganhará status de líder nacional ao circular por Brasília, no meio empresarial e entre agentes do mercado.

Sim, João Campos persofinicará a continuação da autorreforma do Partido Socialista Brasileiro, concebida por Carlos Siqueira, que deixa a presidência da sigla para assumir a Fundação João Mangabeira. Ligada à legenda, a entidade é voltada à formação política e formulação de políticas públicas.

Sim, ele também continuará sendo um jovem gestor de uma importante capital. E permanecerá sendo visto como representante da nova geração de uma família com longa tradição na política.

Mas passa a ser, a partir de domingo, o dirigente máximo de uma sigla com três governadores - Espírito Santo, Paraíba e Maranhão -, quatro senadores, 15 deputados federais e 312 prefeitos. Neste último caso, o maior número no campo progressista. Além, é claro, de ter ao seu lado o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e de Márcio França no Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

Recentemente, aliás, o PSB teve ainda a possibilidade de retornar ao Ministério de Ciência e Tecnologia, pasta hoje comandada pela ministra Luciana Santos (PCdoB) e que já foi dirigida por Roberto Amaral e Eduardo Campos, pai de João. Chegou-se a garantir a Lula que o PSB de Pernambuco e o grupo de Luciana Santos, que também é do Estado, se entenderiam. Porém, em meio às conversas sobre a reforma ministerial, o presidente não levou adiante a ideia.

Dentro do PSB, contudo, os planos para Campos têm começo, meio e fim. Eles preveem sua descompatibilização no ano que vem, quando disputará o governo de Pernambuco. Apresentando bons resultados nos anos seguintes, acredita-se então que seria natural a apresentação de seu nome como candidato a presidente da República em 2030.

Para tanto, também se pressupõe a necessidade de fortalecimento das bancadas do partido no Congresso, objetivo fundamental para obter o desempenho mínimo definido por lei e acessar um bom volume de recursos dos fundos partidário e eleitoral. Nesse sentido, ainda sob a condução de Siqueira, o PSB se reestruturou no Ceará. No Pará, está apostando no grupo político do prefeito de Ananindeua para puxar votos. Também está passando por reestruturação em Minas Gerais, Goiás e deve reforçar seu time em Alagoas, com o possível retorno do prefeito de Maceió, JHC, ao partido.

Isso sem falar nos Estados comandados pela legenda, onde se espera a eleição de pelo menos dois deputados federais em cada uma dessas unidades da federação. Em Sergipe, o vice-governador Zezinho Sobral está organizando a chapa.

Em outros Estados, a iminente federação com o Cidadania desempenharia papel estratégico nas eleições parlamentares do ano que vem. Isso se daria, por exemplo, no Amazonas, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

A expectativa é que o próprio João Campos conclua as articulações com o Cidadania. Elas foram conduzidas até agora pelo atual presidente do PSB, mas a avaliação é que ganhariam ainda mais legitimidade e estabilidade se assinadas pela nova cúpula da sigla. Seu mandato será de pelo menos três anos.

As conversas podem ser retomadas com o PDT, embora não haja muito otimismo entre os correligionários de João Campos. Por outro lado, o que se descarta é uma federação com o PT.

Não restam boas lembranças das negociações para a realização de uma federação com os petistas. Acredita-se que o resultado seria um modelo em que as decisões estratégicas ficariam nas mãos do PT, que nos últimos dias voltou a insinuar que a ampliação de sua federação atual com PV e PCdoB, abarcando também PSB e PDT, seria uma forma de se contrapor à recente federação anunciada por União Brasil e PP.

O outro importante movimento se dará com a também iminente nomeação do deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência da República. Sacramentada sua posse, o parlamentar estará sinalizando que não deve concorrer a nenhum cargo eletivo no ano que vem. Será fundamental para reaproximar o Planalto dos movimentos sociais agora, visando a campanha de 2026. Mas tem, também, tudo para ser um dos personagens que disputarão o espólio político de Lula em 2030.

 

 

 

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