Valor Econômico
João Campos assume essa semana presidência do
PSB
Pode-se dizer, com razão, que a campanha
eleitoral de 2026 foi indevidamente antecipada. Em parte, o próprio presidente
Luiz Inácio Lula da Silva pode ser responsabilizado: ao levantar dúvida sobre a
candidatura à reeleição, abriu a temporada de especulações e fomentou uma
concorrência interna entre os ministros que disputam as senhas da fila
sucessória. Na oposição, as discussões também ganharam corpo quando o
ex-presidente Jair Bolsonaro foi declarado inelegível pela Justiça Eleitoral. O
jogo está aberto. Nos próximos dias, contudo, dois movimentos na esquerda podem
ter desdobramentos em um horizonte ainda mais amplo, ou seja, o pleito de 2030.
O mais evidente ocorrerá entre sexta-feira e domingo, durante o congresso nacional do PSB, quando o prefeito do Recife, João Campos, será aclamado presidente do partido. A partir desse momento, ele ganhará status de líder nacional ao circular por Brasília, no meio empresarial e entre agentes do mercado.
Sim, João Campos persofinicará a continuação
da autorreforma do Partido Socialista Brasileiro, concebida por Carlos
Siqueira, que deixa a presidência da sigla para assumir a Fundação João
Mangabeira. Ligada à legenda, a entidade é voltada à formação política e
formulação de políticas públicas.
Sim, ele também continuará sendo um jovem
gestor de uma importante capital. E permanecerá sendo visto como representante
da nova geração de uma família com longa tradição na política.
Mas passa a ser, a partir de domingo, o
dirigente máximo de uma sigla com três governadores - Espírito Santo, Paraíba e
Maranhão -, quatro senadores, 15 deputados federais e 312 prefeitos. Neste
último caso, o maior número no campo progressista. Além, é claro, de ter ao seu
lado o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e
Serviços, Geraldo Alckmin, e de Márcio França no Ministério do
Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
Recentemente, aliás, o PSB teve ainda a
possibilidade de retornar ao Ministério de Ciência e Tecnologia, pasta hoje
comandada pela ministra Luciana Santos (PCdoB) e que já foi dirigida por
Roberto Amaral e Eduardo Campos, pai de João. Chegou-se a garantir a Lula que o
PSB de Pernambuco e o grupo de Luciana Santos, que também é do Estado, se
entenderiam. Porém, em meio às conversas sobre a reforma ministerial, o
presidente não levou adiante a ideia.
Dentro do PSB, contudo, os planos para Campos
têm começo, meio e fim. Eles preveem sua descompatibilização no ano que vem,
quando disputará o governo de Pernambuco. Apresentando bons resultados nos anos
seguintes, acredita-se então que seria natural a apresentação de seu nome como
candidato a presidente da República em 2030.
Para tanto, também se pressupõe a necessidade
de fortalecimento das bancadas do partido no Congresso, objetivo fundamental
para obter o desempenho mínimo definido por lei e acessar um bom volume de
recursos dos fundos partidário e eleitoral. Nesse sentido, ainda sob a condução
de Siqueira, o PSB se reestruturou no Ceará. No Pará, está apostando no grupo
político do prefeito de Ananindeua para puxar votos. Também está passando por
reestruturação em Minas Gerais, Goiás e deve reforçar seu time em Alagoas, com
o possível retorno do prefeito de Maceió, JHC, ao partido.
Isso sem falar nos Estados comandados pela
legenda, onde se espera a eleição de pelo menos dois deputados federais em cada
uma dessas unidades da federação. Em Sergipe, o vice-governador Zezinho Sobral
está organizando a chapa.
Em outros Estados, a iminente federação com o
Cidadania desempenharia papel estratégico nas eleições parlamentares do ano que
vem. Isso se daria, por exemplo, no Amazonas, Rio Grande do Sul e Rio de
Janeiro.
A expectativa é que o próprio João Campos
conclua as articulações com o Cidadania. Elas foram conduzidas até agora pelo
atual presidente do PSB, mas a avaliação é que ganhariam ainda mais
legitimidade e estabilidade se assinadas pela nova cúpula da sigla. Seu mandato
será de pelo menos três anos.
As conversas podem ser retomadas com o PDT,
embora não haja muito otimismo entre os correligionários de João Campos. Por
outro lado, o que se descarta é uma federação com o PT.
Não restam boas lembranças das negociações
para a realização de uma federação com os petistas. Acredita-se que o resultado
seria um modelo em que as decisões estratégicas ficariam nas mãos do PT, que
nos últimos dias voltou a insinuar que a ampliação de sua federação atual com
PV e PCdoB, abarcando também PSB e PDT, seria uma forma de se contrapor à
recente federação anunciada por União Brasil e PP.
O outro importante movimento se dará com a
também iminente nomeação do deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) para a
Secretaria-Geral da Presidência da República. Sacramentada sua posse, o
parlamentar estará sinalizando que não deve concorrer a nenhum cargo eletivo no
ano que vem. Será fundamental para reaproximar o Planalto dos movimentos
sociais agora, visando a campanha de 2026. Mas tem, também, tudo para ser um
dos personagens que disputarão o espólio político de Lula em 2030.
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