Folha de S. Paulo
Sob os governos de Bolsonaro e Lula 3, o
presidente perdeu as rédeas do Poder Executivo sobre as CPIs
Até 2014, as CPIs estiveram majoritariamente sob controle do Executivo. A formação de coalizões tem tido um duplo papel: garantir apoio parlamentar à agenda do governo e fornecer um escudo legislativo em relação à oposição, especialmente em relação ao impeachment e ações com potencial de gerar elevados custos políticos, como as CPIs. Nesse contexto, o Executivo atua para impedir sua instalação ou, não conseguindo, dificultar seu funcionamento efetivo.
Para todo o período 1946/2015, apenas 5% das
CPIs propostas foram barradas, e 32% das que foram instaladas chegaram à
conclusão. Mas há dois subperíodos contrastantes: Entre 1946 e 1964, das 169
CPIs propostas, 95% foram instaladas e 60% dessas concluíram seus trabalhos. Na
Nova República (1990-2015), o percentual de instaladas foi de 25% e apenas 49
concluíram os trabalhos. No Senado, das 47 CPIs propostas nesse período, 28
foram instaladas, e apenas 17 concluídas. O auge do controle pelo Executivo foi
no período 2002 a 2010, quando a taxa de conclusão foi de pífios 12%. A
proporcionalidade partidária, e o controle das relatorias e presidências, —e
também corrupção—
garantiram que governos majoritários e alta popularidade controlassem os
trabalhos.
Na CPMI da Petrobras (2014), foi divulgado um
vídeo sobre o ensaio encenado entre parlamentares da base aliada e depoentes
envolvidos em irregularidades. As perguntas já estavam combinadas, as respostas
roteirizadas —um "gabarito" teria sido entregue à própria CEO da
Petrobras.
O relator Marcos Maia (PT) apresentou um
relatório preliminar sem indiciar ninguém. Na CPI da
Petrobrás na Câmara (2015), presidida por Hugo Motta (PMDB), o relator Luiz
Sérgio (PT) não indiciou nenhum parlamentar, apenas nomes já investigados ou
encarcerados.
A exceção foi o mensalão. Aqui o governo
perdeu o controle. A CPI do Mensalão, presidida por Amir Lando (PMDB) e
relatada por Abi Ackel (PP), não concluiu os trabalhos e o relatório não foi
votado. Foi obstruída pelo governismo e especialmente pelo presidente do
Senado, Renan Calheiros, não logrando quórum. A CPI dos Correios, no entanto,
presidida por Delcídio do Amaral (PT) e relatada por Osmar Serraglio (PMDB),
foi bombardeada pelo governo na CCJ, onde parlamentares não alinhados foram
substituídos, teve impacto colossal. Segundo reportagem de Kennedy
Alencar, o governo
negociou com os líderes R$ 400 milhões (cerca de RS 1.2 bilhões) em
emendas orçamentárias para aliciar deputados. "Em reunião ontem com Lula, o presidente
do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fechou com a estratégia para tentar
sepultar a CPI dos Correios".
Havia outro ator no jogo, o STF.
Esta estratégia não funcionará para Lula 3.
Mas o padrão mudou, inclusive em um ponto mais crítico. A decisão do ministro
Celso de Mello, do STF, em 2007, e referendada pelo ministro Luís Roberto
Barroso, no contexto da CPI da Covid-19, em 2021, estabeleceu jurisprudência de
que as CPIs são instrumentos da minoria, e não podem ser barradas por maiorias
parlamentares. Precedente que assegurou a instalação da CPI do INSS. O
Executivo perdeu com as medidas provisórias, com o orçamento impositivo e agora
também vê seu escudo legislativo ruir.
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