O Estado de S. Paulo
Em meio ao aumento na demanda, preço do metal caminha para nova alta nas próximas semanas
O ouro caminha para ameaçar
a posição do dólar como o grande refúgio dos investidores em busca de proteção
a um ambiente global de aguda incerteza, especialmente diante da escalada do
conflito no Oriente Médio, após os Estados Unidos se juntarem a Israel com
ataques militares contra o Irã. Não há quem descarte novo recorde de alta no
preço do metal ao longo das próximas semanas caso a turbulência geopolítica
aumente.
Esse movimento não reflete apenas as características do ouro como um ativo de reserva de valor ou de proteção à inflação, mas é também uma história de corrosão do dólar e de outras moedas fortes, a exemplo do iene e até do euro, como refúgio para momentos de crise ou de grande instabilidade dos mercados globais.
O caso do dólar é o mais
emblemático. Em razão do crescente e preocupante déficit fiscal dos EUA nas
últimas décadas, além da errática política econômica no atual mandato do
presidente Donald Trump, a moeda americana perdeu prestígio entre investidores
globais e também perdeu terreno como principal ativo nas carteiras dos maiores
bancos centrais do mundo. Já o ouro, especialmente nos últimos dois anos, fez o
caminho inverso.
Há duas semanas, o Banco
Central Europeu (BCE) divulgou um estudo mostrando que o ouro ultrapassou o
euro como o segundo ativo de maior participação nas reservas dos bancos
centrais, correspondendo a 20% do total global ao fim do ano passado – em
comparação com 16%, do euro, e 46% do dólar. Conforme o estudo, esse salto do
ouro foi resultado de um volume recorde de compra do metal pelos bancos
centrais globais e da disparada no seu preço. A cotação máxima histórica é de
US$ 3.509,90, atingida em abril passado.
Em 2024, pelo terceiro ano
seguido, os bancos centrais mundiais compraram mais de mil toneladas de ouro
para as suas reservas – um quinto da produção global anual. Em 2024, o preço do
ouro saltou 25,5%, enquanto o do dólar subiu 7,1%. No acumulado deste ano até a
semana passada, antes de os EUA entrarem diretamente no conflito do Oriente
Médio, o ouro subia mais de 28%. Já o dólar, em comparação com uma cesta de
seis moedas fortes, caía 9%.
Contra o dólar ainda pesa a
incerteza sobre o eventual impacto da guerra tarifária sobre a inflação e o
crescimento da economia americana. As idas e vindas de Trump sobre as alíquotas
de importação não ajudam na confiança de consumidores e empresários. Com a
escalada no conflito no Oriente Médio, o que acontecerá com o preço do
petróleo? De incerteza e incerteza, a única segurança parece estar no ouro. •
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