segunda-feira, 2 de junho de 2025

BC coloca a comunicação como pilar central na sua estratégia - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Galípolo elegeu o aperfeiçoamento da comunicação como uma das prioridades de seu mandato

Agora que o Banco Central faz a calibragem final da taxa de juros, a comunicação passa a assumir um papel fundamental para garantir que o aperto monetário se prolongue pelo tempo necessário para cumprir a meta de inflação.

Desde que assumiu o cargo, em janeiro, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, elegeu o aperfeiçoamento da comunicação como uma das prioridades de seu mandato. No caso da política monetária, isso envolve, de um lado, a comunicação com os especialistas, que é essencial para que os juros façam efeito com menos custo, e, de outro lado, a comunicação com a sociedade, para manter o apoio à autonomia do BC num período em que os juros altos fazem o trabalho de esfriar a economia para baixar a inflação até a meta.

Os pronunciamentos recentes dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) têm não apenas comunicado o caminho mais provável para a taxa de juros no futuro, mas também feito digressões e discussões sobre qual é a melhor forma de os banqueiros centrais se comunicarem, em especial num período de grande incerteza, como o atual.

O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, disse, num evento em Washington, em abril, que releu um livro clássico de política monetária do economista Alan Blinder para rever os ensinamentos sobre como agir em situações como a atual. Deve-se ir com mais cautela, manter a flexibilidade e ser transparente sobre como pretende reagir se o cenário econômico não se desenrolar na forma hoje prevista.

O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Paulo Picchetti, num tradicional evento de política monetária organizado pelo economista José Julio Senna, do FGV Ibre, citou outro clássico, de William Brainard, sobre como lidar com a incerteza em política monetária.

Talvez a mais completa exposição sobre como se comunicar em situações como a atual tenha sido a do professor Michael McMahon, da Universidade de Oxford, que deu uma palestra magna na Conferência Anual do Banco Central, disponível no YouTube.

Na teoria econômica, tudo parece muito simples. Existe a solução do Pico da Neblina: o BC pode subir os juros rapidamente para resolver de uma vez o problema inflacionário, para logo em seguida cortar. E existe a solução do Morro da Baleia, um morro da Chapada dos Veadeiros que parece uma baleia deitada: subir os juros sem grandes exageros e mantê-los assim por muito tempo.

O livro-texto diz que ambos são equivalentes e fazem o mesmo serviço. Mas a realidade é diferente. Se subir com muita fúria, o BC pode fazer uma barbeiragem, causando uma recessão ou uma crise financeira. A outra opção também é problemática: os mercados sempre vão desconfiar que o BC não vai manter os juros altos por tanto tempo quanto promete, as expectativas de inflação vão subir e o juro real será corroído.

O Banco Central já vem dizendo que, nessa fase de calibragem, o mais importante passa a ser manter os juros altos por muito tempo. Galípolo diz mais: vai ser preciso juros altos por mais tempo do que no passado. As projeções de inflação ainda estão acima da meta. Está claro que a estratégia do BC é o Morro da Baleia.

Com os juros muito altos, em 14,75% ao ano, a estratégia faz sentido, já que o risco de efeitos colaterais cresce exponencialmente. Mas fica o desafio de manter a credibilidade perante os mercados. As pesquisas de McMahon mostram que, felizmente, a boa comunicação de política monetária pode reduzir muito esses custos.

Uma alternativa, proposta por alguns economistas, é o Copom assumir um compromisso de manter os juros inalterados por um tempo determinado ou de não baixá-los enquanto algum indicador-chave não der certeza de que a inflação vai cair para a meta. McMahon não recomenda isso, porque sempre o cenário muda e o banqueiro central é obrigado a voltar atrás na sua promessa. “Muitos perderam seus cargos”, disse.

A alternativa é o Banco Central comunicar como acha que a economia vai evoluir no futuro e também o que pretende fazer se as coisas caminharem de forma não esperada - ou seja, detalhar a sua função de reação.

Essa é a estratégia adotada pelo Copom. O comitê traçou o seu cenário básico para a inflação e indicou o que hoje acha necessário: manter os juros altos por muito tempo. Mas o Copom também tem dito que, hoje, as incertezas são maiores do que o usual, por isso não pode se apegar a uma promessa para os juros. O que pode garantir é que vai reagir a surpresas da forma como sempre reagiu no passado.

A discussão é se o BC não poderia detalhar cenários de incerteza, mostrando como reagirá. Por exemplo, qual seria o impacto na inflação se o governo se desesperar com a desaceleração econômica e fizer uma nova expansão fiscal? E qual seria a resposta em termos de juros para isso?

Numa revisão recente do arcabouço de política monetária do Banco da Inglaterra, que inspirou o formato brasileiro, o ex-presidente do Federal Reserve Ben Bernanke sugeriu que fossem divulgados mais de um cenário alternativo.

Galípolo deu indicações de que não gosta muito da ideia. Quando um BC dá muitos cenários, os participantes do mercado se aferram ao pior deles. É quando o excesso de comunicação pode atrapalhar.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.