segunda-feira, 30 de junho de 2025

BC mira 2026 com juro alto por muito tempo - Alex Ribeiro

Valor Econômico

A estratégia é cumprir objetivo de levar a inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária

O Banco Central vai deixar os juros básicos bem altos por bastante tempo para levar a inflação para a meta. A estratégia é cumprir esse objetivo no horizonte relevante de política monetária. E o horizonte relevante de política monetária é o período de 12 meses até dezembro de 2026.

Essa foi talvez a mensagem mais importante da entrevista do Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado na semana passada, e do pronunciamento feito pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, em um evento promovido pelo Banco Barclays, em São Paulo, na sexta.

Parte dos analistas econômicos desconfia que o Banco Central vai adiar o cumprimento da meta por prazo indefinido, diante das dificuldades de baixar a inflação em um ambiente de muita incerteza fiscal.

O ano de 2026 será particularmente difícil, em decorrência das eleições presidenciais. A literatura econômica é farta em apontar que, em período de eleições, há expansões fiscais. A possibilidade de ajustes nas contas públicas é ainda menor quando há forte polarização política e a disputa eleitoral é bastante competitiva.

Para alguns, a anunciada interrupção no ciclo de alta da taxa Selic sem que as projeções de inflação estejam rigorosamente na meta é um sinal de que, de fato, o Banco Central trabalha com um horizonte prolongado para o cumprimento da meta.

Há duas semanas, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central subiu os juros em 0,25 ponto percentual, para os 15%, foi divulgado um comunicado que contém uma projeção de inflação de 3,6% para 2026.

Ou seja, haveria recuo na inflação, que nos 12 meses até maio ficou em 5,32%, mas não chegaria a 3%, que é a meta oficial estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O quadro seria um pouco mais preocupante porque as projeções divulgadas no relatório indicam inflação de 3,2% em 2027. Assim, a inflação não cai para a meta em nenhum período projetado pelo Copom.

Um detalhe importante, porém, é que essas projeções de inflação não representam a escolha do Copom sobre a trajetória da taxa Selic. São, na verdade, exercícios condicionais que ilustram o que aconteceria com a inflação se o cenário econômico se desenrolar da forma prevista pelo Copom e os juros, hipoteticamente, tiverem a trajetória esperada pelos participantes do mercado.

Os dados usados são as expectativas de inflação coletadas no boletim Focus. O Copom deixa transparente, no Relatório de Inflação, quais são esses números. Às vésperas da reunião do Copom, a aposta mediana era que o BC fosse deixar a taxa Selic estável em 14,75% ao ano. Como o Copom subiu para 15% ao ano, já tem um pouquinho mais de juros, o que ajuda a baixar a projeção de inflação.

Mas não é só isso - os analistas do mercado acham que o Banco Central vai começar a baixar os juros a partir de fevereiro, levando a Selic para 12,5% ao ano ao fim de 2026 e para 10,5% ao ano ao fim de 2027.

Além de observar essa trajetória de juros do Focus, os membros do Copom também examinaram, na reunião, outras. Guillen e o presidente do BC, Diogo Guillen, têm afirmado que algumas dessas trajetórias colocam a projeção de inflação em 3% em dezembro de 2026. O ano é importante: o comitê está mirando 2026, que é o horizonte relevante de política monetária, e não 2027.

Isso está de acordo com a comunicação de política monetária, que passou a dizer que é preciso manter uma taxa significativamente contracionista por um período “bastante” prolongado. A palavra “bastante” foi uma das novidades do comunicado que saiu após a reunião do Copom.

Antes do último encontro, outros membros do Copom, como o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, Renato Gomes, destacaram como o que importa é o integral dos juros. Ou seja, a meta seria cumprida não apenas pelo pico dos juros, mas também pelo tempo que esse aperto vai se estender.

O Banco Central poderia esclarecer mais sobre isso se, a título de ilustração, divulgasse também uma projeção alternativa com juros constantes sempre em 15% ao ano. Guillen e Galípolo foram questionados sobre isso na entrevista do Relatório de Inflação, mas fizeram duas ponderações.

Uma delas é que, quando o Copom divulga um cenário alternativo, os participantes podem se apegar a ele como sendo uma indicação firme de intenção. O correto, naturalmente, seria entender essa projeção alternativa como uma projeção condicional, ou apenas uma ilustração. Todos os participantes do mercado teriam que estar conscientes de que, entre o cenário Focus e o cenário com juros constantes, há várias outras trajetórias possíveis para a Selic.

Na coletiva, Galípolo e Guillen indicaram que, no futuro, podem passar a divulgar essa projeção alternativa. Na última reunião, não fazia muito sentido - e esse foi o segundo ponto levantado por eles - porque o Copom subiu os juros e, na verdade, fez uma pausa no aperto para verificar se os 15% ao ano são suficientes.

Esse é um recado muito importante: a política monetária está viva e pode ser ajustada para que a inflação converja para a meta.

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