terça-feira, 3 de junho de 2025

Para OCDE, o Brasil está crescendo menos do que poderia - Assis Moreira

Valor Econômico

Entidade mantem projeção de desaceleração no Brasil e considera que incerteza fiscal não ajuda o país

O Brasil está crescendo menos do que poderia crescer, e a incerteza sobre o panorama fiscal não ajuda. A avaliação é de Jens Arnold, economista responsável na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE) pelo acompanhamento da economia brasileira.

A OCDE publica hoje novo relatório sobre as Perspectivas para a Economia Mundial, no qual mantem a projeção de que o crescimento no Brasil vai desacelerar de 3,4% no ano passado para 2,1% neste ano e 1,6% em 2026. A moderação é amplamente resultado de baixa na demanda doméstica. O consumo das políticas é esperado desacelerar em decorrência do aumento da inflação e da menor confiança do consumidor.

Avalia que, após uma forte recuperação em 2024, é provável que o investimento privado sofra contração em 2025 e 2026, como resultado da demanda externa mais fraca e do impacto das taxas de juros mais altas.

Do lado da oferta, o setor manufatureiro brasileiro está sendo afetado pelas tarifas dos Estados Unidos, que continua sendo o principal destino das exportações brasileiras desses produtos.

Prevê inflação anual de 5,7% em 2025, antes de cair ligeiramente para 5,0% em 2026. Isso ocorre porque a inflação trimestral tenderá gradualmente para a meta, atingindo cerca de 4% no último trimestre de 2026, embora ainda sejam possíveis ligeiros aumentos temporários por causa de choques comerciais e tarifários.

As projeções incluem novos aumentos da taxa de juros, com a taxa básica subindo para 15% no final de 2025, seguida de um declínio gradual para 12% no final de 2026, à medida que as pressões inflacionárias se enfraquecem.

A expectativa é de que uma postura fiscal levemente expansionista continue em 2025, e uma proposta de reforma do imposto de renda, que deverá ser neutra em termos de impostos, provavelmente não proporcionará espaço fiscal adicional para lidar com as crescentes pressões de gastos.

Avalia que o aumento dos gastos sociais deve continuar, o que exacerbará a pressão sobre as finanças públicas.

Não há grandes diferenças entre as projeções de expansão da economia brasileira feitas por grandes organizações Internacionais. O FMI prevê taxa de 2% e o Banco Mundial de 1,8%. Mas tudo parece ser mais questão de ‘timing’ nas estimativas.

O seguro, para Jens Arnold, é que o Brasil está crescendo menos do que poderia crescer. ‘Do lado das políticas para melhorar a produtividade, o Brasil fez um passo muito importante, a reforma tributária', diz ele. 'Essa reforma vai ter um impacto positivo sobre o crescimento nos anos a seguir. Mas do lado das políticas macroeconômicas, a incerteza sobre o panorama fiscal não ajuda’.

O economista da OCDE nota que o Brasil tem definido um rumo para as contas fiscais no novo arcabouço, mas ainda falta definir qual vai ser o caminho para chegar lá.

‘Uma reforma das despesas obrigatórias abriria espaço para o ajuste fiscal que o Brasil precisa, e melhoraria também a eficiência do gasto público’’, afirma Arnold. ‘Também reduziria a incerteza sobre o futuro das contas públicas, e com isso as expectativas de inflação, permitindo condições financeiras menos restritivas’.

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