Correio Braziliense
A ideia é provocar uma reflexão sobre o que o
futuro nos reserva, sem esquecer do impacto que, certamente, representará o
resultado das eleições gerais do próximo ano
Curiosidade e inconformismo, duas
características marcantes de nós, seres humanos, sempre foram fatores
catalisadores de ações responsáveis por grandes descobertas e invenções ao
longo dos séculos, manifestando-se de diferentes maneiras nas mais diversas
áreas. Um exemplo é o desejo de conhecer, previamente, futuro e, da mesma
forma, poder voltar no tempo para ter a oportunidade de testemunhar o que
aconteceu no mundo em eras anteriores. Esse tema foi matéria-prima para obras
literárias e cinematográficas.
É o caso do livro A máquina do tempo, de H. G. Wells, cuja primeira edição data de 1895. Esse clássico da literatura foi fonte de inspiração para alguns filmes produzidos no século passado, destacando-se o primeiro deles, com o mesmo título, lançado em 1960, dirigido por George Pal e estrelado por Rod Taylor, Alan Young e Yvette Mimieux.
Outra obra cinematográfica, lançada em 1985,
foi De volta para o futuro. O roteiro original de Bob Gale e Robert Zemeckis já
despertava o interesse a partir do título, que representava uma contradição em
termos. O sucesso foi estrondoso, e os estúdios produziram mais dois, criando
uma trilogia icônica.
Ao me lembrar dessas histórias, pensei: se
pudéssemos viajar no tempo, o que veríamos no cenário político brasileiro daqui
a cinco anos? Será que ainda estaremos sob a égide da polarização Lula x
Bolsonaro? Considerando a situação atual dos dois, a tendência é de que, até
lá, provavelmente estejam pendurando as chuteiras. E quem poderá assumir o
protagonismo político-eleitoral? Resolvi fazer um breve levantamento de quem,
nesse futuro próximo, tivesse, no máximo, 50 anos de idade. Somei a esse
critério a diversidade do espectro de pensamento ideológico.
O primeiro nome que me ocorreu foi João
Campos, prefeito do Recife e recém eleito presidente nacional do PSB. Com 31
anos, tem uma presença de destaque no cenário brasileiro. Revela uma habilidade
ímpar para dialogar com todos os campos sem perder a identidade autodeclarada
de esquerda.
No lado oposto, encontramos o deputado
federal Nikolas Ferreira. Hoje com 29 anos, foi nacionalmente o mais votado em
2022. Assumidamente de direita, em seu mandato tem se notabilizado por
estimular o confronto nas redes sociais, demonstrando uma enorme competência na
utilização delas.
Viajando na máquina do tempo até o sul do
país, encontramos Eduardo Leite, 40 anos, o primeiro governador reeleito no Rio
Grande do Sul. Sua vitória ganha contornos ainda mais relevantes porque, em um
estado majoritariamente conservador nos costumes, concorreu declarando ser
gay.
Com a mesma idade, temos outro Eduardo, o
Bolsonaro, que cresceu politicamente à sombra do pai, mas foi adquirindo luz
própria ao se articular com grupos de extrema-direita de vários países. Tendo
sido o deputado federal mais votado em 2018, na eleição seguinte viu seu
desempenho ter uma queda de 60%. Deverá ser reeleito com folga, mas resta saber
se em 2030 continuará em evidência ou terá sido tragado pela saída de cena de
seu pai.
Na mesma família, há o senador Flávio, com 44
anos. Defensor intransigente das mesmas pautas do pai e dos irmãos,
caracteriza-se por ser menos belicoso, segundo testemunho de lideranças de
diversas tendências. Como as pesquisas indicam que deverá ser reeleito em 2026
para mais oito anos de mandato, tem chance de continuar sendo relevante, mas
também poderá ser afetado negativamente em razão da situação do pai.
Um pouco mais novo, o deputado federal
Guilherme Boulos (43), apesar de não ser filiado ao PT, tem atuado na Câmara
como um parlamentar governista. Essa atuação aparenta fazer parte de um
reposicionamento de imagem de olho no projeto de se tornar o herdeiro político
de Lula. No entanto, a maior dificuldade é superar seu histórico índice de
rejeição que, até aqui, o tem impedido de alcançar vitórias em pleitos
majoritários.
Os seis nomes acima estão longe de
representar o universo de quem poderá assumir o protagonismo a partir de 2030.
A ideia é provocar uma reflexão sobre o que o futuro nos reserva, sem esquecer
do impacto que, certamente, representará o resultado das eleições gerais do
próximo ano. Afinal, não se pode descartar a presença de uma parte
significativa da sociedade descrente da política e dos políticos, o que é um
caldo de cultura propício à implantação de regimes autocráticos.
Por fim, mantenho a esperança de que possamos
superar a atual situação em que a opção de voto tem sido comandada pela
rejeição a um dos lados. Infelizmente, nessa minha viagem imaginária ao futuro
ainda não foi possível confirmar essa mudança.
*Consultor em estratégia
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