sexta-feira, 27 de junho de 2025

Qual futuro nos aguarda? – Orlando Thomé Cordeiro*

Correio Braziliense

A ideia é provocar uma reflexão sobre o que o futuro nos reserva, sem esquecer do impacto que, certamente, representará o resultado das eleições gerais do próximo ano

Curiosidade e inconformismo, duas características marcantes de nós, seres humanos, sempre foram fatores catalisadores de ações responsáveis por grandes descobertas e invenções ao longo dos séculos, manifestando-se de diferentes maneiras nas mais diversas áreas. Um exemplo é o desejo de conhecer, previamente, futuro e, da mesma forma, poder voltar no tempo para ter a oportunidade de testemunhar o que aconteceu no mundo em eras anteriores. Esse tema foi matéria-prima para obras literárias e cinematográficas.

É o caso do livro A máquina do tempo, de H. G. Wells, cuja primeira edição data de 1895. Esse clássico da literatura foi fonte de inspiração para alguns filmes produzidos no século passado, destacando-se o primeiro deles, com o mesmo título, lançado em 1960, dirigido por George Pal e estrelado por Rod Taylor, Alan Young e Yvette Mimieux.

Outra obra cinematográfica, lançada em 1985, foi De volta para o futuro. O roteiro original de Bob Gale e Robert Zemeckis já despertava o interesse a partir do título, que representava uma contradição em termos. O sucesso foi estrondoso, e os estúdios produziram mais dois, criando uma trilogia icônica.

Ao me lembrar dessas histórias, pensei: se pudéssemos viajar no tempo, o que veríamos no cenário político brasileiro daqui a cinco anos? Será que ainda estaremos sob a égide da polarização Lula x Bolsonaro? Considerando a situação atual dos dois, a tendência é de que, até lá, provavelmente estejam pendurando as chuteiras. E quem poderá assumir o protagonismo político-eleitoral? Resolvi fazer um breve levantamento de quem, nesse futuro próximo, tivesse, no máximo, 50 anos de idade. Somei a esse critério a diversidade do espectro de pensamento ideológico. 

O primeiro nome que me ocorreu foi João Campos, prefeito do Recife e recém eleito presidente nacional do PSB. Com 31 anos, tem uma presença de destaque no cenário brasileiro. Revela uma habilidade ímpar para dialogar com todos os campos sem perder a identidade autodeclarada de esquerda.

No lado oposto, encontramos o deputado federal Nikolas Ferreira. Hoje com 29 anos, foi nacionalmente o mais votado em 2022. Assumidamente de direita, em seu mandato tem se notabilizado por estimular o confronto nas redes sociais, demonstrando uma enorme competência na utilização delas.

Viajando na máquina do tempo até o sul do país, encontramos Eduardo Leite, 40 anos, o primeiro governador reeleito no Rio Grande do Sul. Sua vitória ganha contornos ainda mais relevantes porque, em um estado majoritariamente conservador nos costumes, concorreu declarando ser gay. 

Com a mesma idade, temos outro Eduardo, o Bolsonaro, que cresceu politicamente à sombra do pai, mas foi adquirindo luz própria ao se articular com grupos de extrema-direita de vários países. Tendo sido o deputado federal mais votado em 2018, na eleição seguinte viu seu desempenho ter uma queda de 60%. Deverá ser reeleito com folga, mas resta saber se em 2030 continuará em evidência ou terá sido tragado pela saída de cena de seu pai.

Na mesma família, há o senador Flávio, com 44 anos. Defensor intransigente das mesmas pautas do pai e dos irmãos, caracteriza-se por ser menos belicoso, segundo testemunho de lideranças de diversas tendências. Como as pesquisas indicam que deverá ser reeleito em 2026 para mais oito anos de mandato, tem chance de continuar sendo relevante, mas também poderá ser afetado negativamente em razão da situação do pai.

Um pouco mais novo, o deputado federal Guilherme Boulos (43), apesar de não ser filiado ao PT, tem atuado na Câmara como um parlamentar governista. Essa atuação aparenta fazer parte de um reposicionamento de imagem de olho no projeto de se tornar o herdeiro político de Lula. No entanto, a maior dificuldade é superar seu histórico índice de rejeição que, até aqui, o tem impedido de alcançar vitórias em pleitos majoritários.

Os seis nomes acima estão longe de representar o universo de quem poderá assumir o protagonismo a partir de 2030. A ideia é provocar uma reflexão sobre o que o futuro nos reserva, sem esquecer do impacto que, certamente, representará o resultado das eleições gerais do próximo ano. Afinal, não se pode descartar a presença de uma parte significativa da sociedade descrente da política e dos políticos, o que é um caldo de cultura propício à implantação de regimes autocráticos.

Por fim, mantenho a esperança de que possamos superar a atual situação em que a opção de voto tem sido comandada pela rejeição a um dos lados. Infelizmente, nessa minha viagem imaginária ao futuro ainda não foi possível confirmar essa mudança.

*Consultor em estratégia

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