sexta-feira, 25 de julho de 2025

A disputa política é nas redes e nas ruas - Andrea Jubé

Valor Econômico

Lula se desdobra para chegar mais competitivo até o fim do ano

Num momento em que a esquerda revelou uma, até então, inédita capacidade de reação nas redes, com os motes do tarifaço de Donald Trump e do “BBB” - mais impostos para “big techs”, bilionários e “bets” -, cresceu a pressão de aliados para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedique mais aos seus perfis digitais. Lula resiste, e mostrou ontem que não renuncia ao velho estilo de política de palanque, de microfone na mão e contato direto com o povo.

A coluna “Pergunte aos Dados”, deste Valor, trouxe na terça-feira uma amostra do bom desempenho da esquerda nas plataformas nos dez primeiros dias da crise provocada pela tarifa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump aos produtos brasileiros, ao argumento de que o ex-presidente Jair Bolsonaro seria alvo de uma “caça às bruxas”.

Embora lideranças do bolsonarismo tentem responsabilizar Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF) pela punição americana, um levantamento obtido pela coluna, assinada por César Felício, mostrou que, nesse período, 53,7% das menções ao presidente brasileiro foram positivas, enquanto Bolsonaro recebeu 61,3% de menções negativas. Além disso, entre publicações feitas por deputados federais, 64,5% vieram de parlamentares de partidos da esquerda, sendo 47,4% do PT - legenda até há pouco tempo, criticada pela letargia no universo digital.

Lula tem convicção, contudo, de que reina no palanque, de onde, acredita, conseguirá vencer o embate de narrativas com a oposição, e recuperar popularidade rumo à reeleição. Nessa quinta-feira, um Lula irascível fez uma de suas performances mais inspiradas, em ato no Vale do Jequitinhonha. A região, uma das mais pobres do país, sobrevive como base lulista em Minas Gerais, onde a direita capitaneada pelo governador Romeu Zema (Novo) e pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) se tornou hegemônica.

Lula se desdobra para chegar mais competitivo, até o fim do ano, na corrida presidencial antecipada. No ato com indígenas e quilombolas, ele animou a claque ao atacar os adversários e ironizar Trump. “Alguém aqui acredita em bruxa para ter caça às bruxas”, tripudiou, em alusão ao termo utilizado pelo mandatário americano para criticar o STF.

Lula ainda chamou Bolsonaro de “rato”, acusando-o de fugir no fim de 2022 para não transmitir a faixa presidencial. Sem citar o nome de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), disse que o antecessor enviou o filho para Washington a fim de convencer Trump a intervir no Brasil, e disparou palavrões: “Fez as m... que fez, pague pelas m... e respeite o povo brasileiro”.

Numa realidade em que um único vídeo de Nikolas Ferreira, sobre o esquema de fraude bilionária nas aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), alcançou 100 milhões de visualizações em 24 horas, Lula vai insistir no modelo de “comícios” - a política de rua que ele conhece - para aflição de aliados e conselheiros, que acreditam que esse formato já se esgotou. Ele estabeleceu a meta de visitar, ao menos, três Estados por semana, em agendas que devem ocorrer às quintas e sextas-feiras.

Nesta sexta, Lula desembarca em São Paulo. No território do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), potencial adversário em 2026, Lula protagonizará um ato em Osasco, de anúncio de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para urbanização de favelas.

Na semana passada, ele cumpriu o objetivo. Em Goiânia (GO), reduto do governador Ronaldo Caiado (União), outro presidenciável, Lula cobrou apoio à esquerda no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). No mesmo dia, teve agenda em Juazeiro, na Bahia, ao lado do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Na sexta, anunciou mais recursos para as obras da Transnordestina, no Ceará.

Aliado de primeira hora de Lula, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) afirma que a luta política do século XXI deve ser uma “combinação de redes, território e rua”, ou seja, de “batalha digital com trabalho territorial de base e mobilizações de rua”. Ativista social que ascendeu na política como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ele sustenta que o fato das redes sociais terem ganhado uma força na luta política não tira o papel das mobilizações populares, de ambos os lados, da direita e da esquerda.

De fato, após a decisão do ministro Alexandre de Moraes do STF de colocar a tornozeleira eletrônica em Bolsonaro, o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), foi às redes exortar os apoiadores do ex-presidente a saírem às ruas para protestar. Por enquanto, nenhuma dessas manifestações mostrou-se expressiva, mas novos atos serão convocados.

Nos últimos dois meses, esquerda e direita vêm travando batalhas nas ruas. O ato convocado por Bolsonaro pela anistia, no dia 29 de junho, na Avenida Paulista, reuniu um público menos expressivo que os anteriores, cerca de 12 mil pessoas, segundo o “Monitor do debate político” do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Já a manifestação convocada pela esquerda, tendo como bandeiras o fim da jornada 6 x 1, fim dos supersalários e justiça tributária, inicialmente desacreditada, surpreendeu ao reunir mais de 15 mil pessoas, segundo o mesmo Cebrap.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.