Valor Econômico
Governo Trump tem mais margem de manobra
agora, mas os europeus já garantiram acesso melhor
Os EUA nos últimos governos sempre tem
tentado garantir o acesso sem restrições e de preferência somente para eles a
minerais críticos brasileiros. São minerais essenciais para muitas tecnologias
modernas e para a segurança nacional e econômica.
O apetite dos EUA por minerais estratégicos
do Brasil já foi manifestado no primeiro mandato de Donald Trump (janeiro
2017-janeiro 2021), mas negociações não prosperaram. A demanda continuou no
governo do democrata Joe Biden, sem resultado.
A ameaça de sanção agora por Trump envolvendo tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pode acelerar negociação mais concreta nessa área sensível, a margem de manobra de Washington é bem maior, mas a exclusividade exigida pelos EUA parece não ter como ser obtida.
É que um dos pontos do acordo comercial entre
o Mercosul e a União Europeia (UE) é precisamente sobre melhor acesso europeu a
minerais críticos no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
O pacote fechado em Montevideu, em dezembro
de 2024, estabelece que, uma vez o acordo em vigor, o Mercosul reduzirá ou
eliminará taxas de exportação, acabará com restrições na exportação e
monopólios. Para a UE, com as condições de tarifas que foram negociadas com o
Mercosul, poderá importar mais barato, significando custos reduzidos e maior
competitividade para o bloco.
Deu seu lado, o Itamaraty observou que no
acordo com a UE o Brasil garantiu o direito de aplicar restrição às exportações
de minerais críticos se julgar apropriado, por exemplo, para estimular a
agregação de valor no país. Mas confirmou na ocasião que, se adotar imposto de
exportação a esses produtos (o que não é o caso hoje), a alíquota aplicável à
UE deverá ser mais baixa do que a incidente sobre outros países, não podendo
ultrapassar 25%.
Conforme o Itamaraty, o pré-acordo
UE-Mercosul, adotado em 2019 no governo Bolsonaro, proibia qualquer incidência
de direito às exportações no comércio entre Brasil e UE.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von
der Leyen, destacou em Montevideu que o entendimento permitirá à UE
diversificar abastecimentos e escapar a dependências excessivas. E que ‘tanto
para as importações como para as exportações, o acordo reforçará a
competitividade da Europa em todos os domínios’. Ela apontou mais oportunidades
de investimento. As empresas da UE terão o direito de se estabelecer e não
sofrerão discriminação para investir nas indústrias do Mercosul. O acordo
facilitará o investimento europeu no desenvolvimento de indústrias locais para
processar minerais críticos.
A Alemanha, a maior economia europeia, e o
Brasil tem discutido bilateralmente já há algum tempo um novo modelo para
parceria global, com empresas e produtos para atender as demandas mundiais e
não apenas para atender os dois países, como bastante foco em minérios
estratégicos.
Nesse cenário, os EUA ficaram atrás na
corrida por minerais estratégicos brasileiros. No final do governo Biden, a
então embaixadora americana no Brasil, Elizabeth Bagley, declarou que os EUA
pretendiam comprar minerais críticos do país, deflagrando sinal de alerta em
círculos do governo em Brasília.
A fala foi na ocasião vista como nada trivial
e do tipo ‘queremos minerais críticos’, ou seja, ter simplesmente o acesso. Já
o objetivo destacado em Brasília tem sido na outra direção, de estimular o
processamento e agregação de valor dessas commodities no país.
No atual governo Trump, depois das primeiras
turbulências tarifárias, uma delegação de representantes do governo e do setor
privado brasileiro foi em maio a Washington para discutir uma agenda de
cooperação, que poderia incluir minerais.
Na ocasião, a secretária de Comércio Exterior
do MDIC, Tatiana Prazeres, como publicamos, apontou a importância na agenda
para cooperação em ‘minerais críticos nas condições corretas’. Ou seja, ‘não é
qualquer tipo de cooperação que nos interessa. É importante valorizar a
capacidade de processamento no país, o que não é incompatível com os americanos
em fornecimento confiável’.
O Brasil é o maior produtor mundial de
nióbio, com 82% da extração. O produto serve para aplicação em alta tecnologia.
A UE destaca commodities estratégicas que o Brasil tem e a participação delas
no abastecimento europeu:
PRODUTO - % global do Brasil
- % no suprimento da UE – Utilização
Alumínio/Bauxita – 10,4% de extração - 12% -
produção de alumínio
Grafite natural - 7,5% da extração - 13% -
Baterias e refratários para a produção de aço.
Niobio - 88,8% do processamento – 82% - Aço
de alta resistência e superligas para transporte e infraestrutura; Aplicações
de alta tecnologia (capacitores, ímãs supercondutores, etc.)
Manganês - 6,1% de extração - 8% - produção
de aço e baterias
Metal de silício - 7,2% do processamento – 9%
- Semicondutores, fotovoltaicos, componentes eletrônicos e silicones.
Vanádio - 4,8% de processamento - 7% - Ligas
de baixa resistência e alta resistência
Tântalo - 15,9% de extração. – 16% -
Capacitores para dispositivos eletrônicos e superligas.
ARGENTINA
Litio. – 11% de processamento – 6% -
baterias, vidro e cerâmica, e metalurgia do aço e do alumínio.
Fonte: Comissão Europeia, 2024
Sem surpresa, a intensificação da rivalidade
geopolítica entre os Estados Unidos e a China transborda para o campo dos
minerais essenciais, e eleva as pressões sobre produtores como o Brasil, como
já escrevemos.
Minerais críticos como terras raras, lítio,
cobalto e nióbio são essenciais para as transições digital e verde e garantir
suprimento que assegure ambições economicas e ambientais de certos países.
A China, com enormes reservas, domina
atualmente o processamento global de minerais essenciais muito procurados para
a fabricação de baterias para veículos elétricos e armazenamento de energia
renovável. De seu lado, os EUA negociam acordos com mais países para expandir
seu acesso a esses minerais importantes.
Com produção nacional limitada, tanto os EUA
como a Europa dependem muito das importações, incluindo da China, fornecedora
de commodities como grafite, elementos de terras raras e outros minerais para
baterias, e da Rússia, que fornece alumínio, níquel e titânio.
O governo Trump é particularmente agressivo
para garantir acesso a minerais estratégicos. Basta ver como agiu com a
combalida Ucrânia.
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