O Povo (CE)
A indiferença deste anarcocapitalismo com a
pobreza se materializa pela proliferação de mentiras na política. Ela coloca em
evidência um assunto fundamental: a ambivalência da natureza moral do Humano.
Ele tem vocação para o bem? Ou para o mal?
A marca central do capitalismo ocidental é o
crescimento da desigualdade social em paralelo à concentração de riquezas,
gerando forte injustiça social. Joe Biden dedicou
seu último discurso como presidente para alertar sobre o surgimento desta
oligarquia antidemocrática dos muito ricos. Este alerta se evidencia com as
práticas autoritárias de Donald
Trump.
A indiferença deste anarcocapitalismo com a pobreza se materializa pela proliferação de mentiras na política. Ela coloca em evidência um assunto fundamental: a ambivalência da natureza moral do Humano. Ele tem vocação para o bem? Ou para o mal? A resposta invoca duas tendências diferentes de filosofia ocidental e que influíram no processo de institucionalização dos sistemas sociais modernos: uma idealista, outra, materialista.
No Ocidente, dominou, inicialmente, a
articulação judaico-cristã da moral com o transcendental, fundando certo salvacionismo
teleológico. Santo Agostinho, Rousseau e Kant, entre outros, eram simpatizantes
da ideia do Homem como ser naturalmente bondoso.
A outra tendência, mais recente é a da
filosofia utilitarista e individualista que vicejou a partir do mercantilismo
inglês, desde o século XVIII. Sua essência foi descrita por J.S.Mill, como
sendo aquela de maximizar o prazer e minimizar a dor, ou maximizar os ganhos e
minimizar as perdas. Ela estimulou a cobiça cínica de colonizadores,
industrialistas e financistas no momento presente.
A banalização da mística contribuiu para a
degradação da representação do Humano. As consequências podem ser vistas pela
presença de tendências políticas reacionárias que desacreditam no bem
comum universal como prova de fé. Até parte das tradições religiosas cristãs
atuais são influenciadas por ela, estimulando a crença cega nos ganhos
materiais e comprovando a hegemonia do utilitarismo individualista.
Felizmente, a crítica moderna - que se
efetivou por tendências como aquelas da fenomenologia, da
psicanálise, do feminismo e do ecologismo -, ajuda a balancear estas duas
tendências filosóficas em disputa, no Ocidente. Ela sugere compreensões mais
pragmáticas e justas da vida, mediante reflexões que liberam a imaginação
criativa na relação com o bem comum.
*Professor da UFPE
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