O Estado de S. Paulo
O ritmo se acelerou. Havia um calendário –
digamos assim – para a condenação de Jair Bolsonaro. Até certa previsibilidade.
Calendário informal público; que estava plantado na imprensa e pacificado no
debate, assentado também nos cálculos para projeção eleitoral: o expresidente
seria julgado entre setembro e outubro de 2025. E de repente essa aceleração,
materializada nas medidas cautelares determinadas contra ele.
Impossível não considerar – como elemento deflagrador das restrições – o que terá havido de novidade desde a semana passada: a crescente carga de Trump, instrumentalizando o poder comercial dos EUA, afinal contra a economia do Brasil; o que Lula chamou de “chantagem inaceitável em forma de ameaça às instituições brasileiras”. Crescente carga de Trump – incentivada pelos Bolsonaro, em prol de Bolsonaro.
Na prática: contra Bolsonaro. Os
bolsonaristas miraram punições individuais a ministros do Supremo; colheram
potencial prejuízo ao Brasil – e uma tornozeleira eletrônica no líder.
Relação de causalidade. Na quinta, o
presidente dos EUA divulgou carta a Bolsonaro em que vai reafirmada, em termos
ainda mais explícitos, a fundamentação política do tarifaço. Reafirmado o
objeto da sanção – da chantagem. Os imprevisíveis são previsíveis. Impossível
não considerar – como elemento decisivo às cautelares contra Bolsonaro – o que
seria uma resposta do Estado brasileiro, na sexta, ao programa de intimidação
de Trump.
Alexandre de Moraes não recuará. Acelera. É
como reage. E encaixou, no conjunto de restrições ao ex-presidente, o extremo
de proibir o uso de redes sociais – o que significa tirar do sujeito a palavra
em arena pública. Grave. Nenhuma novidade. Em nome da democracia, há censura –
prévia – no Brasil. Os imprevisíveis são previsíveis. Há censura. Não há
santos. Fala-se em possibilidade de fuga. De obstrução da Justiça. De coação no
curso do processo. Seriam as explicações formais para o pacote xandônico de medidas.
Tudo é crível. Bolsonaro se mexe. O filho não está nos EUA sem financiamento.
Tudo agravado – todos esses riscos avolumados – pela sucessão recente de
manifestações contra a soberania nacional.
Manifestações que têm musculatura projetada
em sanção econômica contra o Brasil – que, se confirmada, abalará produção e
emprego entre nós. Manifestações de Trump, estimuladas pelos Bolsonaro – em
prol de Bolsonaro. Contra Bolsonaro, na prática. Manifestações de Trump,
estimuladas pelos Bolsonaro – em prol dos Bolsonaro e contra os interesses do
País.
Relação de causalidade. Ante as providências
de Moraes, acelerará também – ainda mais – Trump? A que custo para nós?
O custo para Bolsonaro: não levaria doravante
uma tornozeleira eletrônica não fossem as gestões do ídolo. A chance de prisão
preventiva, que antes não se avistava, agora desponta no horizonte.
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