sexta-feira, 25 de julho de 2025

A Riviera de Netanyahu - Bernardo Mello Franco

O Globo

Enquanto palestinos passam fome, integrantes do governo de Israel fazem planos para anexar enclave, expulsar população local e faturar com turismo e consumo de luxo

Muhammad Zakariya Ayyoub al-Matouq tem um ano e meio e pesa apenas seis quilos. É uma das centenas de milhares de crianças que sofrem de desnutrição em Gaza. Em pele e osso, o menino foi fotografado no colo da mãe num campo de refugiados. O retrato correu o mundo como novo símbolo da fome no enclave controlado por Israel.

Na quarta-feira, 115 organizações de ajuda humanitária divulgaram um apelo por socorro. O texto descreve um cenário de “caos, fome e morte” e pede o fim dos bloqueios militares que restringem a entrada de águia, comida e medicamentos. “Enquanto o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários agora se juntam às mesmas filas de alimentos”, afirma.

Questionado sobre o documento, o gabinete de Benjamin Netanyahu voltou a se eximir de responsabilidade. “Hoje não existe fome causada por Israel em Gaza”, declarou o porta-voz David Mencer.

A ofensiva militar começou como represália aos ataques terroristas do Hamas que mataram 1.200 israelenses em 2023. Em um ano e nove meses, as tropas de Netanyahu mataram quase 60.000 palestinos — 50 para cada vítima dos atentados de 7 de outubro — e não cumpriram a promessa de libertar todos os reféns. Agora aliados do premiê fazem planos para varrer a população de Gaza e lucrar com a terra arrasada.

Na terça, representantes do governo israelense foram ao Parlamento discutir um projeto para anexar a região, expulsar os palestinos e erguer novas cidades dedicadas ao turismo e ao consumo de luxo. O encontro “A Riviera em Gaza: da ideia à realidade” reuniu autoridades como o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich. O jornal britânico The Guardian revelou trechos do plano, que trata a ocupação como “direito histórico” e promete turbinar a economia de Israel.

A limpeza étnica nunca pareceu um negócio tão lucrativo. Empolgada, a ministra da Ciência e Tecnologia, Gila Gamliel, divulgou um vídeo feito com inteligência artificial em que os escombros de Gaza dão lugar a arranha-céus espelhados, ao estilo Balneário Camboriú. Na simulação, uma torre à beira-mar exibe o nome de Trump em letras douradas. Faltou explicar se o presidente dos EUA seria só homenageado ou também levaria a sua parte.

 

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