O Estado de S. Paulo
Como investimentos e acertos nos negócios têm
de ser feitos a partir de certas apostas, a hora é de perguntar como fica a
economia, levando-se em conta que as ameaças do tarifaço de 50% devem se
cumprir.
A primeira consequência será o impacto sobre o crescimento econômico. Antes do anúncio do tarifaço, as projeções eram de um avanço do PIB do Brasil de 2,2%. As exportações para os Estados Unidos giram em torno dos 2% do PIB. Como começam apenas em agosto, as perdas para este ano não devem ser superiores a 0,5 ponto porcentual, já levando-se em conta que a maioria dos exportadores prejudicados terá diversificado seus fornecimentos para outros países ou para o mercado interno. O PIB mundial também pode ser beneficiado com o acerto comercial dos Estados Unidos com o Japão e, possivelmente, com a União Europeia. Ou seja, parte das enormes incertezas globais que pairam sobre a economia pode ser dissipada. Isso significa que será preciso revisar as projeções do PIB para alguma coisa abaixo dos 2% neste ano.
Na área da inflação, as avaliações parecem
mais otimistas. Boa parte da produção que não poderá ser despachada para os
Estados Unidos acabará escoada aqui dentro. Por aí, espera-se certo recuo nos
preços dos alimentos, especialmente do café, carne, ovo e certos pescados.
É preciso conferir também o que acontecerá
com o câmbio. A tendência é a de que o dólar continue perdendo valor em relação
às outras moedas, inclusive em relação ao real (veja o gráfico). É consequência
não apenas de certa rejeição global ao dólar, a partir da deterioração fiscal
nos Estados Unidos, mas também pela própria política do presidente Trump, que
vem favorecendo certa desvalorização do dólar, com objetivo de aumentar as
exportações do made in USA.
A queda das cotações do dólar em reais também
ajuda a conter a inflação do Brasil. Esses fatores juntos não devem ser
suficientes para empurrar a inflação para a meta, que é de 3% em 12 meses, com
1,5 ponto porcentual de tolerância (o que dá o teto de 4,5%), mas poderão
segurar nova esticada.
Nada disso atuará para redução dos juros
básicos (Selic) ainda neste ano. Deverão continuar à altura dos 15% ao ano, nas
reuniões do Copom previstas para 30 de julho, 17 de setembro, 5 de novembro e
10 de dezembro.
Enfim, a aposta principal para a tomada de
decisões da vida econômica é a de que o tarifaço terá lá seu impacto – mais
duro para os setores mais atingidos –, mas não a ponto de desarrumar ainda mais
a economia.
O problema é que nada garante que tudo irá
parar por aí, porque o chefão dos Estados Unidos sempre poderá achar algum pelo
em ovo para voltar a castigar a economia brasileira.
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