Valor Econômico
Marcar posição defendendo limites a um
impopular aumento da carga tributária era tudo o que as legendas de centro e
direita queriam
A turbulência institucional provocada pelo
impasse envolvendo o decreto que elevava o Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF) tem trilha sonora. É “Me dê motivo”, clássico da MPB consagrado na voz de
Tim Maia e transformado em música de fundo pelo Centrão para colocar um pé fora
da canoa do governo Lula.
Marcar posição defendendo limites a um impopular aumento da carga tributária, mas sem necessariamente deixar de imediato os cargos que ocupam na máquina pública federal, era tudo o que as legendas de centro e direita queriam neste momento em que piscam para os pré-candidatos de oposição.
Em pesquisa da Quaest divulgada em junho, 50%
dos entrevistados consideravam que o governo federal estava errando em aumentar
o IOF para a compra de dólares e 41% haviam considerado correta a decisão de
recuar dessa elevação. Segundo essa sondagem, a desaprovação do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) era de 57%, ante 40% de aprovação. Pela primeira vez
o governo enfrentava mais dificuldades entre católicos e a parcela da população
menos escolarizada. Mais brasileiros consideravam que Lula estava exagerando
nas propostas de aumento de impostos do que aqueles que acreditavam estar
presenciando a atuação de um gestor em busca de justiça tributária.
Nas últimas semanas, esse sentimento também
pôde ser percebido na pele por deputados e senadores, quando eles retornaram
para as suas bases. Muitas pessoas podem não saber exatamente o que se decidiu
sobre o IOF, mas outras muitas sabem que este é um imposto capaz de afetar suas
vidas tanto na pessoa física como na pessoa jurídica. Talvez seja esse um dos
fatores que levaram até mesmo aliados tradicionais do PT a votarem pela
derrubada do decreto do IOF.
Contudo, persistem as dúvidas no Executivo.
Em recente entrevista ao Valor,
o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não recebera explicação
alguma do Congresso para a decisão de revogar o decreto. E argumentou que o
recurso do governo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ressuscitá-lo não
deveria ser visto como um rompimento com o Poder Legislativo, mas sim a defesa
de uma prerrogativa do chefe do Poder Executivo.
É verdade que está em jogo o equilíbrio entre
os Poderes. O Congresso aproveita a oportunidade para tentar mais uma vez se
posicionar como a instituição capaz de ter a palavra final na República. Está
sendo assim nas discussões sobre a impositividade da execução das emendas
parlamentares ao Orçamento. Em outra frente, é crescente a intenção entre
líderes congressuais de que sejam apresentadas e aprovadas mais leis
autoaplicáveis, ou seja, que passem a valer a partir da sua sanção e que não
dependam de regulamentações adicionais de órgãos do Executivo.
O Supremo se debruçará sobre a discussão dos
limites do presidente da República no exercício de suas prerrogativas, assim
como sobre qual é o espaço que o Legislativo tem para sustá-las. Mas o
julgamento também é capaz de arrastar o STF para a crise, colocando o tribunal
no centro de uma disputa política que já ganha contornos eleitorais. De
qualquer forma, é certo que ele não explicará a origem dessa crise.
Na ala política, aliás, fontes tampouco
entenderam o que fez o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB),
deixar os festejos de São João de lado para fustigar o Palácio do Planalto com
a ajuda do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Porém, não
descartam que esse movimento realizado pela cúpula do Congresso seja de fato a
sinalização do iminente desembarque de grupos relevantes de União Brasil e PP,
que avançam a galope na formação de uma federação que estará na oposição na
eleição presidencial de 2026. Nesse contexto, inclusive, as alas governistas
desses partidos podem aproveitar para apresentar novas demandas ao Planalto até
que um desembarque total seja realizado.
Deve-se lembrar que o Republicanos do
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o MDB negociam uma outra
federação. Concluindo um acordo, os dois partidos também tendem a se afastar do
PT e da impopular receita de realizar um ajuste fiscal por meio da elevação da
arrecadação.
É a tal história de “Me dê motivo”. Dizem nos
bastidores do meio musical que Tim Maia encomendou na década de 1980 a Michael
Sullivan e seu parceiro, Paulo Massadas, um “hit” ao estilo do cantor e
compositor americano Barry White: uma música de traição. Há quem sustente que
após a gravação Tim Maia ainda brincou que, na verdade, o compositor era quem
havia sido traído pela mulher, mas ele que acabaria ganhando a fama.
Porém, a música não revela se houve de fato
adultério. Ela fala de quando a pessoa amada comete um erro tão grave que esta
falha é suficiente para destruir uma relação.
A ideia de Tim Maia era que no início da
faixa ele pudesse falar como se estivesse sussurrando ao ouvido de uma menina
para, então, soltar o vozeirão. Nesse trecho inicial, faz uma reflexão em que
conta a situação de quem vivia um amor, mas vê a outra parte colocar tudo a
perder. Em busca de uma justificativa para colocar um fim ao relacionamento e
decidido a se reerguer adiante, vem o refrão: “Me dê motivo para ir embora”.
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