O Estado de S. Paulo
A situação não deixa de ser paradoxal: um ex-presidente e um presidente em função agem como se fossem meros protagonistas partidários, não estadistas
Lula e Bolsonaro se amam e se odeiam, um não
podendo viver sem o outro. Se um falta por alguma razão, o outro o traz de
volta. Um vocifera contra o outro, mas a ausência para eles é insuportável. O
problema, porém, é que uma relação desse tipo, justificada no domínio privado,
cada um podendo fazer o que quiser com sua vida e amores, torna-se complicada
quando transplantada para o domínio público e, mais especificamente,
geopolítico. O palco internacional transformou-se numa expressão de nossos
embates internos, como se nele se decidisse o resultado das próximas eleições.
Relações externas nunca foram algo importante em contextos eleitorais, decidindo-se pelas mais distintas razões: econômicas, sociais, ideológicas, religiosas ou de costumes. Atualmente, no entanto, no cenário externo, cada um dos contendores encena suas próprias projeções internas de poder, em que os interesses do Brasil deixam de ter qualquer relevância. A situação não deixa de ser paradoxal, na medida em que um ex-presidente e um presidente em função agem como se fossem meros protagonistas partidários, não estadistas.
Bolsonaro, por meio de seu filho, que não
atua independentemente dopai, dedica-se a estabelecer, por razões jurídicas e
políticas, tarifas exorbitantes para as exportações brasileiras, inviabilizando
setores do agronegócio, da metalurgia, siderurgia e aviação, entre outros.
Conseguiram algo inédito, a saber, serem mais eficazes do que a diplomacia
brasileira, reduzida azero, ao preço de prejudicarem o País, tendo como único
objetivo salvar o ex-presidente da prisão, restabelecendo seus direitos
eleitorais. Note-se que não há nenhuma razão econômica para a punição tarifária
de Trump, apenas política.
O deputado Eduardo Bolsonaro age como se
agente exterior fosse, voltando-se contra o seu próprio país. Tem, inclusive, a
pretensão de se apresentar como único interlocutor para resolver problemas por
ele mesmo criados, como se nada coubesse fazer ao atual governo do que falar
com ele. Goste-se ou não da atual diplomacia lulista, ela é a única
representante nacional. Pior ainda, investiu contra o seu próprio campo
político, passando a criticar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas,
procurando, assim, alijá-lo das eleições do ano que vem. Ele e o seu pai
produzem a desordem, como se do caos viesse a redenção personificada por eles.
Do ponto de vista eleitoral, se antes Jair e
Eduardo Bolsonaro tinham projeções eleitorais, hoje elas são diminutas. A
inelegibilidade do ex-presidente só será referendada agora pelo Supremo, não
lhe restando nenhuma alternativa. Se esse era o projeto de seu filho nos EUA,
simplesmente esvaiu-se. O do deputado, o de ser herdeiro eleitoral do pai,
resulta somente num tiro no pé. Provavelmente, será condenado até o próximo
ano, tornando-se, então, inelegível. Da família, sendo essa a única ambição do
grupo, sobrará Michelle Bolsonaro, que está conseguindo formar um eleitorado
próprio. O governador Tarcísio foi pelo momento alijado, embora possa voltar a
ter protagonismo presidencial numa reaproximação sua com a direita não
bolsonarista.
Com tal postura, conseguiram ressuscitar o
presidente Lula, que vinha caindo sistematicamente nas pesquisas eleitorais. Um
presidente, aliás, que tampouco sabe representar o País, aliando-se ao que há
de pior nas relações internacionais, como Irã, Hamas, Hezbollah, Rússia,
Venezuela e Cuba, entre outros, ganha novamente protagonismo político,
apresentando-se como patriota e defensor da soberania nacional. Suponho que
tenha enviado aquele abraço a Bolsonaro, em sinal de afeto e reconhecimento. A
atração lulista por autocratas e ditadores é seu traço predominante
geopoliticamente, tudo fazendo para figurar como esquerdista, numa posição dita
terceiro-mundista. Note-se, contudo, que o governo russo é de extrema direita!
Lula tudo fez para contrariar o presidente
Trump, sem ter nenhuma força para isso, salvo a verborragia, cujo único efeito,
além de unir a esquerda nacional, é o de desfavorecer o País. No Brics, gosta
de aparecer como representante deste bloco econômico mediante pronunciamentos
políticos antiocidentais. Faz, contudo, o jogo da Rússia e o da China, servindo
aos seus interesses e não aos nossos. Não deixa de ser uma emulação do deputado
Eduardo Bolsonaro.
Enquanto isso, os outros países defendem os
seus próprios interesses, negociando com os EUA. A Indonésia já se acertou com
Trump, o Vietnã comunista também, a China segue pelo mesmo caminho, assim como
a União Europeia. O Brasil nada ganha graças à retórica esquerdista de seu
presidente. Lula se dá, inclusive, o luxo de inviabilizar laços diplomáticos
com a maior potência do planeta. Devido à sua inépcia e irresponsabilidade, é o
país mais tributado internacionalmente, sendo que as novas tarifas vão provavelmente
passar a vigorar em 1.º de agosto.
Lula depende cada vez mais eleitoralmente de
Bolsonaro e sua família. É a sua âncora!
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